Crítica


8

Leitores


Onde Assistir

Sinopse

A Cozinha de Stella: Durante 30 anos, Stella foi cozinheira do Alto Comissariado Canadense em Nova Déli, na Índia. Ela é uma cozinheira brilhante e tem um talento especial para aumentar seus ganhos: utiliza alguns itens roubados, faz pequenas cobranças extras e ainda comanda um serviço de televendas de produtos importados sem impostos. A situação fica ainda mais confortável quando o jovem casal canadense Michael e Maya se muda para a cidade com o seu bebê. Comédia.

Crítica

A Cozinha de Stella (Cooking with Stella, 2009) é o segundo filme dirigido pelo indiano Dilip Mehta. Stella (Seemas Biswas) tem o curioso e prestigiado histórico de trabalhar nos afazeres das casas de diplomatas que passam a residir na Índia. A personagem que cria é das mais interessantes possíveis, mesclando em seu comportamento atitudes altruístas e egocêntricas.

Não é difícil perceber os acertos e erros cometidos por Mehta no decorrer dos 100 minutos de exibição. O filme facilmente se divide em duas partes, de certa forma até ingenuamente, e aquilo que parecia o grande mote para a construção de uma bela comédia, que misturasse o choque cultural da empregada indiana e dos patrões canadenses Michael e Maya, aos poucos, começa a preencher o núcleo narrativo com informações que parece não saber lidar e que nunca se concluem como o esperado.

Naquilo que podemos definir como primeira parte, Stella recebe a família canadense que se encarregaria de cuidar da casa e auxiliá-los na adaptação à nova vida. Para a personagem de Seemas, um emprego desses é a grande oportunidade para enriquecer e fazer negócios clandestinos, como na seqüência em que numa manhã leva flores ao quarto do casal e cobra um montante cuja grande parte fica consigo mesma. Nessa relação de puro interesse, é bastante interessante que o roteiro nos surpreenda com uma mudança de rumo ao apresentar Maya como a diplomata e deixando a Michael, seu marido, as tarefas de cuidar da casa, fazer o almoço e cuidar do filho. A novidade somente se apresenta pronta quando se estabelece uma nova relação: Michael é, na verdade, um experiente cozinheiro que gostaria de contratar Stella para que fosse sua "cooking guru", ensinando-lhe o melhor da cozinha indiana.

Contando com um tom de comédia que funciona bastante, a surpreendente reviravolta dá indícios de que teremos um grande filme pela frente. No entanto, a aparição de Tannu (Shirya Saram) apesar de dar novo ar ao filme, não se desenvolve satisfatoriamente. Ocupada em colaborar com Michael no preparo e na degustação de pratos indianos, Stella sugere a contratação de outra pessoa para serviços mais gerais. Então surge Tannu, moça que precisa de dinheiro para cobrir os gastos médicos com o pai, e com ela um conflito novamente interessante. Diferentemente de Stella, Tannu mostra-se a princípio muito consciente do que é certo e do que é errado. Ou seja, a moça não colabora com o método definido pela própria Stella como Robin Hood, chegando até a devolver a Maya pertences anteriormente roubados.

A relação de estabilidade do filme parece ruir nesse momento, quando dá sinais de não suportar levar adiante os dois núcleos. Por boa parte da narrativa esquece-se a relação de Michael com sua "cooking guru" e todas as atenções são dadas ao fraquíssimo relacionamento amoroso que Tannu estabelece com um jovem, no caso, filho de Stella.

A partir de então a comédia perde o grande trunfo. Não lida mais com as diferenças culturais ou éticas, perde a sensibilidade das representações situacionais de Seemas para propor um romance pouco consistente que somente leva à transformação forçada de Tannu em colaboradora de Stella. É uma pena que Dilip Mehta, em uma direção acanhada, deixe que a história se embaralhe e perca força. Sua última parte é praticamente desprezível e desnecessária. E a prova de que o filme foi tão bom em sua primeira parte é que ainda assim o público ganha um bom entretenimento.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
avatar

Últimos artigos deWillian Silveira (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *