Crítica
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Sinopse
Quando misteriosas naves espaciais aterrissam em todo o mundo, uma equipe de elite, liderada pela linguista Louise Banks, é reunida para investigar. Enquanto a humanidade hesita à beira de uma guerra entre planetas, Banks e sua equipe correm contra o tempo em busca de respostas.
Crítica
Louise, protagonista de A Chegada, filme do cineasta Denis Villeneuve, é uma especialista cooptada pelo exército norte-americano para decodificar a linguagem aparentemente ininteligível dos alienígenas que se instalam em diversas partes do mundo sem um motivo evidente. Parte-se, então, de uma necessidade urgente de compreensão. Em meio aos protocolos que denotam a preocupação com os objetos voadores não identificados, essa mulher interpretada por Amy Adams acessa percepções que, associadas à sequência inicial, na qual é violentamente exposto o drama decorrente do câncer responsável por ceifar a vida de sua filha, expõem a intimidade sobressalente mesmo com todos diante de um evento de proporções globais. A atmosfera criada por Villeneuve é alavancada pelo mistério, primeiro, no que diz respeito ao aspecto físico dos visitantes e, segundo, no que tange às suas reais intenções. Ao redor da problemática se arma um circo que oferece exemplos das controvérsias governamentais quando deflagrada um crise, neste caso, frente ao desconhecido.
A importância da comunicação é um fator imprescindível em A Chegada, longa-metragem baseado no livro The Story of Your Life, de Ted Chiang. No contato estabelecido, depende essencialmente da sensibilidade de Louise a determinação da natureza da presença insólita, se uma ameaça ou algo que não representa perigo real à humanidade. No plano simbólico, os personagens se relacionam com os ambientes de maneira rigorosa, traço encarregado de ressaltar o estranhamento quase onipresente que, assim, parte da dimensão puramente visual para atingir o ponto nevrálgico da estrutura narrativa. O que ocorre na antecâmara da nave, lugar de oxigênio rarefeito e baixa gravidade, é um exemplo disso, pois a confusão espacial e o suspense logo se tornam naturais, e mais, familiares e indissociáveis da experiência dos envolvidos. O som desempenha um papel significativo nesse sentido, pois contribui para a transformação do clima que sobrevém à reincidência dos pesquisadores no recinto.
Vivido por Jeremy Renner, o cientista Ian se coloca como parceiro de Louise nessa empreitada que pode alterar, inclusive, os rumos da política internacional. Os doze OVNIs espalhados por várias partes do planeta instauram uma crise mundial. Severas divergências entre nações surgem para deflagrar a intolerância, bem como a prioridade de cada uma delas, que é cuidar dos próprios interesses. A aparente falta de um investimento adequado nessa observação pode parecer negligência, assim como são falsamente aleatórios os flashes da relação de Louise com filha, antes desta morrer vitimada pela doença. Contudo, uma engenhosa virada, semeada paulatina e sutilmente, ressignifica o filme, o reconfigurando totalmente. A tragédia pessoal da protagonista ascende ao patamar mais elevado da trama, propondo reflexões relativas a temas tão espinhosos quanto fecundos, como o tempo e o destino. Há, então, uma drástica subversão das expectativas, bem como de ocasionais frustrações.
Amy Adams apresenta em A Chegada um grande trabalho, expressando com riqueza de nuances o turbilhão de sensações pelas quais Louise passa, especialmente a partir do momento em que suas “reminiscências” começam a influenciar os acontecimentos presentes e vice-versa. Neste ótimo – às vezes excepcional – filme de Denis Villeneuve, o elemento linguagem é instrumental, por suas óbvias e reconhecíveis funções, e portal, através do qual se acessam outras culturas e modos de vida. O homem se realoca, dentro deste universo ficcional bastante particular, conforme novas formas de encarar conceitos como passado e futuro. O mérito de Villeneuve reside, principalmente, na condução precisa de um percurso emocional complexo, intrincado e bastante rico cinematograficamente, encerrado com um gesto de coragem que não afeta só os personagens, mas também o espectador que seguramente terá experiências bem distintas numa eventual segunda sessão.
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