Crítica
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Sinopse
Um jovem alemão presta serviços voluntários no museu de Auschwitz, cuidando também de um sobrevivente do campo de concentração que mora nas proximidades, um velho teimoso que o trata com arrogância e impaciência. Até que um romance iniciado com uma intérprete dará novo sentido ao seu cotidiano, apesar das marcas indissociáveis entre o passado e o presente daquele lugar.
Crítica
Até que ponto realmente somos o resultado das ações dos nossos antepassados e fruto do meio em que vivemos? Essa é a questão principal enfrentada por Sven, protagonista do drama À Espera de Turistas, que finalmente chega ao mercado exibidor brasileiro após cinco anos de atraso. As indagações do jovem rapaz alemão começam quando ele é enviado, como forma de cumprir seu período de alistamento militar, a trabalhar como voluntário em Auschwitz, na Polônia. E o que deveria ser apenas um ano perdido, algo a ser cumprido na tabela como qualquer outra obrigação inquestionável, logo adquire o status de experiência transformadora, mudando sua visão de mundo e objetivos futuros. Afinal, lá estará à serviço daqueles que foram explorados, violentados e abusados pelos nazistas, no palco de algumas das maiores atrocidades que a humanidade enfrentou no último século. Mas o que os tempos de paz significam em situações como essa?
Apesar de sua juventude, ela nada representa aos olhos daqueles que o veem apenas como “o alemão”. Sven não fazia ideia do que lhe esperaria, e o cotidiano neste novo lugar não será nada fácil. O centro de memória em que passa a trabalhar atua não somente atendendo o público turista, mas também preservando a história e as lembranças vivas que por ali ainda se encontram. Como Stanislaw, um senhor de mais de 80 anos, sobrevivente dos horrores de Auschwitz e ainda morador local. Muitos lhe perguntam como ele consegue ainda viver ali, no lugar onde guarda as piores lembranças de sua existência. E a resposta vem na própria pergunta: “pois aqui vivi minha vida e, como tal, sou lembrança viva a todos que me veem do que aqui aconteceu”. Claro que em Sven esse lembrete será ainda mais indicativo do que ele precisa amadurecer enquanto ser humano.
Sven se torna guardião de Stanislaw como parte de suas tarefas. A convivência entre os dois, no princípio truncada, com o passar do tempo ganhará ares de admiração e respeito. O mesmo acontece com Ania, outra habitante da região, mas jovem como ele. Ela não está ali por opção, e enquanto trabalha como guia turística busca, de todas as formas possíveis, o bilhete da sorte que a levará para bem longe: uma faculdade, um emprego, uma paixão. O que fica claro é que não será qualquer passatempo que irá lhe distrair desse objetivo final. E Sven, por mais que sonhe em cruzar esse caminho, não possui força suficiente para alterá-lo. Quem precisa mudar é ele, e o tempo passado em Auschwitz será mais que suficiente para que esse processo se complete.
Sven é interpretado por Alexander Fehling, visto posteriormente em filmes como Bastardos Inglórios (2009) e Se Não Nós, Quem? (2011). Essa maior exposição é fruto direto do desempenho aqui demonstrado. Seu trabalho em À Espera de Turistas lhe rendeu reconhecimentos como o prêmio de Melhor Ator no Festival de Munique, enquanto que o filme, além de ter sido selecionado para o Festival de Cannes, ganhou o Bavarian Film Awards, uma das mais importantes premiações alemãs. Conquistas justas que qualificam ainda mais essa obra madura e envolvente, que oferece aos olhos do século XXI uma oportunidade não só de reflexão sobre um dos mais graves episódios da história humana, como também uma amostra de como os próprios alemães estão aprendendo a lidar com um passado cruel, mas prontos para um futuro auspicioso e muito mais solidário.
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