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Crítica


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Sinopse

Depois de ficarem presos no Mundo Perdido, Crash e Eddie acaba sendo resgatados por Buck. O trio começa uma missão para evitar que aquele lugar seja dominado por dinossauros.

Crítica

Até pelo nome do personagem escolhido para essa insuspeita homenagem – Buck Wild, ou seja, Buck ‘Selvagem’ – era de se esperar que esse sexto episódio da saga A Era do Gelo, por mais que tenha cara de spin off – ou seja, não exatamente uma sequência, mais uma história alternativa, protagonizada por um personagem até então coadjuvante, que se desenvolve em paralelo à trama principal – fosse mais ousado e, até mesmo, independente dos eventos conhecidos por aqueles que acompanham tais histórias. Bom, não é exatamente o que acontece no filme dirigido por John C. Donkin (em sua estreia como realizador, até então conhecido por ter produzido os longas anteriores e a série Invencível, 2021, entre outros trabalhos). Apesar dos créditos do realizador, aqui se revela bastante comedido, como se constrangido ao assumir os destinos de figuras que fazem parte do imaginário popular dos fãs de animações em geral. Assim, A Era do Gelo: As Aventuras de Buck não é nenhuma coisa, nem outra – nada divertido, nem mesmo original; menos uma continuação, mas não também uma proposta independente.

Para começo de conversa, apesar de anunciado no título, Buck não é o protagonista. Essa posição recai sobre os dois gambás Crash e Eddie. Irmãos adotivos da mamute Ellie, estão cansados dos conselhos, orientações e constante supervisão da mana de tamanho avantajado, e decidem enfrentar a vida por conta própria. Solteirões convictos, são imaturos e irresponsáveis por natureza, e desse modo desejam continuar – sem se darem conta, no entanto, que é graças aos cuidados dela que até hoje seguem vivos. Assim que a dupla desaparece – escapam no meio da noite, justamente para evitar que sejam demovidos da ideia – os que ficam para trás se dão conta de que não tardará para que se metam em encrenca, e por isso partem no encalço deles. A expedição é liderada por Ellie e o marido, Manny, seguidos pelos melhores amigos do casal, o tigre-dentes-de-sabre Diego e a preguiça Sid. O que irá se passar nesse âmbito da história não guarda surpresas: uma jornada linear, que busca um reencontro que, obviamente, apenas no momento em que mais são necessários irá ocorrer.

Enquanto Crash e Eddie estão sozinhos, o tom é de uma comédia de erros, com ambos escapando da morte certa invariavelmente por um lance de sorte de último minuto. Ou seja, não só é previsível, como repetitivo. A intenção deles é voltar ao Mundo Perdido, um paraíso climático habitado por dinossauros e outros seres perigosos escondido em uma posição intermediária entre o interior do planeta e a camada de gelo superior. Esse mesmo cenário foi visitado pela primeira vez em A Era do Gelo 3 (2009) – capítulo que marca, também, a estreia de Buck Wild, dublado no original por Simon Pegg. Não por acaso, ele é o único do elenco de vozes dos demais filmes que retorna: John Leguizamo (Sid), Ray Romano (Manny), Denis Leary (Diego) e Queen Latifah (Ellie) são substituídos pelos desconhecidos Jake Green, Sean Kenin, Skyler Stone e Dominique Jennings. O desnível de estrelato entre os dois “times” (o de antes e o de agora) é um bom indicativo do cuidado recebido por esta incursão atual.

Somente quando, enfim, chegam ao destino almejado, é que Buck aparece. Mas esse também tem outras preocupações, e essas se resumem a ter que enfrentar um novo vilão, um dinossauro diminuto, porém de cérebro avantajado, que se encaixa sem muito esforço no estereótipo do gênio do crime que quer conquistar o mundo (como se isso fosse possível diante das condições apresentadas, mas tudo bem). Orson (voz do comediante Utkarsh Ambudkar, visto há pouco na série Eu Nunca..., 2021) é um tipo com planos megalomaníacos auxiliado por um exército de dinossauros ágeis, porém pouco inteligentes, que o obedecem cegamente atraídos pelo fogo que ele acredita controlar. Nada que seja capaz de fazer frente às artimanhas de Buck – que, por sinal, dificilmente fica sozinho: se não ao lado dos irmãos atrapalhados, é com a doninha Zee que se ocupa, numa dinâmica de competitividade e sedução que não chega a ser bem desenvolvida nem por um lado, muito menos para o outro. É como se fosse apenas mais um ponto da cartilha a ser preenchido, aquele que afirma ser preciso uma personagem feminina em posição de destaque para afirmar o caráter politicamente correto do projeto. Por mais que a função dela na trama seja quase nula.

Quando, portanto, estão novamente juntos e a tal ameaça é dissipada sem maiores problemas, o que resta é apenas um discurso bastante protocolar, para não dizer ingênuo, a respeito das novas famílias e da necessidade de cada um de encontrar seu lugar no mundo – ou seja, a mesma conversa que vem sendo martelada desde o longa de estreia, A Era do Gelo (2002), lançado há exatas duas décadas! Em A Era do Gelo: As Aventuras de Buck, esse é não mais do que um coadjuvante de luxo, os dois que, de fato, fazem com que os eventos tenham início são tão aleatórios que somente os mais atentos permanecerão curiosos a respeito dos dois até o final, e quanto aos tipos mais conhecidos, com esses pouco acontece, deixando evidente que tudo que dessa vez é visto é não mais do que uma nota de rodapé em suas biografias. Ou seja, se antes se apresentavam como frutas viçosas e com muito a ser extraído, o que se confirma é que tudo que havia para ser aproveitado há muito se fora, restando apenas um bagaço sem muita utilidade. Pra piorar, nem sinal do esquilo pré-histórico Scrat – é a primeira vez, dentro de toda a série, que a figura-símbolo da franquia não dá às caras. A frustração pela ausência só não é maior pois, caso estivesse envolvido em tamanho desperdício, apenas contribuiria com a revolta pelo descaso que se percebe por todo o conjunto. Melhor seria ter parado antes.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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