Crítica
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Sinopse
Um grupo heterogêneo de parisienses embarca numa aventura diversa para tentar encontrar o par ideal.
Crítica
A Arte de Amar poderia muito bem ter sido intitulado como A Música do Amor, visto que são acordes e sinfonias que conduzem a linha narrativa desta comédia francesa. A teoria apresentada no início do filme, resumida a um personagem em um conto inicial, mas que se estende a todo o elenco, é que descobrimos o amor quando ouvimos uma música específica ao conhecer alguém. Porém, a maioria não consegue escutar direito o que acontece internamente.
A produção concebida por Emmanuel Mouret (também autor do script e ator do longa) apresenta diferentes histórias sobre amor e, principalmente, traição, algumas conectadas em menor grau. Em uma delas conhecemos o jovem casal formado por Vanessa (Elodie Navarre) e William (Gaspard Ulliel). Após anos juntos, ela decide ter uma experiência extraconjugal com um colega de trabalho (o próprio Mouret), mas pede permissão ao parceiro, que fica envolto em ciúmes e indecisão. Da mesma forma, o casal de meia-idade formado por Emmanuelle (Ariane Ascaride) e Paul (Philippe Magnan) passa por uma crise. Ela também quer ter relacionamentos fora do casamento e por isso decide deixar o marido. Já Achille (François Cluzet, visto recentemente em Intocáveis, 2011) se apaixona pela inconstante e neurótica vizinha (Frédérique Bel) que recém terminou um noivado e não sabe se deve ceder à tentação ou não. Porém, os dois melhores contos tem a mesma personagem, Isabelle (a excelente Julie Depardieu), uma mulher solitária que está sem sexo há um ano. No primeiro sua melhor amiga propõe que ela transe com seu marido, como um ato de caridade. No segundo (o mais longo e divertido de todos), ela reencontra a altruísta Amélie (Judith Godrèche) que não sabe como se livrar das investidas do melhor amigo Boris (Laurent Stocker). Amelie convence Isabelle a transar com Boris como se fosse ela, mas sem que o livreiro saiba. Para isso, é preciso que ambos se encontrem num quarto de hotel, com as luzes desligadas e sem poder pronunciar uma palavra.
Com um estilo de direção e roteiro que remete aos filmes de Woody Allen dos anos 1970 e 1980, as histórias, além de girarem em torno da infidelidade e da lealdade entre amigos e casais, retratam a classe média francesa de uma forma neurótica em relação ao amor, como o próprio cineasta americano tanto já realizou e ainda o faz em suas obras. Por isso mesmo os personagens criados por Emmanuel Mouret seguem a cartilha de Allen e complicam ainda mais o que já não é fácil, suas relações. Todos são covardes em aceitarem o que querem. Paradoxalmente, não sentem medo em expor o que pensam em discussões com os parceiros. Diálogos que deixam qualquer comédia romântica brasileira de chorar no cantinho. Por isso mesmo estes complexos arquétipos não hesitam em tentar algo diferente, que fuja de seus padrões, por mais estabelecidos e adequados que eles possam parecer.
Apesar da montagem ser um pouco inadequada e deixar espaço demais para algumas histórias em detrimentos das demais (a última tem mais de trinta minutos, enquanto uma outra tem apenas pouco mais de cinco), o roteiro recheado de personagens complexos e idiossincrasias tem um frescor que domina o interesse do espectador. Os capítulos são separados por claquetes com frases que remetem à literatura, como “sem perigo, o prazer é menos intenso” ou “os olhos nos levam para o amor, mas às vezes nos enganam”. A música clássica cumpre seu papel de ir além de uma simples trilha sonora para incorporar-se como um duplo do amor na tela. O grande mérito de A Arte de Amar é sua falta de pretensão. Ao jogar de forma inteligente estes pequenos e deliciosos causos de amor, não é difícil sair leve e com um sorriso no rosto ao fim da sessão. Nada que vá fazer o mundo parar de girar, apenas um doce divertimento. É inofensivo, como uma paixão fugaz.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Matheus Bonez | 7 |
Ailton Monteiro | 8 |
MÉDIA | 7.5 |
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