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Crítica


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28 votos 6.4

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Sinopse

Um grupo de jovens imprudentes acaba preso numa caverna misteriosa durante a sua exploração. Lá eles não tardam a descobrir que o tempo passa de maneira diferente.

Crítica

Se no Brasil esse longa independente e longe dos padrões hollywoodianos – custou cerca de US$ 1 milhão, menos do que muito dos títulos feitos por aqui – recebeu o batismo genérico de A Caverna (só do ano 2000 pra cá já tivemos A Caverna, 2005, estrelado por Lena Headey, e A Caverna, 2014, feito na Espanha, um Cave, 2016, norueguês, e um The Cave, 2019, tailandês – além, é claro, do documentário The Cave, 2019, indicado ao Oscar), no original ele se chama Time Trap, algo como ‘armadilha do tempo’. O que acaba soando melhor, por mais que maior parte da história se passe, de fato, dentro de uma cavidade rochosa. Mas o curioso é que ninguém parece interessado em entrar nela ou em descobrir o que lá dentro acontece: o grande mistério é encontrar um meio de sair de lá. Como uma furada da qual você não consegue se desvencilhar. Aliás, exatamente o tipo de sentimento que essa obra provoca no espectador.

Irmão mais velho – e menos conhecido – de Owen e Luke Wilson, Andrew Wilson é quem abre o filme no papel de um professor universitário que aproveita seus finais de semana explorando regiões próximas, como montanhas e matas locais. Sua falta de carisma e a rápida presença em cena comprovam o porquê dele ter conseguido a maior parte dos seus trabalhos atuando em produções estreladas pelos familiares mais célebres, como Nunca Fui Beijada (1999), As Panteras (2000), Os Excêntricos Tenenbaums (2001) ou Correndo Atrás de um Pai (2017). Se o espectador não se lembra dele, é porque em grande parte desses filmes ele interpretou personagens que nem nome tinham, sendo designados apenas como ‘Guarda Escolar’, ‘Motorista’, ‘Fazendeiro’ ou ‘Atendente do Hotel’ (respectivamente), por exemplo. E se aqui ele é, mesmo nessas condições, o nome mais famoso do elenco, isso é suficiente para que se tenha uma ideia do potencial do resto do grupo.

Quando num desses passeios ele acaba desaparecendo, alguns dos seus alunos decidem percorrer a mesma trilha por ele indicada, esperando encontrar qualquer sinal do que possa lhe ter acontecido. Não é surpresa para a audiência quando, em questão de segundos, se deparam com a mesma caverna onde o instrutor estava explorando. Ele, no entanto, quando esteve lá pela primeira vez, vislumbrou à distância um homem imóvel, quase como um manequim, em postura de combate, com trajes de guerra que, visto por olhos do século XXI, mais se assemelham a uma fantasia. Os jovens, por sua vez, acabam se deparando com figuras ainda mais estranhas, que vão desde seres semelhantes a animais – seriam uma coisa, outra ou nenhuma das duas? – a outros muito mais enigmáticos, próximos a alienígenas assépticos. Seriam apenas alucinações? Ou alguém estaria tentando pregar uma peça em todos eles?

Bom, nem isso, nem aquilo – ou talvez, tudo junto, se levarmos em conta que talvez o bobo nessa equação seja justamente aquele sentado no lado de cá da telinha. Afinal, sem avançar por demais nos spoilers, o que acontece é que, uma vez dentro da caverna, o indivíduo se veria sujeito a uma realidade em que o tempo passa em um ritmo diferente. Há uma deformação temporal naquele local – como teria surgido, o que a teria provocado e qual o seu efeito naqueles além dela não chega a ser desenvolvido – e, pelo jeito, isso deveria bastar. Uma vez lá dentro, tudo passa mais devagar. A questão é que a pessoa não sentiria essa diferença. Portanto, um minuto lá dentro pode significar muito mais para quem está do lado de fora. Mas não uma hora por um dia, por um mês ou mesmo por um ano. A medição equivalente se dá por séculos. E este elemento, que deveria fazer a diferença, acaba sendo mais um dentre tantos que são tratados se não com naturalidade pelos personagens, também não recebem o enfrentamento necessário diante da gravidade da revelação.

Hooper (Wilson) não estava vendo um homem parado – ele via apenas alguém se movendo com tamanha morosidade que nem chegava a ser perceptível aos seus sentidos. Só que, uma vez tendo adentrado aquela realidade, aqueles no seu encalço deveriam tê-lo encontrado não mais do que centímetros distante do ponto em que tudo se altera – e não em condições completamente distintas, como a trama termina por apresentá-lo. Enfim, este é apenas um dos tantos problemas que esse roteiro se esforça em esconder, mas por mais que se estique para tapar um furo, acaba deixando outros dois ou três descobertos – e assim por diante. Repleto de atuações risíveis e (d)efeitos especiais que qualquer estudante de colegial é capaz de reproduzir em casa, o resultado até poderia ser divertido, se evitasse se levar tanto a sério e ousasse brincar com os absurdos que abraça. Talvez tivesse sido um daqueles casos de algo tão ruim que acaba ficando bom, justamente pelo inusitado. Mas não. A Caverna é apenas um erro grande demais e com graça de menos.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
2
Francisco Carbone
7
MÉDIA
4.5

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