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Crítica


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Sinopse

Depois da morte do pai, a jovem Simone acredita que consegue se comunicar com ele por meio de uma figueira gigante. Portanto, passa a ser ainda mais importante lutar para impedir que a derrubem.

Crítica

É trágica a maneira como começa A Árvore: num primeiro momento, um casal conversa numa rede. Desde já, apesar da proximidade e das palavras que são proferidas, parece haver certo distanciamento entre eles. Já nessa primeira cena somos conduzidos ao não-lugar: aquele lugar não existe, aqueles personagens não existem, aquilo tudo faz parte de um momento de inadequação. Inadequação, eis a palavra chave em A Árvore. Em seguida, um acidente acaba levando o pai de Simone (Morgana Davies) à morte. A menina, que estava no carro, acompanha tudo. O carro bateu numa árvore localizada ao lado da casa onde o casal (da primeira cena) vive com os filhos, ao sul da Austrália. A viúva é Dawn (Charlotte Gainsbourg), francesa que decidiu rumar para o interior australiano com a família. Após a morte do marido, Dawn percebe que a filha apegou-se a árvore. Ela acredita que seu pai está lá, e crê em conversas com ele. Flutuando entre a teatralidade dos cenários e a vastidão que eles proporcionam (bem colocada pela fotografia), o filme nos posiciona diante de dois olhares: a tensão forjada, enraizada na presença física da árvore, que logo nos remete a um universo de fantasia, e a possibilidade de trazer realismo à fantasia, criando um jogo explícito do realismo-mágico.

Apesar da aparente evidência de outras temáticas (o fantástico), o filme de Julie Bertuccelli (seu segundo, o primeiro é Desde Que Otar Partiu, que também aborda a perda e a inadequação ao lugar-espaço) trata da condição humana a partir de uma perda familiar. Em forma e conteúdo, fica a dúvida perante as escolhas da diretora: o que é ideia factual no filme e o que são dados surreais que constituem a narrativa? O longa parece flertar com o fantástico aqui e aprofunda o drama no realismo ali. A árvore, que muito bem representa a vida, também é a natureza das coisas. E aí existem duas maneiras de olhar para ela: ou o espírito do pai está dentro dela (ou seria preso a ela?) ou os diversos acontecimentos (o galho que se parte e cai justamente sobre o quarto de Dawn, o caule que começa a provocar rachaduras na casa devido a sua aproximação) que se dão a sua volta são meras coincidências. A diretora parece nunca querer resolver estas questões, deixando a ideia em suspensão, o que acaba sendo bom para o filme. O que falta é precisão na personagem. Gainsbourg, em grande equilíbrio com sua persona, não escapa do maniqueísmo que o roteiro arquiteta para Dawn: é movida a expressões forçadas, gestos irrisórios advindos da mão pesada da direção de elenco. Aquilo que a priori enriqueceria a personagem, acaba por destruí-la.

A árvore (personagem) também é carregada de misticismo, mesmo que ele seja um misticismo latido, escarrado, sem qualquer sutileza ou encanto. Mas se “ser mística” é uma atividade condizente com a árvore, então porque precisamos vislumbrar, quase que a todo instante, a junção do Homem com a natureza? A redundância no argumento acaba tornando acrítico todo o olhar do filme. A menina Simone não consegue se desligar da árvore, pois crê que seu pai está preso dentro dela. Quando um novo affaire surge na vida de sua mãe e sugere que a árvore seja tombada, para evitar outros incidentes, Simone sobe até o topo, negando-se a abandoná-la.

Aí está a simbologia: a árvore, que não é somente a natureza, é o próprio pai da menina, tem vida dupla. A árvore é um símbolo ao mesmo tempo em que é um homem. Olhando de outra maneira, talvez a semiótica explique melhor: a árvore é tanto significante quanto significado. Daí a necessidade de Simone agarrar-se a ela com tamanha paixão. Paixão que, subordinados seu valores, não são meros esquemas do filme (Bertuccelli maneja bem o drama da menina) para simpatizar a personagem, são dados claros e necessários diante das circunstâncias. O que fica de A Árvore é o gosto meio amargo de uma história que, de longe parece promissora, mas de perto, analisada profundamente, não encontra sua própria potência. Parece incapaz de olhar adiante do óbvio, de criar um jogo de imagens para além das facilidades visuais (vastidão dos campos para contrastar com a pequenez dos personagens, é um exemplo). Não no bom sentido, tem uma estrutura um tanto caótica.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do RS. Edita o blog Tudo é Crítica (www.tudoecritica.com.br) e a Revista Aurora (www.grupodecinema.com).
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