Sinopse
A Demora: No Uruguai vive uma família pobre que é composta por um velho homem, que esquece as coisas e dá trabalho, por duas crianças e uma mulher, a mãe, que cuida do pai e dos filhos, e é a única que trabalha. Cansada dessa situação, ela tenta achar um abrigo de idosos para o seu pai, mas quando não encontra toma uma decisão drástica.
Crítica
O sensível, porém triste, A Demora saiu do discreto Uruguai para começar a chamar a atenção do mundo ao ser selecionado para o prestigioso Festival de Berlim, de onde saiu com dois prêmios, entre eles o do Júri Ecumênico. E estes foram apenas alguns dos mais de dez reconhecimentos que o longa obteve ao redor do mundo. No entanto, o mesmo permanece inédito do circuito comercial brasileiro, mantendo os espectadores nacionais privados de se depararem com esta história crua e sofrida, mas não menos verdadeira, que revela uma realidade tão típica – e, ao mesmo tempo, tão próxima – deste país que, ainda que vizinho, permanece sendo um quase desconhecido.
A protagonista de A Demora é Maria (Roxana Blanco, premiada como Melhor Atriz no Festival de Biarritz, na França, e em Lleida, na Espanha, além de ter sido indicada ao Ariel, o Oscar do México), uma dona de casa solteira, mãe de três filhos e única responsável pelo pai, um senhor idoso e já bastante dependente. A vida dela é difícil, trabalhando de modo informal em uma fábrica, ganhando alguns trocados com serviços de ocasião. Ou seja, nada muito simples, e que só tende a piorar com as crescentes necessidades paternas. Ela até tenta pedir ajuda para a irmã, mas esta está tão absorvida pelas próprias carências familiares – marido e filhos – que qualquer ajuda que possa oferecer não chega a ser, propriamente, um consolo.
Roxana Blanco estreou no cinema em Alma Mater (2004), ao lado do gaúcho Werner Schünemann, e em menos de uma década marcou presença em meia dúzia de produções. Apesar de ter sido premiada em Havana (com Matar a Todos, 2007) e em Toulouse (com El muerto y ser feliz, 2012), seu trabalho mais aplaudido é mesmo A Demora. A composição que faz dessa mulher diante de uma decisão dura e cruel – quase uma Escolha de Sofia cisplatina – é de arrancar lágrimas de qualquer um. Pois assim como ela precisa defender seus rebentos, há a responsabilidade com aquele que lhe deu a vida. Mas a verdade é que a cada dia que passa se torna mais impossível, dentro dos seus escassos recursos, conseguir atender às duas demandas. E entre pai e filhos, não será sem sofrimento que ela decidirá o que fazer. Ou desfazer.
Rodrigo Plá, diretor de A Demora, já havia chamado atenção internacional com o perturbador Zona do Crime (2007), premiado no Festival de Veneza. Neste novo trabalho ele mantém seu interesse pelo social, pelas transformações econômicas e pelas relações modernas, porém adotando uma delicadeza insuspeita em seu cinema até então. Por mais inacreditáveis que seja os atos dos seus personagens, não só os entendemos como também somos capazes de perdoá-los. A ingenuidade de um, as dificuldades de outro, o distanciamento necessário imposto pela falta: de amor, de dinheiro, de afeto, de respeito. Este é um filme que diz muito, mas com muito pouco. Sua simplicidade é que o torna universal, com a mesma facilidade que será impossível não se identificar com este drama, acima de tudo, absolutamente humano.
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