Crítica
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Sinopse
Celie é uma menina negra no começo do século XX, que sofre com um pai violento que a assedia. Levada para as mãos de outro homem quase tão ruim quanto, ela passa os anos observando e aceitando calada os abusos a que é submetida, enquanto espera um dia poder reencontrar a irmã querida de quem foi separada.
Crítica
Apresentado nos cinemas norte-americanos pela primeira vez há mais de 30 anos, A Cor Púrpura, visto hoje, parece não ter envelhecido muito mais que 30 dias. A versão fílmica de Steven Spielberg para a aclamada obra de Alice Walker pode ser um dos maiores perdedores na história do Oscar, com 11 indicações e nenhum prêmio conquistado, mas trata-se de um delicado e cativante filme, vencedor em tantos outros aspectos.
Originalmente concebido como um blockbuster, o que justifica Spielberg na cadeira de direção, A Cor Púrpura teve uma produção cercada de controvérsias desde o início das filmagens, em aspectos cinematográficos, literários, ideológicos e raciais. A escolha do cineasta, em particular – um homem branco de classe média – frustrou em antecipação tantos futuros espectadores, que questionavam o destino das páginas de Walker nas mãos de um realizador até então apenas reconhecido por seus filmes com extraterrestres ou protagonizados por certo arqueólogo aventureiro.
Enquanto o livro retratava as extremas dificuldades de uma mulher crescendo pobre, feia e negra no Sul dos Estados Unidos, o filme desvia levemente da autenticidade e do poder feminista do material de origem para se dedicar à triunfante busca de sua protagonista, Celie Johnson (Whoopi Goldberg), por felicidade e respeito próprio. Spielberg e o roteirista Menno Meyjes se dedicam principalmente a contrapor com delicadeza as sombrias vivências de Celie durante 40 anos de abusos praticados por seu pai e por tantos outros ao seu redor.
Extremamente belo em níveis de produção, direção de arte e fotografia, o que mais salta aos olhos em A Cor Púrpura, no entanto, é seu elenco. Liderado pela então novata Whoopi Goldberg, que como Miss Celie rouba a maioria das sequências do longa-metragem para si, o filme ainda conta com performances inesquecíveis de Margaret Avery no complexo papel de Shug Avery e Oprah Winfrey como Sofia, todas as três reconhecidas com indicações ao Oscar por suas atuações. O destaque maior fica mesmo por conta de Goldberg, que com a difícil missão de conquistar a simpatia de espectadores para uma mulher que é proibida de falar, sonhar e interagir com outras pessoas, entrega uma composição contida, porém repleta de nuances profundas e marcantes.
Spielberg tinha uma difícil tarefa na condução de A Cor Púrpura e muitas expectativas para suprir. Ainda que desvie dos conteúdos mais complexos e escuros que a trama lhe permite, o diretor compensa sua narrativa com momentos de ternura e repletos de emoção, sem exagerar no melodrama. Tente não se comover com a sequência em que Shug entoa numa voz rasgada (créditos para Táta Vega) e embalada por lindos acordes a canção Miss Celie’s Blues. Pode não ser o maior trabalho do diretor ou aquele pelo qual é mais lembrado, mas trata-se de uma pequena e agridoce obra, que parece singular numa filmografia tão desequilibrada.
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