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Sinopse
Cathy se desentende com a chef de cozinha do restaurante onde trabalha e intempestivamente pede demissão. Em busca de um recomeço profissional, ela se vê assumindo a cozinha de um abrigo para menores imigrantes.
Crítica
Cathy (Audrey Lamy) é uma sous chef de fortes princípios. Pode parecer exagerada a sua reação negativa à intromissão da patroa na cozinha de um restaurante chique. Cathy simplesmente se recusa a trocar um ingrediente, depois disso pede demissão e mergulha num enorme dilema profissional. No entanto, a resposta acalorada e aparentemente intempestiva é motivada por dois elementos fundamentais, um sugerido e outro incógnito. O primeiro é: provavelmente isso foi a gota d’água, ou seja, o desmando da patroa conhecida pelo programa televisivo não deve ser isolado, mas um de vários; sobre o segundo saberemos apenas adiante, o fator atrelado ao valor simbólico daquele prato prestes a ser adulterado sem dó nem piedade. Em busca de uma nova colocação no mercado, ela aceita (após relutar) o comando da cozinha de um abrigo para menores imigrantes. A julgar por esse começo, A Brigada da Chefe tinha tudo para ser apenas um daqueles filmes em que alguém numa encruzilhada pessoal encontra motivações onde menos espera. Até porque Cathy é a típica personagem hesitante diante da novidade, situação que no futuro se revela um caminho de transformação. Todo esse arco dramático acontece, mas existem nuances e desvios providenciais que evitam a mera reprodução de um modelo desgastado. Muito longe de ser subversivo, ele também não é totalmente obediente ao padrão.
A produção guarda semelhanças com o também francês Entre Rosas (2021), comédia lançada recentemente no Brasil. Os dois longas-metragens bebem da mesma fonte – o modelo de alguém transformado por um grupo de pessoas colocadas à margem –, mas a abordagem e a perspectiva são completamente distintas. Enquanto na comédia a florista em crise tem atitudes questionáveis no trato com ex-condenados em busca de novas oportunidades, neste drama de temperos moderados Cathy rapidamente entende à qual realidade está servindo. Em Entre Rosas, tudo gira em torno de como as pessoas vistas com desconfiança pela sociedade ajudam a protagonista a ser um ser humano melhor. Em A Brigada da Chefe, Cathy é observada como parte de uma iniciativa de acolhimento e ações transformadoras, não mantida como o centro asfixiante das atenções. Mesmo que o filme flerte com a lógica de conto de fadas, especialmente pela oferta de soluções fáceis para problemas e obstáculos complexos, ele mantém sempre em foco essa conscientização coletiva. Cathy certamente tem a sua cota de ganho, mas também é diretamente responsável pela revolução num lugar que anteriormente já funcionava, mas sem tanta injeção de ânimo. Cathy dá e recebe de modo mais significativo do que a personagem principal de Entre Rosas, filme no qual a tarefa principal era salvar uma senhora prestes a falir.
A Brigada da Chefe – o título em português não faz muito sentido, pois Cathy é chef de cozinha e não chefe de alguma coisa – é uma iguaria agridoce com mais grãos de esperança do que notas de realidade. Há momentos em que devemos desativar a descrença para aceitar determinadas coisas, tais como a possibilidade de sustentar financeiramente essa revolução no abrigo com um orçamento de oito euros por morador. Esse tipo de desvio da realidade para elevar a força do otimismo é próprio dos contos de fadas, nos quais uma situação aterradora não resiste aos encantos da bondade e da necessidade de um encerramento feliz. Todavia, isso não quer dizer que estamos diante de um filme alienado, dos que se restringem a transformar dor em motivação. O cineasta Louis-Julien Petit traz a dureza da realidade para o jogo, quebrando esporadicamente essa trajetória ascendente rumo a um sucesso inevitável. Talvez o resultado fosse mais interessante se ele equilibrasse melhor os aspectos de fábula social e os da situação concreta de um país (a França) que lida muito mal com a imigração. Ainda que sinalize no seu encerramento de que nem todos obtiveram sucesso, o filme mantém a sua vocação pela positividade. A vitória de alguns dos alunos da antes relutante (agora super disponível) Cathy é situada no clímax como um prêmio enorme ao esforço de várias pessoas que estavam tentando.
Louis-Julien Petit perde oportunidades valiosas para expandir certos subtemas. Em dois instantes, adultos utilizam preceitos do educador brasileiro Paulo Freire para chegar aos alunos. Num deles, Cathy equivale as posições na cozinha às do futebol. No outro, Lorenzo (François Cluzet) adapta os números de equações matemáticas às medidas culinárias. Em ambos os casos, os professores agem para o conhecimento se aproximar da vivência e dos interesses dos alunos, tornando a sua transmissão menos vertical e instigando o gosto pelo saber. Eles chegam a uma educação transformadora. Esse dado poderia ser bem mais enfatizado, mas acaba sendo apenas a demonstração do método para atingir às mentes dos garotos ameaçados tanto pela imigração quanto pelo fantasma de um futuro obscuro na França. Entre adesões irrestritas ao modelo “pessoa aprendendo a ser melhor diante de uma dura realidade” e pequenos desvios, o cineasta ao menos mantém o interesse pela natureza cativante dos personagens. Ao entrar em seu terço final, o roteiro assinado por Louis-Julien Petit, Liza Benguigui e Sophie Bensadoun dá uma guinada abrupta demais. Ela ensaia somente premiar Cathy pela coragem de ir aonde ninguém queria. Felizmente, há uma correção de rota e o desfecho (ainda desajeitado) acaba sendo sobre jovens vulneráveis de outros países que encontram na gastronomia alternativas para sobreviver.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 6 |
Alysson Oliveira | 6 |
Celso Sabadin | 5 |
Bruno Carmelo | 5 |
MÉDIA | 5.5 |
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