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Sinopse

Melhores amigos desde sempre, Elle e Lee têm a inventiva ideia de gerenciar uma barraca do beijo durante um evento da escola. Para fazer da proposta um sucesso, a garota tenta convencer o galã Noah, seu crush e irmão mais velho de Lee, a participar da brincadeira. Ele se mostra irredutível, mas os dois acabam se aproximando como nunca, o que estremece a amizade de Elle e Lee.

Crítica

Há coisas que são datadas. No cinema, então, sempre há algum tema, um gênero ou algum clichê que nos faz lembrar de porque algumas coisas não funcionam mais com o passar dos anos. Comédias românticas, por exemplo. Cada década teve seus grandes nomes. Impossível deixar de lado Meg Ryan e Sandra Bullock nos anos 90 ou Kate Hudson na década passada. A mescla deste subgênero com o público adolescente também já rendeu clássicos do gênero, invariavelmente repetidos à exaustão, mas que, volta e meia, tinham sopros de criatividade ou talentos em ascensão envolvidos. 10 Coisas que eu Odeio em Você (1999), com Heath Ledger e Julia Stiles em início de carreira, é um bom exemplo disso. Porém, tudo passa e, quando há tentativas contemporâneas de reascender a paixão por esse tipo de produção, geralmente elas são malfadadas. Como é o caso deste A Barraca do Beijo.

O longa é estrelado por Joey King, colega da atriz e (hoje muito mais) cantora Selena Gomez na pré-adolescência. A garota vive Elle, uma jovem que nunca beijou ninguém e vive grudada no seu melhor amigo, Lee (Joel Courtney), com quem convive, literalmente, desde quando ambos eram bebês. O problema é que esta amizade tem vários acordos firmados há anos, sendo um deles a regra de que não é permitido se envolver romanticamente com parentes um do outro. É óbvio que Elle vai se apaixonar justamente por Noah (Jacob Elordi), irmão velho de Lee, romance que vai aflorar a partir da tal barraca do beijo do título e que vai transformar a comédia quase inofensiva num novelão mexicano sem sentido e com um conflito pífio.

O filme até que não começa mal. Há uma montagem bem divertida com o off de King, que conta sua vida desde pequena e como foi o começo da relação com Lee e Noah, intercalando momentos de brincadeira e irmandade com o fato da mãe de Elle ter tido uma doença durante seu crescimento, o que fez a garota ficar apenas com o pai após sua morte. Apesar do belo contraste de alegria e tristeza deste momento inicial,a questão da mãe nunca mais é mencionada, se tornando irrelevante para a trama e apenas um recurso barato do roteiro para que a empatia com a protagonista seja maior. Totalmente desnecessário, pois se algo se salva aqui (ao menos na primeira metade da trama) é a naturalidade da protagonista, por mais que em dados momentos o nível seja um pouco acima do necessário.

Não à toa, a garota brilha em cena. Os dois irmãos têm intérpretes tão expressivos quanto uma porta. Joel Courtney é um nerd com a cara clássica daqueles dos anos 1980, assim como Jacob Elordi é o estereótipo do loiro sarado pegador de meninas. A clássica história da Cinderela apaixonada pelo príncipe encantado. Quanto aos demais personagens e atores, é bom nem desperdiçar tempo falando. Tem clichês de filmes de escola atirados para todos os lados, seja do trio de patricinhas aos jogadores de futebol americano, os deslocados feinhos e gordinhos (porque isso sempre precisa ser realçado como algo negativo neste tipo datado de história). Por sorte não há um gay cheio de trejeitos ou um negro melhor amigo de alguém. Se o os produtores do longa não conhecem a palavra representatividade, ao menos nem se esforçaram em reforçar outros clichês de minorias. Talvez mais um dos poucos pontos favoráveis aqui.

Só que após uma passagem inicial na qual até se releva muito, quando o romance engata de vez, o roteiro assume uma problemática perturbadora: a de dois homens querendo (e conseguindo) controlar o destino da garota. Destino, leia-se aqui, o drama aborrescente de ser namorada do irmão do melhor amigo, sendo que os dois tem conflitos emocionais com os quais lidar. O pior é retratar a agressividade generalizada de Noah como algo natural, e não uma questão de tratamento psicológico. Desde o início, o rapaz coloca Elle em uma redoma de vidro, muito antes do namoro começar. Ele proíbe outros colegas da escola de darem em cima dela. Define para onde ela deve ir. Bate nos outros para salvar a pobre donzela indefesa. Sendo que, num pequeno ajuste de roteiro a cada situação daria pra entender que Elle não precisa e nem quer um macho alfa resolvendo seus conflitos.

Entre tantas passagens perturbadoras, uma comédia adolescente que não se define entre o humor ou o drama desnecessário, um enredo capenga recheado de questões que deixaram de ser moda há mais de 20 anos e um elenco que não sabe o que fazer graças a uma direção sem pulso, A Barraca do Beijo é tão esquecível quanto irritante. Pior: perigoso por vender ideias retrógradas de que uma garota precisa de um homem forte fisicamente (e descompensado psicologicamente) para se sentir segura. É como um filme da Disney potencializado, só que realizado em 2018. Não estamos mais nos anos 1950, não. Alguém faça o favor de avisar o pessoal da Netflix pra escolher melhor quem define os contratos de suas produções. Tem ficado difícil com bombas como esta.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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