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Crítica


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Sinopse

Uma cadelinha de raça, toda mimada, conhece um vira-lata por quem se apaixona.

Crítica

Quem não gosta de A Dama e o Vagabundo é porque nunca se apaixonou na vida. O longa da Disney foi um tiro no escuro na época de sua produção, já que a história da cadelinha que foge da rica casa de família e se enamora por um cão das ruas não foi baseada em qualquer conto de fadas ou narrativa clássica. Pelo contrário. O filme foi adaptado do livro de Ward Greene. E mesmo que o argumento não seja super original, já que romances entre pessoas de diferentes classes sociais sempre foi e ainda é tema da maioria das histórias de amor que vemos por aí, o diferencial da obra é justamente o relacionamento entre animais como um reflexo da paixão humana.

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No mesmo ano do lançamento do filme, a primeira Disneylândia foi aberta ao público, o que, obviamente, fez Walt Disney destacar ainda mais seu nome mundialmente como grande homem de negócios. Mas era a paixão pelas histórias que o levou até este ponto e este longa em especial foi idealizado a partir de uma situação criada dentro de casa. A cena inicial, em que Lady (ou Lilly, dependendo da adaptação) é entregue dentro de uma caixa embrulhada como presente de Natal de seu dono para a esposa, aconteceu de verdade na família Disney, como a própria Diane Disney Miller, sua filha mais velha, relata no documentário que acompanha a versão home vídeo de A Dama e o Vagabundo. E foi graças a esta ideia apaixonante que o longa começou a ser pensado, logo unido ao livro de Greene. Voilá!

O que temos na tela é um avanço para a tecnologia e os próprios costumes daquela época. Até então, muitos dos cenários de filmes como Cinderela (1950), para citar um caso não muito longínquo da obra aqui analisada, eram estáticos, o que dava mais movimentação para os personagens do que para o resto, resultando num ar quase teatral. Aqui a narrativa é fluida através das imagens, o que acaba compensando o ritmo um pouco mais lento em comparação ao das realizações anteriores do estúdio. Porém, este ritmo é necessário para dar a contextualização necessária à história. Se de início acompanhamos Lady sendo entregue de presente, logo acompanhamos a fofura do seu crescimento e como ela era a paixão do Querido e da Querida (os donos sem nome) até esta engravidar. Fazendo um paralelo muito interessante e divertido entre humanos e animais, Lady fica como a irmã mais velha birrenta do bebê, assumindo caras e caretas.

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Até o nascimento da criança, a viagem de seus donos e a chegada da Tia Sarah com os dois gatos malvados que a fazem fugir de casa, Lady carrega o filme praticamente nas costas como protagonista, já que Vagabundo só aparece ainda muito pequeno, rapidamente e, logo após, quando se interessa ao ver Lady de longe e comenta com Joca e Fiel, amigos e vizinhos da cadelinha. Como numa comédia romântica, ela o rejeita inicialmente por conta das cantadas baratas, mas após sua fuga de casa e a necessidade de lidar com a realidade das ruas, Lady se deixa conquistar e a química entre o casal cresce de forma apaixonante até desembocar numa das cenas mais românticas da história da Disney (e arrisco a dizer que de toda a filmografia mundial): o jantar à luz de velas dividindo um prato de macarrão ao som de "Bella Notte".

Apesar de parecer focado no romance em determinados momentos, A Dama e o Vagabundo se sustenta muito mais por ser um filme sobre o crescimento de sua protagonista, da infância mimada e feliz até a "adolescência" birrenta e ciumenta e o consequente amadurecimento, quando vê que a realidade fora de casa não é fácil. Quando Lady é presa pela carrocinha, acompanhamos um dos momentos mais tristes do filme, que é o destino dos cães sem rua "para virar sabão", como um dos detentos fala. E é nesta prisão que conhecemos outros personagens secundários fascinantes que representam os marginalizados aqui de fora. Temos claramente desde uma (ex?) prostituta a um batedor de carteiras, representados por cães, uma sacada genial do roteiro.

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Até sua resolução final, quase trágica, temos um filme que merece todos os elogios possíveis graças a excelência técnica da produção, um toque de realismo que se revela nos trejeitos mais sutis dos próprios animais e uma história que nunca envelhece, não importa em que época seja contada ou vista. Antes já havia títulos protagonizados por animais, como Dumbo (1941) e Bambi (1942), mas se hoje há vários estrelados por cães, tudo ocorreu por conta da popularidade que A Dama e o Vagabundo alcançou. Uma obra simples em sua essência, mas fascinante em detalhes e com o melhor que a Disney busca oferecer, que é a alma de suas histórias.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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