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Crítica


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Sinopse

Um veterano jogador de sinuca que já teve seus tempos áureos conhece um jovem promissor. Os dois se tornam mestre e aprendiz, mas não demora para que surjam rusgas entre eles, afinal de contas são feitos do mesmo material.

Crítica

Martin Scorsese. Paul Newman. Tom Cruise. Três nomes de alto impacto em Hollywood, porém de diferentes e bem distintas dimensões. E, curiosamente, o único elemento de união entre eles é A Cor do Dinheiro, um filme que sempre enfrentou dificuldades para ser visto exatamente pelo que é: um veículo para essa trinca talentosa mostrar o que faz melhor e também experimentar novos caminhos, dependendo do ponto de vista. Superestimado por alguns – principalmente na época do seu lançamento – e subestimado por outros tantos, trata-se de um trabalho que, em outras mãos, certamente teria tido um destino bem diferente. Felizmente, não foi o caso.

Fast Eddie Felson talvez tenha sido o personagem mais marcante de toda a carreira de Paul Newman – e isso que estamos falando do intérprete de tipos como Brick Pollitt (Gata em Teto de Zinco Quente, 1958), Lew Harper (Caçador de Aventuras, 1966), Luke (Rebeldia Indomável, 1967) e o inesquecível Butch Cassidy (Butch Cassidy, 1969), entre tantos outros. Levado às telas pela primeira vez em Desafio à Corrupção (1961), personificava a figura que virou referência do ator: belo, destemido, másculo, frágil. Após seis indicações em quase trinta anos de carreira, o astro de hipnotizantes olhos azuis finalmente levou sua merecida estatueta dourada por um trabalho que se por um lado trilhava um caminho seguro, por outro deixava em evidência seus pontos fortes. A Cor do Dinheiro foi uma ideia do próprio Newman, que chamou Scorsese para dirigi-lo. Neste ponto, o diretor era considerado um gênio de altos e baixos, mas premiado em Cannes por Taxi Driver (1976) e celebrado por atores como Ellen Burstyn (Alice Não Mora Mais Aqui, 1974) e Robert De Niro (Touro Indomável, 1980), ambos em performances oscarizadas sob a condução do cineasta. Porém pouco se percebe de Scorsese neste filme, além de uma montagem afiada (cortesia da parceira de sempre Thelma Schoonmaker) e de uma trilha sonora objetiva, que apenas pontua o desenrolar da história, sem interferir em sua percepção.

As atenções estão todas em Newman, e nem mesmo o neoastro Tom Cruise (ao menos naquele momento) conseguiu disputar o olhar dos espectadores. Logo após seu primeiro sucesso (Top Gun: Ases Indomáveis, 1986), Cruise estava pronto para o estrelato definitivo (que, de fato, alcançaria pouco tempo depois), mas ainda em um ponto de sua carreira em que demonstrava preocupação em se firmar como um ator relevante (parcerias posteriores com nomes como Dustin Hoffman, Oliver Stone, Jack Nicholson, Neil Jordan, Brian De Palma e Stanley Kubrick confirmam essa clara intenção). É por isso que a feliz união destes três distintos talentos fazem de A Cor do Dinheiro um filme indispensável, muito mais do que pela trama em si que defende. Ao invés de uma simples continuação, A Cor do Dinheiro se posiciona melhor como uma releitura de Desafio à Corrupção. Naquele filme tínhamos um jovem talento da sinuca (Newman), sua namorada intempestiva e ciumenta (Piper Laurie) e o apostador que acredita no seu sucesso – e quer lucrar com ele (George C. Scott). Vinte e cinco anos depois, os papeis permaneceram, porém uma dança de cadeiras se fez necessária. Dessa vez o novato ansioso por brilhar é vivido por Cruise; a namorada calculista e repleta de segundas intenções ganha vida em Mary Elizabeth Mastrantonio (namorada do diretor durante as filmagens); e o veterano que investe no desconhecido cheio de qualidades esperando algum lucro nisso é o próprio Newman. Mesmo com a inversão que o roteiro sabiamente propõe e quase três décadas depois, Fast Eddie Felson continua vivo, e basta perceber a ânsia contida do seu intérprete para perceber que o tempo afastado só lhe fez bem.

A Cor do Dinheiro foi um relativo sucesso de bilheteria que serviu para manter os nomes de Scorsese e de Cruise em alta e consagrar Paul Newman como um dos maiores astros da sua geração. Mais de vinte anos se passaram desde o seu lançamento, mas trata-se de um filme que continua atual e intrigante. O enredo percorre temas que até hoje são relevantes, e mesmo diante de um cenário tão específico como o dos jogos de bilhar uma fácil identificação é possível, pois o que cala fundo são elementos muito mais simples e universais: cobiça, ambição, orgulho, desprezo, ego e confiança. Exatamente como era ontem, é hoje e será amanhã.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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