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Crítica


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Sinopse

Em A Dama de Shanghai, Michael O’Hara (Orson Welles) está levando em seu barco o casal formado pela bela e misteriosa Elsa (Rita Hayworth) e seu marido. Durante o percurso, porém, o dono da embarcação é acusado de um homicídio.

Crítica

É interessante e decepcionante, na mesma medida, conferir um título como A Dama de Shanghai quase setenta anos após seu lançamento. Interessante por podermos visualizar alguns macetes de direção que Orson Welles  repetiria em obras futuras e decepcionante por ser uma trama que, hoje em dia, já foi levada à exaustão, não causando nenhuma novidade para o espectador e até o frustrando, já que seu final é previsível ao extremo. Porém, não nos adiantemos. Afinal, não é sempre que vemos a diva Rita Hayworth de cabelos claros e ainda deslumbrante.

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A musa aqui é Elsa, misteriosa mulher que viveu em vários países até se estabelecer com o marido, um homem bem mais velho considerado o maior advogado criminalista do momento. Ela é salva de um assalto no parque por Michael O'Hara (Orson Welles), um valentão sem rumo. O encantamento e a atração um pelo outro são imediatos, levando ao convite dela para que o rapaz seja um dos marinheiros do navio no qual vai passar férias com o esposo. O jovem só não contava que estaria sendo incluído no meio de uma trama de assassinato na qual se tornaria o principal suspeito.

Temos aqui os elementos clássicos do cinema noir, as diversas reviravoltas na trama. Fatos que não deixam a história lenta em nenhum momento, pelo contrário. Porém, mais do que tudo, o que mais chama a atenção na obra são os diálogos afiadíssimos, uma marca registrada do diretor. Com isso, o clima nunca é harmonioso entre os principais personagens da trama, que discutem desde o modo de vida até as acusações que vão se intensificando à medida que o filme avança. Chama mais ainda a atenção a fotografia calorosa (mesmo para um filme preto e branco), já que a viagem pelas águas ultrapassa diversas praias de cidades litorâneas, incluindo Acapulco. Um contraste intenso com a natureza do quarteto principal, que esconde suas reais intenções a todo momento.

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Neste quesito, a química entre os personagens de Welles  e Hayworth é perfeita, visto que o casal existia também fora das telas na mesma época. O que não faz o público acreditar tanto na paixão entre eles são os diversos segredos de cada um, especialmente de Elsa, já que Michael é quase um livro aberto - ao menos, para o público, já que narra a história com o tom pessimista de quem sabia que se daria mal em algum momento. Já ela se esconde sobe a beleza de Hayworth, que sempre apresenta não apenas um tom misterioso, mas também triste e oprimido. E a causa disso só será realmente revelada (ainda que não por completo) ao final do filme.

Além dos recursos narrativos e da construção de seus personagens, Welles se mostra, mais uma vez, um mestre no domínio da câmera ao saber quando filmar em close up seus personagens em momentos chave, ao mesmo tempo que utiliza a grandeza dos cenários abertos para que o público compreenda as ações que ocorrem escondidas aos olhos de todos. Se até mais da metade do filme tudo se passa na luz, após o assassinato e consequente julgamento de Michael, a obra ganha tons escuros, assumindo totalmente seu clima noir, especialmente na sequência da feira. O grandioso clímax ocorre numa cena magistral com direito a tiroteio em uma casa de espelhos, onde o jogo de câmera alude às personalidades de seus personagens e às revelações que acontecem no local. Recurso que seria imitado muitas vezes por outros diretores ao longo dos anos.

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A Dama de Shanghai não foi muito bem recebido na época de seu lançamento, naufragando nas bilheterias. Só teria reconhecimento, em especial por parte do público e da crítica norte-americana, muitos anos depois, sendo hoje considerado um dos grandes clássicos de seu diretor. Particularmente, é uma obra invejável sobre o exercício de técnica, o que aumenta seus pontos, mas tem uma história que soa clichê e previsível atualmente. Ainda assim, um Welles em grande forma, o que já merece espaço e tempo para assistir e analisar seus erros e acertos. Estes, por sinal, não são poucos.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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Matheus Bonez
7
Daniel Oliveira
8
MÉDIA
4

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