Crítica
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Sinopse
Neil Bogart viu seu sonho na indústria musical se tornar realidade por conta da crença de que vale a pena tentar.
Crítica
A cena musical utilizada como pano de fundo aos créditos finais de A Era de Ouro resume bem o tom desse filme. No centro, o empresário Neil Bogart (Jeremy Jordan) canta e toca piano depois de ser recebido por um coral gospel semelhante a um grupo de anjos saudando um santo – o verdadeiro Neil morreu precocemente aos 39 anos, vítima de câncer. Na periferia dessa suntuosa apresentação iluminada como se estivesse acontecendo no céu, Donna Summer (Tayla Parx), a banda Kiss, Bill Withers (Pink Sweat$) e outros artistas lançados pela icônica Casablanca Records exercem a função de coadjuvantes. Todas as atenções estão voltadas ao empresário desenhado com um misto de glorificação e romantização, mistura que aqui desafia convenções de bom gosto. Os demais, aqueles que figuram no imaginário popular como grandes artistas, pagam tributo à memória do homem festejado cinematograficamente pelos próprios filhos. O diretor Timothy Scott Bogart e o produtor/supervisor musical Evan Bogart são filhos do sujeito que se tornou lendário na indústria fonográfica norte-americana com seu excepcional senso de oportunidade e uma inclinação à irresponsabilidade – característica devidamente transformada em sintoma da incompreensão dos demais diante do gênio visionário. Os filhos fazem de tudo para o pai ser cristalizado na telona como um sujeito incrível. São duas horas de pura celebração.
A Era de Ouro é uma bagunça tremenda. E grande parte disso se deve ao roteiro dispersivo assinado por Timothy Scott Bogart. Diante da missão de criar um filme a respeito do próprio pai, ele preferiu seguir um caminho aparentemente seguro que aqui podemos chamar de “resuma tudo, não se aprofunde em nada”. Contada pelo protagonista desencarnado, a história começa com o desastroso lançamento da Casablanca Records num show do KISS. A ocasião resultou em convidados molhados e boatos sobre a falta de capacidade financeira da empresa supostamente repleta de satélites agrupados em torno do único sol que pode os iluminar. Ao refletir acerca da sua trajetória, Neil fala da infância na qual foi submetido às encrencas do pai apostador inveterado, comenta a tentativa de sucesso como cantor, confidencia a participação num filme pornográfico e depois se detém na ascensão dentro da disputada indústria fonográfica. A partir dessa perspectiva beatificadora, Timothy não descarta das controvérsias, mostrando o contato de Neil com as drogas, as complicações do caso extraconjugal com a empresária de uma das bandas de seu selo em ascensão e os vários rompantes de egocentrismo (sempre sugeridos como algo competente aos gênios). No entanto, até as polêmicas são orientadas por um olhar disposto até mesmo a colocar o filme em risco se isso garantir a romantização póstuma de Neil.
O protagonista “passa pano” para o pai vivido por Jason Isaacs, fazendo ouvido de mercador e vista grossa diante de comportamentos irresponsáveis, sucessivamente o colocando num pedestal de adoração. É exatamente isso que Timothy faz ao retratar Neil como feixe de luz que atravessou brevemente o obscuro mundo da música e o iluminou com a sua genialidade. Além disso, o diretor de A Era de Ouro é simplesmente incapaz de capturar a atmosfera fervilhante do cenário artístico-cultural dos Estados Unidos nos anos 1970/80. Diante do filme, é como se ouvíssemos uma música sobre a dor de alguém apaixonado e, pela ausência de algo a mais, a melodia e a letra não nos emocionassem por associação e/ou identificação. Não há espessura dramática na leitura desse universo artístico repleto de egos inflados, gângsteres irritados e mentes incompreendidas jogando na cara de executivos engravatados o que paga seus salários. O longa não expressa as nuances, deixa de lado as particularidades dos bastidores, negligencia a participação de talentos brilhantes e tudo para quê? A fim de manter intacta a homenagem descarada a um homem gradativamente elevado ao Olimpo dos visionários mal compreendidos por um mercado repleto de gente medíocre. Mas, até para funcionar o tal contraste entre o garoto de ouro e o entorno degradado seria preciso investigar melhor esse cenário fascinante.
A Era de Ouro é um amontoado de perspectivas que se cruzam quase de modo aleatório. As frações da vida de Neil Bogart são apresentadas e costuradas burocraticamente. As simetrias com a vocação do pai pelo risco, a relação com a esposa apagada (Michelle Monaghan), os entendimentos com artistas e outros agentes desse universo repleto de glamour são rubricas sem desenvolvimento. Os elementos fundamentais são tratados como acessórios dispensáveis nessa ode romântica. Já os coadjuvantes existem apenas em função do brilho do protagonista, pois têm pouco espaço para expressar as suas subjetividades. Eles existem estritamente para serem iluminados pelo astro-rei que morreu cedo demais depois de, segundo o filme, escandalizar todo mundo com a sua coragem vanguardista. E sobre os papeis femininos? Não são menos fragilizados pela atenção excessiva aos feitos de Neil. Exemplo disso é o fato de que a mãe dele aparece apenas durante segundos, sendo presenteada com uma casa enquanto o marido se deleita com um carro novo. Nesse filme visualmente pobre, Timothy sequer investiga a estratégia do pai Neil de criar novas personas de acordo com sua área de atuação, tratando isso como outro tijolinho extravagante no muro que pretensamente separa os gênios dos meros mortais. Sobre a música? Nem ela empolga nesse retrato chapa-branca, simplório e cansativo.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 3 |
Alysson Oliveira | 2 |
Francisco Carbone | 2 |
Ticiano Osorio | 2 |
MÉDIA | 2.3 |
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