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Crítica


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Sinopse

Dois jovens se apaixonam inesperadamente enquanto realizam tratamentos para suas doenças graves. Com pouco tempo de vida sobrando, o casal vive cada momento do relacionamento como se fosse o último, transformando situações banais em algo especial e único.

Crítica

Stella está doente. Ela produz muito muco, e necessita de novos pulmões para lhe garantir uma sobrevida de, no máximo, mais alguns cinco anos – até que seu caso se torne, novamente, caótico. Mas ela segue na luta, instalada em um ótimo hospital, com supervisão constante, visitas de amigos e familiares e um diário em vídeo que mantém online e através do qual compartilha suas conquistas e agruras com milhares de internautas, conhecidos ou não. Will, por sua vez, não vê sua situação de forma tão positiva. Ele também está internado na mesma instalação, e passa por problemas similares, porém com um complicador: está infectado por uma bactéria altamente contagiosa, obrigando-o a se submeter a um tratamento alternativo que não lhe oferece nenhuma garantia que será bem-sucedido. É preciso acreditar, portanto. Assim como a audiência decidida a enfrentar A Cinco Passos de Você, drama romântico adolescente que termina por entregar justamente aquilo que promete, sem se arriscar em nenhuma outra direção. Tudo o que seus protagonistas mais almejam, refutado justamente pela própria realização.

Dirigido pelo estreante no formato Justin Baldoni (que apesar de ter realizado curtas e documentários para a televisão, é mais conhecido por ter aparecido como ator em séries como Jane A Virgem, 2014-2019) a partir do roteiro dos novatos Mikki Daughtry e Tobias Iaconis (mesma dupla que ainda nesse ano irá assinar o terror A Maldição da Chorona, 2019), A Cinco Passos de Você segue nos mínimos detalhes uma cartilha estabelecida por tantas obras similares, como A Culpa é das Estrelas (2014) e Tudo e Todas as Coisas (2017): casal se conhece, num primeiro momento surge uma antipatia mútua, que logo é superada por uma ‘incontrolável’ atração. Aos poucos vão se aproximando, apesar de tudo apontar para o contrário, e quando estão irremediavelmente nos braços um do outro, a tragédia se faz presente, justamente para que possam sentir – tanto a plateia como os personagens – a dor de uma perda precoce, ainda que anunciada. Afinal, nenhum amor é melhor do que aquele apenas idealizado, e nunca, de fato, concreto.

As regras hospitalares às quais os dois protagonistas são sujeitos afirmam, antes de qualquer outra coisa, que eles devem se manter a seis passos de distância um do outro. Para demonstrar que seguem no comando das próprias vidas – por mais que isso seja apenas uma ilusão auto imposta – o máximo de rebeldia que se permitem é dar um passo a mais do que o limite apontado – ou seja, chegamos aí ao título do filme. Obviamente, não se trata de uma regra rígida, pois logo deixarão de lado maiores precauções para investirem num relacionamento destinado a ter um ponto final muito antes do que gostariam. O recurso, típico das diretrizes de autoajuda, pode convencer aqueles mais suscetíveis da plateia, mas aponta para a ocorrência de tantos problemas, que chega a ser alarmante. Um bom exemplo dessa fantasia é o hospital onde maior parte da trama se passa: shopping center, centro recreativo, hotel de luxo ou parque de diversões seriam definições mais apropriadas.

Quem pensa que esse subgênero – adolescentes doentes apaixonados – é uma febre recente, não deve recordar de um filme estrelado por Julia Roberts há quase três décadas: Tudo Por Amor (1991), cujo título original era, apropriadamente, Dying Young – literalmente, ‘Morrendo Jovem’. Se esta fórmula foi visitada recentemente em Como Eu Era Antes de Você (2016), A Cinco Passos de Você investe no dobro da tragédia: ambos podem morrer a qualquer momento, enfrentando diversas limitações no percurso. E se nos últimos trinta anos esse argumento apelativo tem causado repetidas vezes o mesmo efeito em plateias incautas, não há motivo aparente para que não funcione mais uma vez. Ao menos entre aqueles que sabem bem o que procuram: choros rasos, emoções baratas e sentimentos à flor da pele, mas que não duram mais do que o voo da borboleta.

Se Cole Sprouse, no papel de Will, repete os mesmos trejeitos e maneirismos que lhe garantiram popularidade como o rebelde Jughead do seriado Riverdale (2016-), Haley Lu Richardson – como a controladora Stella – é quem se sai ligeiramente melhor, e muito disso por pouco se conhecer a seu respeito (tudo que a garota havia feito antes foram pequenas participações em títulos como Fragmentado, 2016). Seguindo essa linha, os demais clichês se fazem notórios – os adultos inoperantes (Claire Forlani segue tão linda quanto inexpressiva), autoridades facilmente ludibriadas (Parminder Nagra foi apontada como revelação ao aparecer em Driblando o Destino, 2002, mas o passar dos anos se encarregou de obrigá-la a se conformar com o estereótipo que constantemente lhe é oferecido), e até o melhor amigo gay descartável (Megarromântico, 2019, discute com propriedade esse tipo recorrente). Tudo no lugar esperado e tão comportado como se poderia esperar. Tanto quanto os bocejos que se revelarão inevitáveis diante tamanha obviedade.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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