Crítica
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Crítica
É no mínimo pertinente que o diretor francês Gilles Paquet-Brenner, após ter se envolvido com a adaptação de um romance de Gillian Flynn (Lugares Escuros, 2015), tenha decidido na sequência partir para a transposição para a tela grande de um clássico de Agatha Christie, esse A Casa Torta. Afinal, a autora de Garota Exemplar (2014) nada mais é do que uma versão genérica e contemporânea da grande mestra do suspense. Ainda assim, o mergulho mais profundo no gênero não parece ter funcionado à contento para o cineasta. Essa sua segunda experiência no formato nada mais é do que um thriller bastante convencional, que ao mesmo tempo em que se preocupa em desfilar uma série de nomes conhecidos no elenco, oferecendo a eles espaço mínimo para brilharem cada um do seu jeito, também se ocupa de esvaziar toda e qualquer tensão dramática da história, ficando aquém da genialidade que segue sendo possível de verificar apenas nas páginas literárias.
O protagonista de A Casa Torta é o jovem Charles Hayward (Max Irons), um investigador particular que é chamado por uma antiga namorada para descobrir quem teria assassinado o avô dela, o milionário grego Aristides Leonides. O crime teria acontecido no próprio lar da vítima – a casa torta do título, onde ele morava com toda a sua família. Trata-se de uma mansão dividida em três residências interligadas: a dele e da esposa, a muito mais jovem – e ex-dançarina de Las Vegas – Brenda (Christina Hendricks); a do filho mais velho, o intelectual Philip (Julian Sands), casado com a atriz Magda (Gillian Anderson) e pai de Josephine (Honor Kneafsey), Eustace (Preston Nyman) e Sophia (Stefanie Martini) – aquela responsável por ter chamado Charles; e, por fim, a do caçula, o temperamental Roger (Christian McKay), e a esposa, a cientista Clemency (Amanda Abbington). Ainda com eles, vive a tia-avó – e cunhada do falecido – Lady Edith de Haviland (Glenn Close).
Como é de praxe nos romances de Christie, logo se percebe que todos os personagens apresentados são possíveis culpados, e cada um com um motivo bastante particular. Philip cresceu se sentindo negligenciado pelo pai, Magda estava sempre às custas do sogro para financiar novas peças e filmes, Josephine era uma enxerida, Estace não gostava de ninguém e Sophia... bem, a grande revelação é que ela é a única herdeira da fortuna do avô. Roger, responsável por administrar a maior empresa da família, é tão incompetente que está levando-a à falência, enquanto que Clemency não suporta a intervenção dos outros familiares e tudo que deseja é se refugiar com o marido no lugar mais distante possível. Brenda, por sua vez, estava apaixonada pelo tutor dos sobrinhos, o instável Laurence Brown (John Heffernan). E Lady Edith... bom, basta dizer que a escolha da grande Glenn Close para o papel não é por acaso.
Aliás, esse parece ser o maior mérito da produção: a escolha dos seus intérpretes. Porém, também se percebe a ineficiência de Paquet-Brenner em tirar o melhor de quem estava ao seu redor. Close, por exemplo, acaba reduzida a uma figura excêntrica, guardando o melhor da sua performance para um ou outro momento de maior tensão – ao menos sua presença é justificada, portanto. Ao contrário de outros nomes de destaque, como as geralmente ótimas Gillian Anderson, que surge vez que outra apenas para declamar frases de efeito, e Christina Hendricks, mal aproveitada como a viúva sedutora e, talvez, inocente. Terence Stamp, como o inspetor Taverner, mal tem o que fazer. Enquanto isso, nada parece ser pior do que os esforços de Max Irons, que a cada expressão exagerada ou postura equivocada apenas reforça a impressão de que talento, definitivamente, não é algo que possa ser transmitido geneticamente (ele é filho do oscarizado Jeremy Irons).
Sem o mesmo glamour da recente versão de Assassinato no Expresso do Oriente (2017) – tanto que acabou inédito nos cinemas na maior parte do mundo, inclusive nos Estados Unidos e no Brasil, tendo sido lançado diretamente nas plataformas de streaming – esse A Casa Torta também pouco faz uso do simbolismo do título, muito melhor explorado pela autora original. E se no livro o verdadeiro culpado estava na frente de todos o tempo inteiro, ainda que sua revelação no final fosse impactante o suficiente para deixar qualquer um de queixo caído, aqui o processo se inverte, tornando a dissolução do mistério um processo anunciado com bastante antecedência. E ainda que o roteiro tenha caído nas mãos de ninguém menos do que Julian Fellowes – vencedor do Oscar por Assassinato em Gosford Park (2001) e do Emmy por Downton Abbey (2010-2015), duas produções que partiam de ambientações bastante semelhantes – é triste constatar o quanto, ao menos aqui, ele parece ter perdido a mão. Curioso, na melhor das hipóteses.
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