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Sinopse

Uma jovem enfermeira é designada como cuidadora residencial do famoso médium Philip Hallewell. Recebida com frieza pela filha de Philip, ela começa a testemunhar coisas horrendas que acontecem à noite na propriedade.

Crítica

A concepção de descendentes do demônio já foi explorada de diversas formas no cinema. Do clássico O Bebê de Rosemary (1968) até obras menos vistosas como O Filho do Demônio (1997) e O Herdeiro do Diabo (2014). Na sétima arte, portanto, o capeta possui uma família maior que a de Abraão. Diante de tantas tramas que bebem da mesma fonte, espera-se que o desmembramento dessa premissa possa ser inovador ou pelo menos bem desenvolvido. Não é o caso de A Criança do Diabo, que apenas se contenta em engravidar mais uma moça e despejar nela o mal do mundo.

Mas antes da trama em si, é válido ressaltar algumas opções do diretor em relação à distribuição internacional. Trata-se de um filme colombiano falado em inglês. Em nenhum momento da trama somos situados geograficamente. Há a língua saxônica, ornamentos arquitetônicos clássicos, trajes do início dos anos 2000, uma fazenda que parece estar no interior dos EUA e nomes latinos nos personagens. Ou seja, é como se o cineasta lhe dissesse “sinta-se em qualquer lugar”. Aliás, o realizador em questão é David Bohorquez, que já transitou pelo gênero com os acanhados lançamentos Demental (2014) e Caliban (2019), mas fez fama como comandante de clipes de reggaeton, que incluem os cantores Sebastián Yatra e Cali Y El Dandee.

Enfim, é aqui que a jovem protagonista Maria (Francisca Estevez) começa sua jornada aceitando o trabalho de cuidar de Philip Hallewell, um aristocrata acamado. Ele não fala e precisa de ajuda para necessidades básicas. O auxílio para qualquer dúvida de Maria no dia a dia provém do “faz tudo” do rancho, Dwayne (Marvens Passiano), que possui a mesma idade da moça. Nesse processo, ela e Dwayne constroem uma amizade colorida e o idoso irá "tentá-la" por meio de pesadelos. Pois bem, é coeso pensar que um novo projeto terá alguma ideia, sequência ou ritmo diferente dos demais. Porém, a produção respeita quase que fielmente a cartilha desse estilo de terror. Sustos vindos de momentos banais (uma porta abrindo), uma fotografia melancólica, as mulheres como principais alvos e homens aparentemente fortes que tão logo se tornam frágeis diante do medo. Para piorar, a câmera insiste em "escurecer" de cinco em cinco minutos para determinar a passagem de tempo. O espectador pode se irritar.

Não bastassem escolhas narrativas equivocadas, Bohorquez parece ter se afeiçoado muito pelo cinema de fluxo, mas não sabe como fazê-lo. Ao mesmo tempo em que não insere trilhas sonoras histriônicas, entrecorta o longa com jump scares que, pasmem, não assustam. Num momento está focado em desenrolar um romance entre o casal principal, no outro gera desconforto entre ambos vindo de motivos sem sentido e que não condizem com a realidade. Em paralelo, o velho moribundo usa poderes psíquicos para hipnotizar a jovem e fazê-la acreditar que ele é um rapaz loiro, alto e de olhos azuis. Basta isso para a jovem esquecer totalmente Dwayne, que é negro e subserviente, reforçando estereótipos. Ora, o mal possui padrões de beleza? E como cereja do bolo, temos o nome da personagem principal: Maria. Claro que precisava ser Maria, fazer referências religiosas, nos remeter à freiras, virgens e mulheres doces. O nome Maria, aliás, clama por um filho nesse tipo de produção. Ou seja, mais do mesmo.

A impressão a que se tem assistido à A Criança do Diabo é de que o diretor tem a fábula na mente e não soube como trabalhá-la. Ou, talvez, não quis compartilhar conosco. Nem no campo das intenções ou da linguagem onírica a história se fixa. Esteticamente existem algumas sequências externas no máximo interessantes, como disparos de armas em câmera lenta e uma fotografia bucólica. Quanto aos retratados, apenas observamos uma mulher - que lhe foi dada pouca inteligência e carisma - vítima de um moribundo sádico que a transforma num cordeiro (no sentido religioso). Em sua terceira incursão pelo gênero, Bohorquez poderia nos presentear com um algo a mais, mas preferiu o esquecível.

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]
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