Crítica
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Sinopse
Crítica
Criada pelo norte-americano Charles Addams, A Família Addams teve sua origem em tiras publicadas na revista The New Yorker, no final dos anos 1930, vindo a, de fato, conquistar o grande público, bem como seu lugar no imaginário da cultura pop, através da cultuada série de TV exibida originalmente entre 1964 e 1966, e estrelada por Carolyn Jones e John Astin. Tendo sido adaptada ainda para um seriado animado em 1973, a criação de Addams viria a ganhar as telas dos cinemas apenas no início da década de 1990, período que se mostrava propício para tal revival, com o sucesso de filmes como os de Tim Burton – Os Fantasmas Se Divertem (1988) e Edward Mãos de Tesoura (1990) – provando a abertura do público a um tipo de humor-negro, de tintas levemente macabras, embalado por um visual gótico moderno. Não à toa, Burton teria sido o primeiro nome especulado pelos produtores para assumir a adaptação.
A produção, contudo, acabou nas mãos de Barry Sonnenfeld, até então reconhecido por seu trabalho na direção de fotografia – em particular, nos primeiros longas dos irmãos Joel e Ethan Coen: Gosto de Sangue (1984), Arizona Nunca Mais (1987) e Ajuste Final (1990) – que realizou, assim, sua estreia como cineasta, reapresentando todos os membros originais da peculiar família: o patriarca Gomez Addams (Raul Julia), com seu gosto pela esgrima e especial queda pelas frases em francês proferidas por sua bela esposa, Mortícia (Anjelica Huston), seus filhos Wednesday/Wandinha (Christina Ricci) e Pugsley/Feioso (Jimmy Workman), a Vovó (Judith Malina), o mordomo Lurch/Tropeço (Carel Struycken), Coisa/Mãozinha – uma mão sem corpo e com vida própria – e o Primo It (John Franklin). A trama tem início com Gomez lamentando a ausência de 25 anos de seu irmão, Fester/Chico, do qual ninguém sabe o paradeiro. Fato que serve como gatilho para um plano arquitetado por Tully Alford (Dan Hedaya), contador/advogado dos Addams.
Ao perceber a semelhança física entre Fester e Gordon (Christopher Lloyd), filho de uma implacável agiota (Elizabeth Wilson), para a qual deve grande quantia em dinheiro, Tully sugere que este se passe pelo desaparecido irmão de Gomez – criando uma história na qual teria naufragado no Triângulo das Bermudas – a fim de tomar posse do tesouro mantido no porão da Mansão Addams. A premissa bastante simples, até mesmo ingênua, se desenvolve rapidamente, após a apresentação das excentricidades da família, que começa já no prólogo, onde despejam um caldeirão de líquido fervente sobre um coral natalino. Sonnenfeld joga o tempo todo com essa inversão de valores, com os Addams representando o oposto do arquétipo da família norte-americana perfeita, desde os diálogos – “Infeliz, querida?”, questiona Gomez sorridente ao ver sua amada acordando – até as situações que formam o cotidiano familiar – como Mortícia podando as pétalas das rosas e mantendo apenas os caules no vaso.
Essa repetição por vezes soa demasiadamente calculada, esquemática, o que acaba tirando a espontaneidade de parte das gags, por mais que muitas delas sejam realmente bem elaboradas e ainda resultem divertidas. O tom excessivo é acentuado pelo fato de Sonnenfeld se concentrar quase por completo no ambiente da mansão, não explorando plenamente o contraste entre o universo particular dos protagonistas e “mundo normal”. Quando esporadicamente aposta nessa dissonância, o diretor obtém alguns dos momentos mais inspirados do longa, como a sequência do teatro escolar, na qual Wednesday e Pugsley apresentam uma montagem shakespeariana banhada por litros de sangue falso. Tal incorreção no humor, presente, sobretudo, na dinâmica entre Wednesday e o irmão, e que surge como principal ferramenta na tentativa de atingir a subversão, carrega, no entanto, uma dose de inocência que transparece no desenvolvimento da trama.
As resoluções muitas vezes soam pueris e até mesmo apressadas, especialmente no terceiro ato, no qual o ritmo se apresenta mais desequilibrado. Apesar dos percalços, Sonnenfeld conta com dois grandes trunfos, sendo o primeiro, o elemento visual. Unindo uma montagem ágil a uma direção de fotografia que ressalta o aspecto cartunesco da ação – vide as sequências envolvendo o Coisa, quase todas filmadas em sua perspectiva, próxima ao chão, como aquela em meio ao trânsito da cidade – o cineasta cria uma estética particular muito bem resolvida (exceção feita, talvez, ao clímax em que os efeitos visuais não envelheceram tão bem) sabendo ainda explorar habilmente a ambientação da mansão, com suas armadilhas e passagens secretas. O design de produção rebuscado, assim como os figurinos de Ruth Myers – indicada ao Oscar pelo trabalho – complementa esse apuro estético que se sobressai em cenas como a da festa em que Gomez e Fester dançam a “Mamushka”.
O principal acerto de A Família Addams, porém, está na escolha de seu elenco. Raul Julia incorpora com precisão o charme e a vivacidade de Gomez, num papel que marcaria o final de sua carreira – o ator porto-riquenho viria a falecer menos de um ano após o lançamento da sequência, A Família Addams 2 (1993). Sua química com Anjelica Huston, que dá vida a uma Mortícia de delicadeza fúnebre e dona de algumas das melhores frases de efeito do roteiro – em atuação que lhe valeu uma indicação ao Globo de Ouro - é um dos pontos altos do longa. Outro destaque é Christina Ricci, como Wednesday, numa personagem que definiria a persona de garota sombria que carregaria durante grande parte de sua carreira, em projetos como A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (1999), do já mencionado Tim Burton. Por fim, temos Christopher Lloyd empregando todo seu carisma à jornada de transformação de Gordon/Fester. Um elenco que definitivamente eleva o resultado final do produto, fazendo deste um sucesso de bilheteria que garantiu a produção da citada continuação, também dirigida por Sonnenfeld.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Leonardo Ribeiro | 7 |
Ailton Monteiro | 6 |
Chico Fireman | 7 |
Francisco Carbone | 7 |
Suzana Uchôa Itiberê | 7 |
Lorenna Montenegro | 9 |
MÉDIA | 7.2 |
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