Crítica
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Sinopse
Em A Casa Verde, filme de Paulo Nascimento, um desenhista em crise criativa é pressionado a terminar a história em quadrinhos que está desenvolvendo. A ação avança quando um professor inventa um reciclador de lixo, contrariando os interesses do malvado da história, Jordão, que cobra pela coleta do lixo na cidade. O desenhista perde o controle da história e os personagens passam a agir por conta própria.
Crítica
Cinema infantil no Brasil é praticamente uma raridade. Excetuando-se as produções protagonizadas por Xuxa Meneghel e Renato Aragão no passado, é dificílimo encontrar algum filme voltado para as crianças que tenha sido produzido no país. Algumas poucas tentativas são feitas, mas nenhuma que consiga suprir a lacuna do gênero. O cineasta gaúcho Paulo Nascimento reparou esta ausência de produções que falassem com o público infantil e resolveu arregaçar as mangas e criar sua própria história. O resultado final não chega a empolgar, mas A Casa Verde é um louvável exercício, que tropeça na execução, mas que deixa uma mensagem ecologicamente correta para seu espectador alvo.
Na trama, escrita pelo próprio diretor, um escritor de histórias em quadrinhos (Nicola Siri) está com uma terrível crise criativa, não conseguindo escrever a história que concebeu. Os personagens de seu gibi acabam tomando a trama para si e a desenvolvendo, com todos os ônus e bônus desta empreitada. Vemos então o Professor (Lui Strassburger) criar um invento revolucionário para reciclar o lixo da cidade. A novidade é recebida com alegria pelos pupilos do Professor, em especial por Nerd 1 (Alice Nascimento), mas tem tudo para tirar o sono do vilão da história, Jordão (Zé Vitor Castiel), que tira o seu dinheiro da coleta de lixo. Para se vingar, ele e sua comparsa, Gigi (Ingra Liberato), raptam o Professor e prometem desintegrá-lo caso a máquina não seja destruída. Para salvar o seu mestre, Nerd 1 clama por sua amiga virtual, Eu (Fernanda Moro), e pelo heróico Leonardo Del Vinte (Leonardo Machado), para dar um jeito na situação.
Acertadamente, Paulo Nascimento dá um tom lúdico ao filme empregando a técnica de rotoscopia (que cobre a performance dos atores reais com desenhos, vista em filmes como Waking Life (2001) e O Homem Duplo (2006), de Richard Linklater) no momento em que a trama é voltada para os personagens da HQ. Com esta estética pendendo ao desenho animado, fica até mais fácil na hora de empregar os efeitos especiais que são necessários para contar a história em questão. No entanto, só esta técnica não salva o filme, que carecia de um maior cuidado tanto na concepção do roteiro quanto nas atuações.
Não é porque o filme é voltado para a criançada que são necessárias interpretações tão condescendentes do elenco. Imagine aqueles adultos que fazem caretas e falam como crianças em frente a bebês e é mais ou menos isso que você terá do elenco de A Casa Verde. Mesmo gente talentosa como Leonardo Machado, Marcos Verza, Lui Strassburger e Jeffersonn Silveira acabam soterrados por uma escolha pouco satisfatória na hora de encarar seus personagens. Zé Vitor Castiel se entrega a um vilão batido enquanto que Ingra Liberato tenta fazer rir como uma limitada ajudante. Já Fernanda Moro, a heroína da história, é bastante expressiva, mas carece maior trabalho vocal, sempre impostando demais a voz ao dar seu texto – problema que se repete no filme Em Teu Nome (2009), outra parceria entre atriz e diretor.
Além disso, falta aventura para manter a criançada interessada no filme e as inovações tecnológicas colocadas na telona poderiam ser refletidas no próprio roteiro, que carecia de maiores novidades para fugir do velho esquema: batido vilão com risada maligna contra os heróis bonzinhos e corretos.
Com seus prós e contras, A Casa Verde é um exercício. Falho, mas válido. Pode ser usado como um filme educativo, alertando a criançada para a coleta do lixo. A mensagem está lá em alto e bom som, com direito a texto final explicando alguns conceitos utilizados no filme. Seria mais efetivo caso trouxesse personagens cativantes, mas pode acabar funcionando em sessões para escolas no Rio Grande do Sul, que geralmente não tem oportunidade de levar seus alunos para assistirem histórias com sotaque gaúcho.
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