A Casa do Medo: Incidente em Ghostland
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Pascal Laugier
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Ghostland
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2018
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França / Canadá
Crítica
Leitores
Sinopse
Pauline acaba de herdar uma casa de sua tia e decide morar lá com suas duas filhas. Mas, logo na primeira noite, o lugar é atacado por violentos invasores e ela terá que fazer de tudo para proteger as crianças. Dezesseis anos depois, as meninas, agora já crescidas, voltam para a casa e se deparam com coisas estranhas.
Crítica
A melhor tradução para “incidente” é “que incide, sobrevém, tem caráter acessório, secundário, incidental, superveniente”. Também pode ser entendido como sinônimo de “acontecimento, acidente, evento, ocorrência, circunstância”. Nada mais longe, portanto, do que acontece em A Casa do Medo: Incidente em Ghostland. Talvez seja por isso o acréscimo desse pré-título genérico, que já batizou diversas outras produções do gênero – literalmente, como A Casa do Medo (2015) ou A Casa do Medo (1989) – ou similares – como A Casa do Espanto (1985), A Casa do Horror (1985), Ghost House: A Casa do Horror (1988) ou A Casa dos Mortos (2015), entre tantos outros. E se concordamos que “incidente” é um tanto forçado – ou um paliativo sem a menor serventia – não seria mais apropriado um olhar atento ao tal de Ghostland, ou Terra de Fantasmas, em tradução direta? Pois basta estar ciente deste batismo para que a suposta surpresa do enredo se desfaça, afinal, é um dos maiores e mais óbvios spoilers da história cinematográfica recente.
No filme escrito e dirigido pelo francês Pascal Laugier – o mesmo de joias raras como Mártires (2008) eO Homem das Sombras (2012) – as protagonistas são Pauline (a cantora Mylène Farmer) e suas duas filhas, a expansiva Vera (Taylor Hickson, de Deadpool, 2016) e a introspectiva Beth (Emilia Jones, de No Topo do Poder, 2015), que se mudam para a velha casa de uma parente recém falecida. Exatamente no dia em que chegam, quando ainda estão com a porta da frente aberta para descarregar as coisas, uma van estaciona em frente. De lá sai um homem gigantesco, praticamente um ogro, que sem falar nem nada, invade o lugar e decide atacá-las até a morte. O ódio pelo simples fato de serem mulheres fica logo evidente. O objetivo dele é reduzi-las a nada, a ponto de transformá-las em bonecas inanimadas, que não apenas deixam de representar uma ameaça, como também se tornam algo com o que ele pode “brincar”. No seu encalço está um travesti de voz soturna que parece ser o único capaz de domá-lo: “melhor não resistir, assim ele acaba mais rápido”, alerta para uma das vítimas.
Mais de uma década se passa, e agora Beth (Crystal Reed, de Amor a Toda Prova, 2011) é uma bem-casada – com um marido amoroso e um filho pequeno – e bem-sucedida escritora de livros de terror, que está prestes a lançar seu mais aguardado volume, justamente aquele que narra o tal ‘incidente’ que teria lhe acontecido tanto tempo atrás. Ela, aparentemente, não apenas superou o ocorrido, como também fez da escrita uma terapia que a ajudou a enfrentar esses ‘fantasmas no armário’. Sua irmã, no entanto, vive situação oposta. O trauma daquela noite fatídica segue com ela até hoje, e apenas a mãe consegue mantê-la razoavelmente calma. Beth foi embora, construiu sua vida longe de tudo aquilo. As outras duas, no entanto, seguem presas no mesmo cenário da maior desgraça das suas vidas. Qual a razão de terem ficado para trás? Não saíram de lá por que não quiseram... ou simplesmente por que não lhes era permitido?
Bom, se já não ficou bastante óbvio o que está acontecendo – lembre-se, em uma ‘terra de fantasmas’, nem sempre se pode acreditar naquilo que se vê – assim que Beth retorna à casa materna para um reencontro familiar, tudo fica bastante claro. Não há mistério, nem suspense. A mesma noite passa a ser revivida vez após outra. Como se recuperar de um evento trágico, se o mesmo nunca chega ao fim? Esse parece ser o maior desafio da protagonista. No entanto, para o realizador, o que se percebe é apenas o uso desse fiapo de roteiro como meio para destilar toda a sua misoginia e preconceito. A Casa do Medo: Incidente em Ghostland nada mais é do que uma sessão de quase duas horas de tortura ininterrupta, com mulheres apanhando, sendo violentadas e sofrendo além da conta sem nenhuma razão aparente além do prazer sádico daqueles que as assistem. Para completar, os culpados por tamanha bestialidade são um deficiente mental e um transexual, duas minorias que merecem respeito e atenção, mas que aqui servem apenas como bode expiatório.
