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Sinopse

Após entrar para o programa de proteção à testemunha, uma família americana ligada à máfia é transferida para a França. De início eles se adaptam à nova vida, mas aos poucos os velhos hábitos da máfia voltam à tona e eles passam a resolver os problemas que surgem a seu modo.

Crítica

Produzido por Martin Scorsese, que realizou clássicos como Taxi Driver (1976) e Touro Indomável (1980), e dirigido por Luc Besson, o mesmo de Nikita (1990) e O Profissional (1994), A Família tinha tudo para ser um grande filme. Aumentando ainda mais as expectativas, à frente do elenco está um trio de protagonistas de talentos superlativos: Robert De Niro, Michelle Pfeiffer e Tommy Lee Jones. Porém, é triste perceber que tamanha combinação resultou em algo morno, para não dizer constrangedor, que apenas recicla velhos clichês, defendidos por intérpretes preguiçosos e conduzidos de mão frouxa pelo cineasta. Se os astros soam desinteressados e Besson em ponto morto, a influência de Scorsese deve ter se refletido apenas na escolha da trama e do protagonista, pois nada do que se vê aqui poderá remeter o espectador aos melhores momentos de sua premiada filmografia.

Após dirigir há dois anos o drama inspirado em fatos reais Além da Liberdade (2011), um título estranho ao perfil de obra com a qual está acostumado a trabalhar, o francês Luc Besson volta às telas com essa comédia de ação que, ao mesmo tempo em que não provoca graça, também deixa a desejar no quesito adrenalina. Robert De Niro repete pela enésima vez o personagem que interpretou nos dois episódios da série Máfia no Divã (1999 e 2002), o gângster abrutalhado que se vê envolvido em situações fora do seu controle. Aqui ele é o chefe da família Manzoni, que é obrigado a entrar em um programa de proteção de testemunhas depois de delatar para a polícia antigos colegas de crime. Assim, ele e a esposa (Michelle Pfeiffer, com uma irritação latente que parece ser mais da atriz, por ter aceito este papel, do que da personagem, por ter sua vida revirada de cabeça para baixo), acompanhados dos dois filhos adolescentes (Dianna Agron e John D’Leo) são mandados para o sul da França, onde passarão a ser conhecidos como os Blake.

Se a primeira metade do enredo é composta por tentativas infelizes de fazer humor a partir dos conflitos culturais que surgem naturalmente entre ítalos-americanos obrigados a viver como franceses – tudo que comem é com queijo, nenhum dos moradores locais possui muita paciência com os visitantes, etc – na parte final um outro filme se impõe. É quando, após uma coincidência absurda – só possível graças a um roteiro pouco criativo – os mafiosos na América descobrem onde os desafetos estão escondidos e enviam um verdadeiro pelotão de criminosos para acabarem com eles. Seria o momento de Tommy Lee Jones, como o responsável pela segurança da família, mostrar a que veio. Mas nesse ponto nem ele, muito menos o espectador, tem o menor interesse sobre o que irá acontecer a seguir.

Se há passagens curiosas em A Família, essas estão reunidas no trailer que, mesmo sem apresentar nada de novo, ao menos tenta oferecer uma ventilação a um tema bastante batido. No entanto, não é o que se vê na tela, e se De Niro e Pfeiffer continuam em boa forma – e performances recentes em O Lado Bom da Vida (2012) e Chéri (2009), respectivamente, mostram isso – aqui a impressão que se fica é que só aceitaram o convite para dividirem a cena mais uma vez, após o divertido Stardust: O Mistério da Estrela (2007). No entanto, a produção em nenhum momento se justifica, e mesmo a piada mais aguardada – a que mostra o protagonista tendo que ver a comentar o clássico Os Bons Companheiros (1990), estrelado pelo próprio De Niro e dirigido por Scorsese – é desperdiçada sem muita cerimônia. E sem contentar ninguém, tudo que este trabalho descartável merece é a irrelevância.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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