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Sinopse

A Bachata do Biônico exibe uma visão crua do amor em uma cidade hostil do Caribe. Um romântico desesperado viciado em crack deve assumir o controle de sua vida se quiser se casar com a mulher que ama. Selecionado para o 34º Cine Ceará: Festival Ibero-americano de Cinema (2024).

Crítica

A bachata, ritmo musical originário da República Dominicana, tem o poder de envolver com sua melodia e expressividade corporal. Mas em A Bachata do Biônico, essa energia é transformada em algo sentimentalmente complexo. Esse mockumentary nos apresenta Biônico, homem com boas intenções, mas marcado por passado turbulento e luta constante contra o vício. Sua busca por redenção, e por amor perdido, não é apenas jornada pessoal, mas também retrato das falhas e desilusões de sistema que pouco lhe oferece. A cada tentativa de superação, nova queda surge, e a verdadeira vitória se revela não nos finais, mas nos processos e tropeços do caminho.

Dirigido por Yoel Morales, o trabalho é uma imersão em submundo cravado na crueza, onde a estética das câmeras trêmulas nos leva a cenário tão hostil quanto fascinante. Ao não se limitar a trama linear, o cineasta, com raízes na geração MTV, combina o caos da adicção, a escatologia, o amor e a violência de forma inusitada, em espécie de Trainspotting: Sem Limites (1996) do Caribe. Em seu olhar, a vida é uma sucessão de escolhas erradas e ilusões, onde os personagens acreditam que, com gestos simples, podem resolver os dilemas que enfrentam. Mas a realidade, bem, é muito mais dura.

As imagens são desafiadoras e, por vezes, perturbadoras. O diretor constrói atmosfera de decadência, onde a podridão das vivências se mistura com momentos de humor inesperados. O ator Manuel Raposo, no papel de Biônico, é quem dá corpo e alma a essa dicotomia, conduzindo a obra com intensidade que nunca soa forçada. Ele personifica homem cujos conflitos internos são palpáveis, e suas palavras não são ditas apenas para se encaixar na história, mas para desvelar ser humano em total confusão mental. Também merecem destaque os momentos cômicos, tão necessários para aliviar o peso do drama, entregues com precisão por Calvito, interpretado pelo estreante El Napo.

Porém, o cansaço é tema recorrente no filme. Biônico tenta, repete tentativas e se vê novamente confrontado com seus demônios. De certa forma, o espectador também sente esse desgaste. O ciclo de frustrações do protagonista torna-se espelho da própria estrutura narrativa do longa, e a pergunta que se levanta é: isso é escolha estilística ou possível excesso na validação de proposta?

A Bachata do Biônico não é título que se oferece facilmente a todos os públicos. Sua inspiração exige disposição para se perder nas loucuras e disfunções que o enredo impõe. No entanto, o que se pode afirmar com certeza é que a obra traz à tona retrato da América Latina sem filtros, excluindo a tentativa de suavizar as adversidades que milhões enfrentam. Embora a viagem seja, sem dúvida, estranha e desconcertante, a ousadia da aposta é, de certa forma, sua maior virtude.

Filme visto durante o 34º Cine Ceará: Festival Ibero-americano de Cinema (2024).

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]

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