A Face do Mal
Crítica
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Sinopse
Um jovem tímido e pouco sociável inicia uma amizade com sua nova vizinha. Juntos, eles passam a explorar a casa que os pais do garoto acabam de comprar, sem saber que o imóvel é assombrado.
Crítica
Jacki Weaver foi indicada ao Oscar duas vezes nos últimos quatro anos pelos seus ótimos trabalhos em Reino Animal (2010) e O Lado Bom da Vida (2012). A lembrança da Academia colocou a veterana atriz australiana no radar de Hollywood, fato que a fez trabalhar com o diretor sul-coreano Park Chan-Wook em sua estreia em uma produção em língua inglesa, Segredos de Sangue (2013) e, ainda neste ano, com Woody Allen em Magic in the Moonlight (2014). Por essas e outras é tão difícil entender o que fez Weaver aceitar aparecer em uma produção tão genérica e sem propósito como A Face do Mal.
O estreante Mac Carter dirige o roteiro do também novato Andrew Barrer e o resultado acaba sendo uma produção sem brilho, com muitas ideias recicladas e de pouquíssimos sustos. Para começar, a história retrabalha o velho conceito da casa mal-assombrada. Na trama, a família do jovem Evan (Harrison Gilbertson) acaba de se mudar para uma nova residência, tida pela vizinhança como um lugar amaldiçoado. Ali, morava a doutora Janet Morello (Weaver), mulher que perdeu seus três filhos e o marido em circunstâncias macabras. A adaptação de Evan à nova casa tinha tudo para ser problemática, mas ao conhecer sua vizinha Sam (Liana Liberato), os dois logo iniciam um relacionamento. Ela sofre com maus tratos com o pai alcóolatra e a fuga de casa para os braços de Evan parece ajudá-la. Infelizmente, estranhos acontecimentos naquela amaldiçoada residência podem dar um fim àquele novo namoro.
É verdade que é dificílimo fazer algo novo na seara "casa assombrada". Todas as boas ideias já foram feitas e cada nova tentativa parece ser um remake da anterior, com algum tipo de perfumaria a diferenciá-la. Carter aqui parece atirar para vários lados. Temos a criança que parece se comunicar com a entidade que assombra o local (sem qualquer tipo de desenvolvimento), temos o porão que serve como marco zero das manifestações macabras, os pais que não acreditam no sobrenatural. As tentativas de susto são sempre iguais: algum barulho alto misturado a um vulto invadindo a tela. Nada de muito novo.
Para não dizer que A Face do Mal é completamente derivativo, a ênfase no segundo ato para o relacionamento entre Evan e Sam é uma tentativa de mudar os ares das tradicionais fitas de terror. Em vez dos sustos, das mortes e do sangue, Mac Carter aposta em desenvolver o namoro entre os dois jovens para que o espectador se importe com o destino dos seus protagonistas. Escolha que pode alienar os fãs do gênero, que buscam exatamente os sustos em detrimento do romance. Fosse só isso, o filme talvez se salvasse. O problema é que o roteiro não se dá ao trabalho de investir no passado dos dois. Sam sofre com o pai. E é isso que sabemos. Evan está ali a contragosto. Ponto final. Não temos informações a respeito de ambos, deixando tudo muito raso. Não fosse a boa performance dos jovens Harrison Gilbertson e Liana Liberato, que cativam como Evan e Sam, A Face do Mal seria insuportável. Nem Jacki Weaver, o grande nome do elenco, consegue se sobressair, aparecendo muito pouco. O personagem, em tese, poderia ser bom no papel. Mas não acaba mostrando a que veio no filme.
Com a inexistência de bons sustos e com um mistério sem muita lógica, o longa-metragem de Mac Carter desperdiça boas ideias sem explorá-las a contento. Para que serve a máquina que se comunica com o além? O início do filme é intrigante, com um homem aos prantos utilizando-a para invocar seus filhos. No decorrer da trama, no entanto, o aparelho é usado mais algumas vezes sem muita finalidade. E some sem deixar saudades. O grande mistério da trama é revelado de forma apressada no desfecho, numa tentativa ridícula de chocar o espectador com uma surpresa sem sentido. Vontade de deixar pontas soltas para uma continuação? Melhor conseguir construir um bom filme da primeira vez e, se tiver sucesso, pensar na sequência. Não é o que Carter faz em A Face do Mal, um filme que nem os fãs mais fervorosos do gênero conseguirão aturar.
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