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Sinopse

Num mundo pós-apocalíptico há escassez de água, comida e até de vegetação. Nesse contexto abruptamente transformado vivem pai e filho, rumando esperançosos rumo ao oeste dos Estados Unidos.

Crítica

Baseado no romance de Cormac McCarthy (de Onde os Fracos não têm Vez, 2008), o roteiro de A Estrada é assinado por John Penhall, que consegue captar com perfeição toda a atmosfera desoladora do livro, sendo totalmente fiel ao seu material de origem. Na trama, inexplicavelmente, um evento cataclísmico eliminou animais, vegetação e boa parte da população do mundo. Neste cenário pós-apocalíptico, um homem (Viggo Mortensen) e seu filho (Kodi Smit-McPhee) viajam por uma estrada nos Estados Unidos tentando chegar ao sul. Seu principal desafio é sobreviver sem provisões, sempre com medo de outras pessoas que possam cruzar seu caminho.

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Desolador é a palavra certa para resumir A Estrada. Nunca sabemos o que aconteceu para que a Terra ficasse daquele jeito, mas observamos os terríveis impactos do evento a longo prazo. É no mínimo desconcertante aquela realidade. Humanos tendo de apelar ao canibalismo, a compaixão praticamente inexistente, as suspeitas para com o próximo sempre em nível alto. Acompanhamos a dupla que, provavelmente, é a última que carrega “a chama” – metáfora usada pelo homem para designar bondade. No entanto, a estrada poderá exigir que até os bonzinhos tenham de visitar o lado negro em alguns momentos. A forma como pai e filho sobrevivem neste planeta em frangalhos é o que faz a narrativa andar.

O roteirista John Penhall merece aplausos por conseguir resumir muito bem a trama tecida por Cormac McCarthy em seu livro. O roteiro de A Estrada é fidelíssimo aos escritos do consagrado autor, surgindo até mais interessante em alguns momentos. Enquanto que McCarthy apresenta alguns eventos que até redundam (a dupla encontrando duas vezes alimentos enlatados em sua jornada), Penhall é sabiamente econômico, cortando a gordura do livro e se atendo ao estritamente necessário para contar sua história. Praticamente tudo o que aparece no filme está no livro. Algumas mudanças na ordem dos fatos aqui e acolá, mas nada que altere o contexto da história.

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Outro ponto positivo é o elenco, muito bem escalado. Viggo Mortensen novamente comprova ser um ator interessante, dando ao homem (os personagens não têm nome) a gravidade esperada para enfrentar aquele momento, mas nunca esquecendo da doçura para com o filho. Ele entende que sua jornada é praticamente uma corrida por ouro de tolo, mas tenta não dividir isso com o garoto, que sempre se preocupa em manter-se no lado correto. Sabendo que está doente e que não viverá por muito tempo, o pai acaba se preocupando em deixar o filho preparado para enfrentar o mundo sozinho. Mas nada que ele faça poderá deixar o menino pronto para o desafio sobre-humano de sobreviver numa Terra cinza e sem vida. Kodi Smit-McPhee enfrenta o desafio de dividir praticamente o filme inteiro com Mortensen e se sai incrivelmente bem na tarefa.

Com apenas uma pequena participação, mas digna de nota, Robert Duvall nos faz desejar que o veterano ator seja convidado para mais bons papéis como este. Em poucos diálogos, ele dá o tom desolador daquele velho homem que não desiste de andar, mesmo sabendo que seu futuro não é nada animador. Uma excelente perfomance e um dos momentos mais pungentes da história. Também em pequena, mas impactante participação, Charlize Theron dá as caras como a trágica figura materna daquela família, que não segue a jornada com o marido e o filho.

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A fotografia de Javier Aguirresarobe (dos excepcionais Os Outros, de 2001, e Fale com Ela, de 2002) capricha na tonalidade cinza para dar ao filme uma característica suja e maltrapilha, assim como os personagens que passeiam naquele mundo - trabalho esse indicado ao BAFTA de Melhor Fotografia. O diretor John Hillcoat (Os Infratores, de 2012), sabiamente, prefere filmar em locação e evita com isso o visual plástico dos efeitos especiais. Com isso, a atmosfera de solidão, frio e tristeza são palpáveis. Em suma, um ótimo longa-metragem, que nos faz refletir e até temer um futuro tão sombrio.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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