Sinopse
O filho de Theo desaparece na iminência de completar 15 anos. Para completar, sua esposa manifesta o desejo de separar-se. Na jornada em busca do menino, Theo vai se redescobrir.
Crítica
Ele toca a campainha, e ninguém responde. Decide entrar, para se deparar em seguida com a mulher saindo do banho. Ou melhor, com a ex-mulher. Ela reclama dele ter entrado, ele se explica que ninguém o atendeu. Nenhum dos dois tem muita convicção em seus argumentos. Ele reclama que o filho faltou ao compromisso que tinham e por isso veio procurá-lo. Ele aponta a piscina, inacabada, mas afirma que no dia seguinte os pedreiros deverão aparecer. Ela pergunta porquê, afinal não irá morar mais ali por muito tempo. Ele quer a piscina pronta, “nem que seja para aumentar o valor de venda”, afirma. Ela balança a cabeça de um lado para outro. O garoto aparece, mudo, sem se desculpar. “E o intercâmbio, estou me esforçando para isso, esperei por você”, o pai questiona. O filho apenas levanta os ombros, sem se importar. Pai e mãe discutem, o filho se afasta. Decide abrir a cadeira embalada que chegou de presente. Quando o pai percebe o que o garoto faz, tem um surto – arranca a cadeira das mãos dele e a joga contra a parede, quebrando-a. A cadeira é do pai do pai. É presente do avô. Mas quem é esse avô?
Esta é a cena inicial de A Busca, trabalho de estreia na direção de Luciano Moura e que fora batizado inicialmente de, ironicamente, A Cadeira do Pai. Foi infeliz a troca de título – o original era mais inspirado e questionador. O atual é banal e óbvio. Algo que o filme se esforça o tempo todo em não ser. Mesmo que o seja por mais momentos do que deveria ser necessário. Wagner Moura, em mais um excelente desempenho, é o pai que está se esforçando para reunir a família que perdeu, em reconquistar a mulher que ainda ama, em alcançar o filho que já está longe. Distante emocional e fisicamente. Sim, porque na manhã seguinte à discussão, Pedro, o garoto, sai de casa dizendo que irá passar o final de semana com um amigo. Somente no outro dia – aniversário dele – é que os pais percebem que há algo errado. O filho fugiu de casa. Sem deixar recados. Para onde teria ido?
O leitor mais atento já deve ter imaginado, neste ponto da resenha, para onde Pedro fugiu. Assim como praticamente qualquer espectador na sala de cinema. Mas Luciano Moura e a roteirista Elena Soarez (responsável por textos de destaque, como Nome Próprio, 2007, e Xingu, 2012) preferem acreditar que o destino misterioso não está tão óbvio. E decidem começar um jogo de gato e rato, com o filho em fuga e o pai no seu encalço. O primeiro, nem um pouco experiente na matéria de desaparecimento, vai deixando rastros, pistas para o pai encontrá-lo. É quando descobrimos que o garoto primeiro vendeu o computador, depois adotou um cavalo, passou a noite de favor em uma favela, se misturou com outros jovens num festival de música no interior, e, por fim, seguiu rumo ao Espírito Santo. Quem mora no Espírito Santo? O espectador sabe, já foi dito no filme. E parece que só os pais é que não se deram conta ainda.
Estruturado de forma a parecer somente uma sucessão de episódios desconectados, A Busca tem como pontos fortes, além dos desempenhos dedicados do protagonista Wagner Moura e de Mariana Lima (a mãe), a bela fotografia, e edição econômica e precisa e a discreta e eficiente trilha sonora. São elementos isolados que criam a impressão de estarmos diante de um bom filme, mesmo que ele de fato não seja. Pois por mais que se goste do resultado final, o todo não consegue se sustentar diante de uma avaliação mais crítica.
Onde está o pai? Onde está o pai do pai? E onde está o filho do filho? Se buscam muitas respostas, mesmo que elas estejam escancaradas diante de nós. A água, presente e recorrente, tem a função não somente de limpar, mas também de recriar. Como a piscina, quando finalmente fica pronta, ou a travessia pelo rio de carona com a família flutuante, sempre de um lado para outro mesmo sem sair do lugar, ou o nascimento à beira do riacho. Uma nova chance é necessária, pois há espaço para rancor quando se está em família? Muitos poderiam afirmar que essa é uma discussão longa e dolorida. Mas em A Busca ele se resume a um reencontro. Os três novamente juntos, num mesmo quadro. É preciso ir além? Seria interessante se houvesse espaço para que participássemos dessa resposta. Mas nem tudo é como imaginamos – ou como gostaríamos.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 5 |
Francisco Carbone | 5 |
Ailton Monteiro | 4 |
MÉDIA | 4.7 |
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