Sinopse
Matt Turner é um executivo que sai de casa para levar os filhos à escola. No entanto, as coisas mudam completamente de figura quando ele recebe uma ligação dizendo que há uma bomba em seu automóvel.
Crítica
Logo de início, vem a impressão: “já vi esse filme antes”. E quem pensar assim, estará errado apenas em parte. Afinal, não assistiu a essa história uma vez antes, mas talvez duas, até mesmo três! A Chamada é nada menos do que quarto remake do espanhol El Deconocido (2015), com Luis Tosar no papel que agora é de Liam Neeson. Nesse intervalo de menos de uma década, a mesma trama foi refeita ainda na Alemanha (Direção Explosiva, 2018) e na Coréia do Sul (Ligação Explosiva, 2021), e provavelmente só não ganhou ainda uma versão brasileira por guardar semelhanças demais com o recente A Jaula (2022) – que, por sinal, também é uma refilmagem, só que do argentino 4x4 (2019). Como se pode perceber por esse breve relato, as características regionais pouco importam ao que se passa na tela: eis, enfim, um thriller genérico, que depende quase que exclusivamente da habilidade do condutor em segurar a atenção do espectador e do talento do protagonista para criar empatia com a audiência em relação ao drama por ele vivido. Duas coisas que, ainda que não sejam atingidas com excelência, ao menos demonstram um mínimo de efeito.
Muito desse impacto provocado pelo longa dirigido por Nimród Antal (cujo nome denuncia sua ascendência húngara, apesar de ter nascido nos Estados Unidos) está não na conta do realizador, que faz seu trabalho de maneira até bem discreta, ocupando-se basicamente em gerar as situações necessárias para o que desse conjunto se pode esperar, mas sim no verdadeiro astro em questão: Neeson, obviamente, que pela enésima vez entrega o mesmo personagem que tem revisitado incansáveis vezes desde o inesperado sucesso da saga Busca Implacável. Matt Turner é um pai de família, homem em crise no casamento, mas não por ter deixado de amar a esposa ou os filhos, e sim por ter se permitido consumir pelo trabalho como investidor financeiro. Sempre em busca do próximo milhão – e, muitas vezes, nem sempre pelo método mais ético (ou legal) – ele tem negligenciado atenções à esposa (Embeth Davidtz, uma coadjuvante de confiança) e aos filhos, Emily (Lilly Aspell, a jovem Diana de Mulher-Maravilha, 2017) e Zach (Jack Champion, o ‘menino-aranha’ de Avatar: O Caminho da Água, 2022).
O argumento, aliás, é simples – afinal, essa é uma característica imprescindível para qualquer projeto que se pretenda ser mais do que uma “história a ser contada”, ou seja, uma “franquia a ser reproduzida”. Se não, vejamos. Matt sai de manhã cedo, rumo ao trabalho, levando os dois filhos de carona até o colégio. No meio do caminho, uma chamada telefônica desconhecida – quem ainda atende ligações não identificadas? – lhe dá o terrível aviso: há uma bomba instalada no seu carro, sensível ao peso atual (ou seja, dele e das duas crianças), que acaba de ser acionada. Caso o veículo seja desligado ou haja alguma alteração em sua pressão (isto é, se alguém tentar sair de dentro dele), tudo irá explodir em questão de segundos. Para impedir que tal trágico destino de confirme, há apenas uma demanda a ser atendida: transferir para uma conta no exterior toda a fortuna acumulada por anos de negócios (e negociatas por baixo do pano). Algo que o herói – um “vilão” em busca de redenção – tentará evitar a todo custo, mas não sem antes garantir a segurança dos seus (e de si mesmo).
Em uma Berlim não muito turística (curiosamente, cenário de uma das adaptações anteriores, mas não do longa original), Neeson irá transitar sem descanso – remetendo a outro clássico do gênero, o sucesso Velocidade Máxima (1994), sem a mesma rapidez, mas também com muita tensão – até descobrir não apenas como se livrar da armadilha na qual foi pego, mas também – e, talvez, ainda mais importante, pois o sentimento de vingança tem sido essencial ao ator nos últimos tempos – quem é o responsável por essa ameaça que agora paira por sua cabeça (ou, melhor dizendo, abaixo do seus pés – e rodas). Há alguns tropeços, como a troca com policiais com o carro parado e uma não muito bem explicada retirada dos jovens dos bancos traseiros, mas no geral a suspensão da credibilidade funciona de acordo com o esperado justamente por se estar diante de um homem afeito a esse tipo de situação inusitada, tendo já criado uma familiaridade junto ao público que se vê acostumado a presenciá-lo diante de contextos nunca menos do que absurdos, mas dando reviravoltas inimagináveis para conseguir se safar frente aos perigos que são apresentados. Neeson encara esses desafios com tanta seriedade e firmeza que, mesmo quando seus feitos prévios são condenáveis, é quase impossível não torcer para se seja bem-sucedido em seus intentos posteriores.
Sem lançar um projeto de maior repercussão desde o malfadado Predadores (2010) – nesse meio tempo, esteve envolvido, entre outras coisas, com séries como Stranger Things (2022) e Servant (2019-2023) – Antal se confirma com A Chamada como um mero operário, mas um de confiança, que cumpre o prometido sem muitas invencionices ou originalidades. Não há nada de pessoal ou particular na sua assinatura, pois o show é mesmo de Liam Neeson, e os fãs que não forem com muita sede ao pote, esperando por algo diferente do que ele habitualmente oferece, certamente deverão se entreter com mais do mesmo, mas um envolvente e rasteiro, que não aborrece enquanto dura, ao mesmo tempo em que não perdura além da sua duração. Se o resultado não é mais satisfatório, vem de uma lição que a escritora Agatha Christie pregava em seus livros: na hora de procurar pelo culpado, é aconselhável não ter por perto nenhum nome de destaque, pois caso contrário as atenções se voltarão a ele, e será difícil convencer em qualquer outra direção. Um início promissor e um desenrolar competente podem até fazer bonito se comparado a um final mirabolante (e exagerado), desde que não se espere mais do que isso.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 5 |
Alysson Oliveira | 2 |
MÉDIA | 3.5 |
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