Crítica
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Sinopse
Alice é uma manicure em torno dos 40 anos e mora na periferia da cidade de São Paulo. Ao lado da família, tenta levar a vida do melhor jeito possível ao enfrentar os problemas do dia-a-dia.
Crítica
Nada de thrillers norte-americanos ou blockbusters pré-históricos. Um dos melhores filmes em cartaz nesta temporada de ressaca pós-Oscar é uma produção nacional: A Casa de Alice! Dirigido por Chico Teixeira, que antes só havia realizado documentários e aqui estreia na ficção, este filme recebeu algumas sessões de pré-estreia no início do ano e, agora, entra finalmente em cartaz. Um atraso que, infelizmente, vem se tornando cada vez mais corriqueiro, mas que não deve servir de desestímulo, pois poder conferir na tela grande uma obra tão singular quanto esta é um presente que não aparece a todo instante.
Premiado em festivais nacionais e internacionais, A Casa de Alice é um dos mais comoventes longas produzidos aqui no Brasil nos últimos tempos. Ele não tem, exatamente, uma trama definida: somos, na realidade, convidados a acompanhar o cotidiano de uma família de classe média baixa paulistana, durante os noventa minutos de projeção. Alice, a mãe, é manicure. O marido é taxista, e os três filhos são adolescentes – o mais velho, com 21 anos, está no quartel. Ainda com eles mora a avó, mãe de Alice e verdadeira dona do apartamento. O que se tem em cena são os pequenos conflitos do cotidiano, os embates que são perdoados em nome de uma convivência aparentemente pacífica, mas que vão se somando a ponto de um limite. Seja ele imaginário ou mais próximo da realidade do que gostaríamos de admitir. E, quando ele é suplantado, será na própria pele que cada um irá ter que enfrentar as conseqüências.
Se tudo parece aparentemente normal, aos poucos as revelações se fazem presentes – e surpreendentes. Temas como adultério, roubo, mentiras, prostituição, inseguranças, traições e outros pecados vão se acumulando em progressão geométrica, até o inevitável momento de ebulição. E preparem-se: a explosão irá abalar a todos, em ambos os lados da tela. No entanto, esse choque é mais um convite à realidade, uma pausa para reflexão que incita o debate e proporciona uma análise mais demorada sobre a condição social do brasileiro, seja em família ou enquanto indivíduo. Onde foram parar nossos sonhos, abafados por ônibus apertados, noites mal dormidas, esperas em longas filas no atendimento médico ou na busca por restos da feira? E como manter-se lúcido no meio de todo este desânimo, num caminho que parece não ter fim, sem luz no fim do túnel nem esperança de um amanhã melhor?
O grande trunfo de A Casa de Alice é a direção discreta do diretor, que soube conduzir sem autoritarismo sua história, dosando bem os espaços entre seus atores. E a escolha do elenco foi outro achado: o nome mais conhecido é o de Berta Zemel (Desmundo, 2002), como a avó, que está mais uma vez excelente. Mas surpresa mesmo é Carla Ribas, como a protagonista, um verdadeiro ganho para a dramaturgia nacional. Por este trabalho ela recebeu os prêmios de Melhor Atriz no Festival do Rio e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, além dos festivais de Miami e de Guadalajara! Ela alterna momentos de ingenuidade e esperança, tristeza e força, lucidez e imaginação. Sua Alice está pronta para entrar na galeria dos grandes personagens do cinema brasileiro, e você não pode perder a oportunidade de conferir esta elogiada atuação – e, de lambuja, ser confrontado por este belo, tocante e reflexivo filme. Dói, mas faz um bem incrível!
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 8 |
Francisco Carbone | 8 |
Bianca Zasso | 8 |
Chico Fireman | 6 |
MÉDIA | 7.5 |
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