Crítica
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Sinopse
Bella é uma cadelinha muito especial que vive com Lucas, um estudante de medicina veterinária que trabalha como voluntário em um hospital. Um dia ela é encontrada perdida pelo Controle de Animais e acaba sendo levada para um abrigo a muitos quilômetros de distância de seu dono. No entanto, é uma cachorra extremamente leal e corajosa, decide iniciar sozinha uma longa jornada de volta para a casa, emocionando a todos que cruzam o seu caminho.
Crítica
Há um dito em Hollywood, atribuído a Alfred Hitchcock – ou a qualquer outro cineasta de renome, dependendo da ocasião – que afirma que, para se ter um set de filmagens tranquilo, basta “evitar animais e crianças”. E até faz sentido, afinal, tanto um quanto outro são seres imprevisíveis, que não respondem com atenção às marcações do roteiro ou às orientações de um realizador interessado em aproveitá-los enquanto material de ficção. Mesmo assim, quando bem-sucedidos nessas empreitadas, o sucesso é praticamente garantido – basta lembrarmos de astros mirins, de Shirley Temple até Macaulay Culkin, ou de fenômenos caninos, como Lassie e Benji. A Caminho de Casa adoraria se incluir nessa última linhagem. Infelizmente, falta tanto talento ao ‘protagonista’ como segurança ao diretor Charles Martin Smith para obter o melhor do seu ‘elenco’ sem que outras distrações terminem por monopolizar as atenções.
Lucas (Jonah Hauer-King) é um jovem estudante que, ao tentar resgatar um grupo de gatos abandonados que vivem em um terreno baldio, acaba se deparando com a afável Bella, uma filhote que se supõe ser de pitbull, mas que parece mais uma legítima vira-lata. Ele acaba levando a pequena para casa, tanto por apreço como, também, para servir de consolo à mãe (Ashley Judd), uma veterana de guerra que carece de companhia na maior parte dos seus dias para superar o traumas que lhe assombram. No entanto, por um detalhe burocrático da administração municipal, a família é obrigada a se mudar para manter o animal – esta questão é um tanto nebulosa, além de mal explicada pela narrativa, pois serve apenas a dois propósitos: (1) conceber a existência de um vilão, no caso, o oficial da carrocinha, que parece ter como único objetivo na vida caçar todos os cães da cidade; e (2) criar as condições para o bicho se perder e, com isso, dar, enfim, início à trama. Afinal, como o título já adianta, o que importa aqui não é o que lhe acontece quando em segurança e, sim, os percalços que irá passar até estar novamente entre os seus.
Uma vez isso estabelecido, fica claro o desfecho que aguarda o espectador após quase 100 minutos de história. Se não há surpresa em sua conclusão, seria de bom tom, ao menos, aproveitar o passeio. Isso também se torna complicado, no entanto. E muito por causa da artificialidade das situações proporcionadas pelo roteiro de Cathryn Michon e W. Bruce Cameron, que por sua vez é baseado num livro de autoria do último. Cameron, aliás, deve se imaginar um expert no assunto – é dele também o recente Quatro Vidas de um Cachorro (2017) e a continuação Juntos para Sempre (2019), que está chegando aos cinemas quase que simultaneamente a esse A Caminho de Casa. Já de Charles Martin Smith, profissional que começou sua carreira por trás das câmeras com Bud: O Cão Amigo (1997), era de se esperar que tivesse mais familiaridade com o tema. No entanto, nem um, nem outro parecem saber muito bem o que querem com os elementos aqui reunidos.
Se por um lado o que vemos é uma narrativa notoriamente envelhecida, que faz uso de recursos um tanto ultrapassados, como a narração da protagonista (voz de Bryce Dallas Howard) servindo para antropomorfizar o animal, ainda que o mesmo pretexto inexista em relação aos outros bichos com quem ela acaba se relacionando, por outro lado há um subtexto político que por vezes se faz notar com mais urgência do que a própria trajetória que, supostamente, deveria estar em primeiro plano. Da primeira família que adota a cadela, todos envoltos com o trato de ex-militares, passando por um morador de rua e ex-combatente que encontra seu fim justamente por não encontrar espaço para si numa sociedade que não valorizaria seus esforços passados (participação constrangedora do grande Edward James Olmos), há ainda o emprego de outros clichês que mais perturbam do que agregam. Um bom exemplo é o casal gay que, a certo momento, chega a adotar a cadela: o relacionamento dos dois rapazes é tão falso e artificial que somente olhos pouco inquisidores não se sentirão incomodados diante um retrato propositalmente vazio.
Mas talvez nada seja pior em A Caminho de Casa do que o uso recorrente de uma animação digital pouco convincente para aumentar a sensação de perigo vivida pela protagonista. Entre o momento em que se perde e a chegada em casa, Bella passa um tempo perdida na mata, período em que acaba se apegando a um puma e tendo que fugir do ataque de lobos, entre outras passagens de maior ou menor tensão. Porém, se era para oferecer variedade à essa jornada, a falsidade de tudo que é exposto em tela termina por esvaziar todo e qualquer sentimento nesse sentido. O que resta é um filme que resvala na previsibilidade do início ao fim, além de abusar da melancolia e do drama barato para evocar emoções rasas em sua audiência. E se nada é verdadeiro, o discurso é o primeiro a perder relevância, seja ele pertinente ou não (o que, numa análise mais precisa, tende a ser justamente o caso).
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Realmente, o filme passa bem longe de ser classificado como bom. O que mais me incomodou foi a total ausência de passagens de Lucas durante o desaparecimento de Bella. Ele, simplesmente, sumiu na epopeia da cadela de volta para casa, pois o diretor esqueceu de retratar o sofrimento do tutor do animal. Mas, pelo menos, ainda dá para se emocionar no reencontro deles no final.