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Sinopse
A Culpa é do Fidel!: Anna de la Mesa tem nove anos, mora em Paris, França, e leva uma vida regrada e tranquila, dividida entre a escola e o entorno familiar. O ano é 1970 e a prisão e morte do seu tio espanhol, um comunista convicto, balança a família. Ao voltar de uma viagem ao Chile, logo após a eleição de Salvador Allende, os pais de Anna estão diferentes e a vida familiar muda por completo: engajamento político, mudança para um apartamento menor, trocas constantes de babás, visitas inesperadas de amigos estranhos e barbudos. Assustada com essa nova realidade, Anna resiste à sua maneira. Aos poucos, porém, realiza uma nova compreensão do mundo. Com Stefano Accorsi e Raphaël Personnaz.
Crítica
Depois de ter trabalhado ao lado do pai, o consagrado cineasta grego Costa-Gavras, no drama político-religioso Amém (2002), Julie Gavras estreou como diretora com o comovente A Culpa é do Fidel!, outra história de forte cunho dramático e político, bem ao estilo paterno de filmar. As diferenças, porém, são evidentes: apesar de provocar fortes discussões, ela não pretende criar polêmicas, e sim estimular a reflexão de um modo mais singelo e discreto. Os resultados, no entanto, são igualmente precisos e emocionantes.
Ana de La Mesa é uma garota francesa de apenas 9 anos. Ela leva uma vida tranquila, entre os amigos da escola e a família bem estruturada. Porém, quando o tio espanhol e comunista é preso e assassinado pela ditadura, a vida da menina vira de cabeça para baixo. A chegada da tia e da prima para morarem com eles é apenas o primeiro sinal de que fortes mudanças estão pro vir. Aos poucos os pais dela irão se interessar pelas situações de repressão ao redor do mundo, a ponto de se envolverem diretamente na conquista do poder de Salvador Allende no Chile. O ano é 1970, e o mundo é um caldeirão prestes a entrar em ebulição.
Tudo isso é acompanhado pelos pequenos olhos de Ana, que precisa aprender a lidar com esta nova realidade: a contrariedade dos avós, o novo e pequeno apartamento, o afastamento do pai, a falta de compreensão das colegas, a imaturidade do irmão menor, a constante troca de babás – o título do filme vem de uma delas, cubana, que afirma que todas estas alterações são “culpa do Fidel”! Assim, acompanhamos pouco a pouco a vida ir se transformando dentro da garota, em sensações que vão da rebeldia à contrariedade, do entendimento à colaboração, da tristeza à sabedoria. E assim como ela, somos profundamente tocados por este novo mundo que surgiu pelo esforço de alguns, saído de uma era de poucas luzes e muitos questionamentos.
A temática de A Culpa é do Fidel! não é nova. Afinal, exemplos de filmes que mostram a problemática da ditadura sob uma ótica infantil são vários – desde o chileno Machuca (2004) até o brasileiro O Ano em que meus Pais saíram de Férias (2006). O que esta produção francesa agrega ao gênero é uma sensibilidade ímpar e irretocáveis méritos técnicos, que vão desde a trilha sonora envolvente, uma montagem inteligente e um roteiro bem trabalhado (baseado no livro de Domitilla Calamai) até a escolha do elenco, encabeçado pela surpreendente Nina Kervel-Bey (a estreante Ana) e que conta ainda com os ótimos Stefano Accorsi e Julie Depardieu (filha de Gerard Depardieu). A Culpa é do Fidel! foi selecionado ainda para o Festival de Sundance, nos Estados Unidos, e indicado como Melhor Filme Estrangeiro no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro – mostra evidente de que sua história é universal, e o que é visto na tela tem qualidades suficientes para tocar qualquer um de nós: franceses, chilenos, espanhóis, italianos, americanos e até brasileiros, claro.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 8 |
Carlos Helí de Almeida | 7 |
MÉDIA | 7.5 |
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