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Sinopse

Imagens aterradoras são encontradas. Nelas, a viagem de três jovens a uma cidadezinha a fim de fazer um documentário sobre uma lenda urbana local. No processo de investigação, o mito parece mais real do que eles gostariam.

Crítica

Em outubro de 1994, três estudantes de cinema desapareceram na floresta perto de Burkittsville, Maryland, enquanto filmavam um documentário. Um ano depois o material foi encontrado

A Bruxa de Blair começa assim. A assustadora história de jovens que se perderam na mata ao buscarem a verdade por trás da lenda da bruxa do título pegou a todos de surpresa no apagar das luzes da década de 1990. Na época, o website oficial da produção incluía a lenda daquele ser maligno e informações a respeito das buscas daqueles estudantes, nunca encontrados. O que teria acontecido com Heather Donahue, Joshua Leonard e Michael C. Williams? As gravações eram pistas bastante importantes e, certamente, dariam algumas respostas acerca deste mistério. Editadas por Daniel Myrick e Eduardo Sánchez, as cenas renderam um filme que acabou sendo exibido com grande aclamação no Festival de Sundance em 1999. Durante o evento, cartazes espalhados clamavam por informações a respeito do sumiço dos cineastas de primeira viagem. Assustador, certamente. E tudo uma grande e elaborada mentira. Tudo para chamar atenção para um criativo e ousado longa-metragem de ficção.

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Produção de baixíssimo orçamento, sem estrela alguma no elenco, com diretores novatos e qualidade de filmagem muito aquém do esperado para um filme profissional, A Bruxa de Blair tinha tudo para acabar esquecido em uma prateleira empoeirada de locadora. As probabilidades até poderiam estar contra Daniel Myrick e Eduardo Sánchez, os realizadores dessa obra, mas eles tinham um plano tão diabolicamente ousado e inteligente que determinaria a bem afortunada passagem do seu filme nos cinemas. Tomando emprestada uma ideia utilizada anteriormente no clássico cult Holocausto Canibal (1980), a dupla de cineastas colocou três atores com talento para a improvisação em uma floresta e, em oito dias, capturou imagens que formariam um filme de ficção com toda a pinta de documentário, contando a assustadora e lendária maldição da Bruxa de Blair. O detalhe é que a lenda não existe, mas foi tão bem elaborada pelos cineastas que até o elenco comprou a veracidade da história, vivendo uma experiência bastante imersiva ao entrar de cabeça na trama deste sucesso retumbante lançado em 1999.

Com um roteiro de 35 páginas com a linha-mestre do filme pronto, era hora de buscar o elenco que pudesse interpretar e, principalmente, criar em cima dos cenários conduzidos pelos cineastas. Depois de testes com milhares de atores, a dupla chegou ao trio que vemos no filme. O elenco, então, aceitou passar por aqueles oito dias de filmagem sempre dentro dos personagens. Não bastasse isso, eles deveriam operar as câmeras – uma 16mm e outra de vídeo. Cada um ganhava instruções de como se portar via walkie talkies, com a equipe de produção sempre longe da vista dos atores. Tudo isso para manter aqueles três em um estado constante de imersão. O pavor do trio em diversos momentos é bastante real, por eles não saberem o que aconteceria. Myrick e Sánchez só avisavam os próximos passos quando necessário e costumavam deixar bilhetes nas roupas ou nas mochilas dos atores. Foi assim que um deles, por exemplo, descobriu que seria o primeiro a desaparecer da história.

Ao final das gravações, a dupla de cineastas contava com 90 horas de filmagem e pode dar sentido às cenas capturadas, trabalhando muito do que veríamos na pós-produção. Um exemplo disso são as brigas entre o trio. No filme finalizado, vemos uma ruptura grande entre Heather e Michael, com os dois discutindo diversas vezes durante a história. No material bruto, no entanto, Josh também se empunha fortemente contra os mandos e desmandos da amiga, com as diferenças sendo ainda maiores do que com o outro rapaz. Na hora de editar, Myrick e Sanchéz acharam que seria demais deixar dois homens contra aquela mulher e diminuíram drasticamente os momentos em que Josh se mostra contrário à Heather. Com isso, o sumiço de um dos personagens no final do segundo ato ganha ainda mais peso.

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Algo que chama a atenção é como o documentário que estava sendo produzido pelos personagens era pouco interessante. O filme dentro do filme, caso fosse lançado, teria pouquíssimas chances de se tornar algo no mínimo passível de assistir. Os textos que Heather declama para a câmera são risíveis, cheios de clichês, pouco imaginativos. O fato deles estarem atrás da lenda de uma bruxa não transformava automaticamente o material capturado em algo substancial. Isso não tira méritos de A Bruxa de Blair. Pelo contrário. Só mostra que aqueles estudantes de cinema estavam longe – muito longe – de serem os talentos que imaginavam. O trabalho dos câmeras também estava há milhas de distância do que poderíamos chamar de algo profissional.

Por mais capenga que algumas sequências possam parecer, o grande mérito de A Bruxa de Blair e dos cineastas Eduardo Sánchez e Daniel Myrick foi criar atmosfera de terror sem mostrar praticamente nada. Inteligentes como são, os diretores sabiam que nada do que mostrassem seria mais assustador do que a imaginação dos espectadores. Os bizarros acontecimentos que vão se dando com o passar do tempo, como estranhas esculturas aparecendo do nada, sussurros e gritos em meio à noite e barracas sacudindo misteriosamente, vão minando a coragem dos personagens e colocando o espectador naquela jornada junto dos protagonistas. No cinema de terror é muito importante se sentir parte integrante da experiência e isso é verdadeiro nesta longa-metragem.

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Ainda que tenha sido indicado ao Framboesa de Ouro de Pior Filme (e de Heather Donuhue ter “vencido” como Pior Atriz), um exagero sem igual dos organizadores do anti-Oscar, A Bruxa de Blair conquistou as plateias do mundo todo na época do seu lançamento e iniciou uma onda de cópias que até hoje é observada nos cinemas. Produções com “filmagens encontradas” se tornaram tão comuns quanto os slasher da década de 1980. Filmes como Atividade Paranormal (2007), Rec (2007), Cloverfield: Monstro (2008), O Último Exorcismo (2010), entre tantos outros, bebem diretamente na fonte deste trabalho corajoso e intenso, influente e bastante assustador.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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