Crítica
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Sinopse
A Chave de Sarah: Na Paris, França, dos dias atuais, uma jornalista (Kristin Scott Thomas) vê sua vida entrelaçada a de uma jovem garota cuja família, em 1942, foi violenta e cruelmente separada durante a notória Razia do Velódromo de Inverno (Vel' d'Hiv). Este foi considerado o maior aprisionamento em massa de judeus realizado na França durante a Segunda Guerra Mundial.
Crítica
Enquanto tentava investir na carreira hollywoodiana, a inglesa Kristin Scott Thomas nunca conseguiu ser mais do que uma coadjuvante de luxo. Mesmo sua única indicação ao Oscar, como Melhor Atriz por O Paciente Inglês (1996), é considerada por muitos um excesso – pelo mesmo filme ela ganhou o National Board of Review, um reconhecimento da crítica especializada, porém como Atriz Coadjuvante! Nessa primeira fase de sua carreira apareceu ao lado de nomes interessantes, como Hugh Grant (Quatro Casamentos e um Funeral, 1994), Tom Cruise (Missão Impossível, 1996) e Robert Redford (O Encantador de Cavalos, 1998), entre outros. Mas no final da década passada a atriz decidiu se reinventar: mudou-se para França e passou a apostar em trabalhos mais ousados e autorais, que refletissem sua visão pessoal do cinema. Uma decisão que não poderia ter sido mais acertada. O primeiro passo neste sentido foi o estupendo Há tanto tempo que te amo (2008), pelo qual ganhou o European Film Awards e o prêmio dos Críticos de Londres, além de ter sido indicada ao Globo de Ouro e ao Bafta. E após outras experiências igualmente bem sucedidas está de volta no comovente A Chave de Sarah, que lhe rendeu uma indicação ao César – o Oscar francês – como Melhor Atriz do ano. Um resultado acima de tudo justo.
Nos dias de hoje, Julia (Scott Thomas) é uma americana que há anos mora em Paris, mãe de uma filha adolescente e casada com Bertrand (Frédéric Pierrot). Jornalista e editora de uma importante revista de grandes reportagens, começa a se indagar sobre a origem do apartamento da família do marido quando decidem se mudar para lá. A investigação a leva aos Starzynski, judeus que moravam no mesmo lugar quando, em 1942, a França decidiu colaborar com as forças nazistas alemãs e coordenar o seu próprio holocausto. Simultaneamente à pesquisa da repórter acompanhamos a tragédia que aconteceu com os antigos moradores. Sarah era a filha do casal, que ao lado dos pais é enviada a um campo de concentração. Porém, durante a batida policial que termina em prisão, ela consegue esconder o irmão menor em um armário na parede, prometendo voltar logo para buscá-lo. Promessa que não conseguiu cumprir com a rapidez desejada. Tudo o que lhe restava era a chave que havia servido para prendê-lo no esconderijo e que, ao mesmo tempo, significou a vida e a morte do pequeno.
A Chave de Sarah tem como mérito maior conseguir lidar com estas duas tramas comoventes e interessantes num mesmo ritmo, mantendo a curiosidade e a atenção do espectador por ambos os desfechos. Várias dúvidas são levantadas durante esse processo: o que teria acontecido com Sarah? Após a guerra, como foi sua vida? E a família do marido de Julia, qual a participação deles no destino dos Starzynski? E algo que chega até a ser levantado em cena pela protagonista em determinado momento: se o mesmo acontecesse hoje em dia – ou se um de nós estivéssemos lá, naquela situação – o que faríamos de diferente? No entanto, o filme pouco faz no sentido de ser mais do que essa mera busca. Enquanto ela persiste, estamos atentos. Quando tudo se esclarece, nos questionamos sobre o verdadeiro porquê disso tudo. O que levou aquela mulher a seguir obstinada atrás de acontecimentos tão distantes de sua própria vida?
Com roteiro e direção de Gilles Paquet-Brenner, A Chave de Sarah é um filme que é melhor pelas partes que contém do que pelo todo que apresenta. Como já foi dito, Kristin Scott Thomas está fenomenal, sensível na medida certa, sem ser piegas ou, pelo contrário, fria demais. O elenco está a sua altura, e é uma boa surpresa quando, já perto do fim, entra em cena um sumido Aidan Quinn, ator que primeiro chamou atenção em filmes como Jovens sem Rumo (1984), Procura-se Susan Desesperadamente (1985) e A Missão (1986), para aparecer mais ocasionalmente na década seguinte, em filmes como Lendas da Paixão (1994) e Frankenstein de Mary Shelley (1994), e acabar sumindo de vez na virada do século. Ele retorna com vigor, numa participação discreta, porém marcante, acrescentando um toque de esperança nessa história dura e de poucas concessões. Um filme como poucos da atualidade, que estimula a reflexão e não tem medo de causar – bom – sofrimento no espectador.
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