É visível a intenção do realizador em dotar seu filme de uma reviravolta ao melhor estilo M. Night Shyamalan. Laugier, no entanto, não possui nem competência para criar algo à altura daquele no qual se espelha, muito menos originalidade para pensar em algo diferente. A tal mudança de rumo que propõe é antecipada a quilômetros de distância, e nada parece ser mais óbvio do que aquilo que está tentando emular, evidentemente sem efeito. Sem provocar sustos nem medo, toda a emoção que consegue obter é a repulsa, seja pelas atrocidades que expõe em cena, seja pela ineficácia em se manter minimamente dentro dos padrões mais convencionais do gênero ao qual se dedica. Além disso, menospreza a perspicácia da audiência, fazendo questão em explicar didaticamente cada um dos seus passos, de forma expositiva e redundante. Enfim, um desastre descarrilhado que merece não apenas o desprezo, mas também o protesto e a rejeição.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 1 |
Yuri Correa | 7 |
Roberto Cunha | 9 |
Chico Fireman | 4 |
MÉDIA | 5.3 |
Discordo veementemente. É direito seu escrever. Todavia, que crítica é essa? Jesus. Não lembro de ter lido algo pior.
Claramente vc não é um crítico, muito menos um cinéfilo, no filme há grandes pontos a serem observados. porém deixarei pra outro momento, pois no se "texto" vejo apenas um pré conceito sobre não haver travestis psicopatas ou deficientes mentais cruéis, enfim logo voltarei
Surpreende-me não terem visto o verdadeiro plot twist do filme. Ao final ela ainda está em um sonho e há INÚMEROS pontos que corroboram com isso. - Ela dizer eu te amo para a irmã, criando uma nova narrativa onde ela a ama e não a odeia. (e não receber o eu te amo de volta) - O enfermeiro da ambulância dizer que ela ficaria "presa" com ele. NUNCA um profissional treinado para cuidar de feridos e vitimas de eventos traumáticos diria algo assim. NUNCA. Esse talvez seja o sinal mais claro de que ela ainda estava PRESA. - Ela estar conversando com homens, coisa que a irmã deixa claro que ela não fazia. - A máquina de escrever, mesmo arremessada pela janela, não quebrou. Logo era de ferro maciço. Ela, uma garota que não praticava esportes, nunca teria forças para usar como arma e muito menos arremessar pela janela TÃO LONGE. - Ela vê a mãe na janela, já morta. Mais um sinal de que ainda estava delirando. - Uma criança orfã nunca seria levada sozinha após um trauma para o hospital. Sem ferimentos graves, a assistência social teria sido solicitada para acompanhá-la. Ou seja, tudo fazia parte da história que ela estava construindo. - Há muitos outros pontos ainda. O filme todo, se novamente assistido, pode trazer detalhes nesse sentido. E por fim, tal qual "eu vejo gente morta" na fuça do Bruce Willis, Beth diz: "Eu sou muito boa em contar histórias" Ao menos para mim, já na primeira vez que vi, ficou bem evidente que ela ainda estava presa em uma realidade criada pela própria mente. A própria mãe diz na festa de gala que ela tinha um mundo perfeito dentro de um sonho perfeito. Tudo que ela fez foi criar uma realidade em sua mente menos utópica, plausível o suficiente para não ser mais quebrada pelas tentativas de resgate da irmã.
ainda bem que li essa crítica antes de ver o filme muito obrigada
Nunca vi uma crítica tão bestial desse Robledo...vai catar coquinho
Filme péssimo, sem pé nem cabeça, confuso e cheio de cortes de câmera, uma bagunça total, não dá medo, apenas repulsa e raiva... Não sei se é raiva do filme, da história fraca ou dos personagens horríveis... Desastre total!!!