Crítica
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Sinopse
Fugindo de traumas de infância, Edith encontra apoio com seu antigo amigo, Dr. Alan, e com um estranho com quem acaba por se casar, Sir Thomas Sharpe. Indo viver com ele e a irmã gêmea do mesmo na mansão que os dois possuem, ela descobre que o lugar parece respirar, sangrar e até mesmo se lembrar de coisas.
Crítica
Guillermo del Toro foi muito rapidamente alçado à condição de gênio sem, no entanto, ter de fato conquistado este merecimento. Afinal, enquanto seus colegas Alfonso Cuarón e Alejandro Gonzalez Iñarritu colecionam sucessos e prêmios em suas estantes, o máximo que del Toro consegue são alguns sucessos medianos de bilheteria, como Círculo de Fogo (2013), que arrecadou nos EUA metade do orçamento de US$ 190 milhões, mas acabou tendo algum lucro com a ajuda do mercado internacional. Seu trabalho de maior prestígio, o drama fantástico O Labirinto do Fauno (2007), ganhou três Oscars em categorias técnicas, mas perdeu as relevantes indicações de Filme Estrangeiro e Roteiro Original (do próprio diretor). Portanto, é importante ter um certo distanciamento diante do seu mais recente trabalho, o conto de horror A Colina Escarlate, projeto que prometia muito, mas entrega pouco.
Em entrevistas de divulgação deste novo longa, o cineasta afirmou que o cenário principal da trama foi o set mais elaborado que já trabalhou até o momento. Esta declaração é, também, um bom resumo da obra: um visual fantástico, porém tão carente de conteúdo original que assim que o espectador se habitua com o ambiente nada mais parece estar à altura do anunciado. É uma história de fantasmas mais próxima do infantil Gasparzinho: O Fantasminha Camarada (1995) do que do ótimo A Espinha do Diabo (2001) – dirigido, aliás, por ninguém menos do que del Toro em início de carreira. Os espíritos aqui se anunciam logo no início, e ainda que tenham presenças horripilantes, nunca chegam a meter medo em alguém – eles estão para ajudar a protagonista, uma órfã herdeira que caiu no golpe de dois irmãos interesseiros. E diante de um quadro tão escasso de personagens, a previsibilidade da trama é factível, com cada um dos envolvidos assumindo sem mistério seu lugar na trama.
Assim como Jan de Bont fez no malfadado A Casa Amaldiçoada (1999) – filme que se anunciava de terror e tudo que provocava era embaraço e tédio – também A Colina Escarlate tropeça feio em seus argumentos mal desenvolvidos. Jovem (Mia Wasikowska) se faz de independente, mas cai na lábia do primeiro malandro boa pinta (Tom Hiddleston) que surge em seu caminho. Ele e a irmã (Jessica Chastain) aplicam a mesma conversa ao redor do mundo, mudando de país de acordo com fortuna alheia que lhe parece mais auspiciosa. O único que pode lutar pela mocinha é o cordato advogado e amigo de infância (Charlie Hunnam) – que, obviamente, irá aparecer no momento certo, ainda que instantes atrás estivesse do outro lado do mundo. Qualquer mistério remanescente é solucionado sem drama, com a ajuda das almas penadas que habitam o local do título – vítimas dos assassinos incestuosos que por ali ficaram para ‘alertar’ possíveis novos alvos.
Entre crânios amassados na pia do banheiro e canetas perfurando bochechas rosadas, se destaca com esforço uma Mia assustada, a quem com dificuldade acompanhamos em suas mazelas, e um vilão arrependido e pouco convincente, ainda que charmoso. Hiddleston é tão carismático que é difícil se colocar contra seus intuitos, ainda que sua identidade seja odiosa. Mas a mudança de rumo que lhe é imposta no meio da trama é tão abrupta quanto inexplicada, desprovida de elementos que a justifiquem. Mas nada, no entanto, é mais constrangedor do que os exageros que a geralmente ótima Chastain protagoniza, elaborando um tipo ciumento e tão raso quanto uma criação de histórias em quadrinhos. Hunnam, por sua vez, muito pouco tem a seu dispor, tão escassas são as oportunidades que lhe são oferecidas.
A sanguinolência que se antecipava, uma vez que a história se dá numa mansão decadente posicionada sobre uma terra de argila vermelha que a tudo engole, manchando de vermelho o caminho de todos que se aproximam, termina por se revelar tão estética e artificial que qualquer tentativa de aproximá-la do horror verdadeiro esbarra num humor involuntário. Se a intenção era homenagear os clássicos da Hammer – estúdio inglês que ficou famoso na metade do século XX com filmes de vampiros e lobisomens – chama atenção que até um título mais discreto, como o recente A Mulher de Preto (2012), se sai melhor nesse intento. A Colina Escarlate apela aos olhos e deslumbra no impacto inicial, mas logo revela suas fragilidades diante de um roteiro óbvio e sem surpresas. Um grande exercício de ego e técnica, e nada mais.
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