Crítica
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Sinopse
O reino fica em festa depois do nascimento da princesa Aurora, filha dos reis Estevão e Leah. Mas, ninguém contava com a presença da tenebrosa Malévola, ela que profetiza a morte da herdeira aos 16 anos de idade.
Crítica
“Antes do pôr-do-sol, no seu décimo sexto aniversário, a princesa picará o dedo no fuso de uma roca e morrerá!”
A famosa frase de A Bela Adormecida, um dos maiores clássicos da Disney, pode até não soar tão ameaçadora fora de contexto. Porém, logo no início do filme, quando a vilã Malévola é apresentada e profere tais palavras, não há como ficar imune, mesmo que o longa já tenha sido revisto diversas vezes. Ainda mais em sua ambientação, o nascimento da pequena Aurora, a protagonista. Porém, este é apenas um dos aspectos que tornam a obra uma das maiores do gênero de todos os tempos. A mais que conhecida história é baseada na versão do francês Charles Perrault, apesar da mais famosa ser a dos Irmãos Grimm. É o básico: vítima da maldição de uma bruxa magoada por não ter sido convidada para seu batizado, a princesa Aurora é levada por três fadas para ser criada no bosque até seus 16 anos, idade em que, teoricamente, estará livre do encanto maligno. Se ela machucar o dedo na roca, cairá em sono profundo graças à solução criada por uma das fadas e só despertará com o beijo de um amor verdadeiro.
O estúdio conseguiu um grande feito: transformar o conto de fadas que, se adaptado fielmente, seria um curta-metragem, em um longa de 75 minutos. Tudo graças à inserção de diversos elementos, como o encontro inicial do casal principal enquanto Aurora nem sabe que é princesa e se apaixona por Phillipe (sem saber também que ele é o príncipe ao qual foi prometida quando nasceu), assim como o contexto da época (o acordo de núpcias entre os reis de diferentes reinos, típico da era medieval), o sequestro do príncipe e sua fuga para despertar a bela adormecida, entre outros tantos.
Na verdade, o que menos se vê no filme é Aurora, mesmo que ela seja a protagonista. Justamente por sua atuação, basicamente, consistir nascer, ser criada escondida, cair na maldição e dormir durante metade da história até ser despertada pelo seu amor. Porém, com uma relevância maior graças ao roteiro cinematográfico, pode-se acompanhar os belos traços da princesa (inspirados em Audrey Hepburn), talvez a mais bonita de todas da história da estúdio, aliado ao breve desenvolvimento de sua personalidade. Em A Bela Adormecida também há uma participação mais efetiva do príncipe, algo que não acontecia com outros clássicos anteriores do estúdio (Cinderela, 1950, e Branca de Neve e os Sete Anões, 1937), onde os consortes das protagonistas eram figuras quase nulas. Phillip tem mais elementos e cenas próprias, se encanta por Aurora, discute com seu pai, luta para se libertar e salvar seu amor. Um típico herói.
Ainda assim, quem mais chama a atenção na história são seus coadjuvantes e a antagonista. Malévola causa medo pela simples presença. É uma das maiores a história da Disney, sem sombra de dúvida. Sua capa escura cobrindo todo o corpo, os traços bem delineados de seu rosto maquiavélico, sua voz sensual e perigosa, os chifres que remetem à figura do demônio. Só por estes aspectos a vilã já denota o porquê de seu nome, mas ela consegue ser ainda pior com sua obsessão em matar a princesa, seu tom imperativo, sua magia verde (como se fosse uma doença), sua transformação em dragão. Quem apazigua tanta vilania são as queridas e engraçadas fadas Flora, Fauna e Primavera. Esta última, por sinal, gordinha e estourada, rouba a cena com suas falas irritadas e seu jeito rude que esconde o coração mole. São elas que conduzem a história e aparecem na maior parte do filme, especialmente na hilária e desastrosa preparação da festa de aniversário de Aurora (até então chamada de Rosa), em que Flora e Primavera discutem e mudam a cor do vestido de rosa para azul a todo momento.
Porém, não é apenas pelo encanto da história que A Bela Adormecida é um dos clássicos maiores da Disney. As influências góticas e renascentistas na animação, além de se adaptarem perfeitamente à decadência da era medieval na qual se passa o filme, criam verdadeiros quadros impecáveis. Inclusive, em algumas cenas onde os personagens parecem congelados, é que esta percepção se torna ainda maior por parecer que obras de arte foram pintadas e colocadas na tela, aproveitando ao máximo a estreia do estúdio com uma animação em widescreen. A sequência em que a princesa é hipnotizada e obrigada por Malévola a subir as escadas do castelo ate picar o dedo na roca é bela e apavorante, tanto pela escuridão com que é retratada como por sua trilha de suspense que chega ao ápice quando a tragédia acontece.
Por sinal, aliada a tantos elementos, a trilha sonora inspirada no balé de Tchaikovski para o conto é um feito incrível (tanto que foi indicada ao Oscar da categoria na época). Uma de suas composições se transformou na eterna canção “Once Upon a Dream”, que retrata o amor romântico (e talvez único aspecto “envelhecido” do filme devido ao cinismo das paixões dos dias de hoje) de Aurora e Phillip. A Bela Adormecida pode soar piegas para alguns, recheado de clichês para outros, mas é difícil não se divertir e ficar comovido com a história. Afinal, como a própria Malévola fala em determinado momento: “o que são cem anos para quem ama de verdade?” Simplesmente belo.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Matheus Bonez | 9 |
Chico Fireman | 7 |
MÉDIA | 8 |
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