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Sinopse

Willy Wonka é o excêntrico dono da maior fábrica de doces do planeta, que decide realizar um concurso mundial para escolher um herdeiro para seu império. Cinco crianças de sorte, entre elas Charlie Bucket, encontram um convite dourado em barras de chocolate Wonka e com isso ganham uma visita guiada pela lendária fábrica de chocolate, que não era visitada por ninguém há 15 anos. Encantado com as maravilhas da fábrica, Charlie fica cada vez mais fascinado com a visita.

Crítica

Há uma certa névoa em torno da versão original de A Fantástica Fábrica de Chocolate, lançada em 1971. É difícil avaliá-lo com precisão. Os que o assistiram na infância o consideram um clássico do imaginário infantil, repetido à exaustão em matinês televisivas sempre com uma nostalgia carinhosa; já os que o conferem na idade adulta podem, no máximo, considerá-lo simpático em um ou outro momento. É uma obra que, definitivamente, envelheceu, ficou presa a um tempo passado. E, nestes casos, nada melhor do que uma atualização, de uma ‘modernização’. Justamente o que Tim Burton faz genialmente no novo A Fantástica Fábrica de Chocolate, longa que guarda poucas semelhanças com a adaptação anterior do livro do escritor Roald Dhal.

A grande diferença é perceptível apenas nos títulos originais dos dois filmes. Se o anterior se chamava Willy Wonka and the Chocolate Factory (Willy Wonka e a Fábrica de Chocolate), deixando claro que o foco era o exótico proprietário da indústria de doces, a refilmagem optou por manter o mesmo nome da fonte literária: Charlie and the Chocolate Factory (Charlie e a Fábrica de Chocolate), possibilitando um retorno da atenção ao menino que ganha uma rara oportunidade de conhecer por dentro aquele universo de doces e sonhos. O próprio Dhal afirmava nunca ter gostado muito do primeiro filme, tanto que sua família relutou em liberar os direitos do texto para a realização de um outro. Foi só quando Burton se comprometeu em ser mais fiel ao livro, fazendo alterações só quando necessárias, que a permissão foi concedida. E o cumprimento da promessa está na tela: o novo filme realmente mantém o espírito original, servindo como crítica ao mau comportamento infantil, ao mesmo tempo em que consegue entreter adultos com muita cor e inteligência.

Para quem não é familiarizado com a trama, um resumo básico: Willy Wonka é o dono da maior fábrica de chocolate do mundo. Recluso há 15 anos por medo de espionagem industrial, decide realizar um concurso mundial e permitir que cinco crianças, as que encontrarem os tickets dourados escondidos nas barras de chocolate, possam fazer uma visita guiada pela fábrica. Seu objetivo, como descobriremos depois, é encontrar entre elas uma que possa ser sua sucessora. Enquanto isso, acompanhamos o drama do pequeno Charlie, um menino que mora com os pais e os quatro avós num casebre caindo aos pedaços, mas que mesmo assim mantém a esperança por uma vida melhor. E será por acreditar em seus sonhos que acabará como ganhador de um dos ingressos premiados, um vale que permitirá um incrível passeio que mudará sua vida para sempre.

São muitos os méritos dessa nova versão de A Fantástica Fábrica de Chocolate. O filme é superior ao anterior em praticamente todos os quesitos: é mais ágil, surpreendente, melhor construído, com interpretações mais definidas e com uma direção que realmente conduz o espectador a uma reflexão sobre o que discorre em cena, e não a uma mera conclusão de que “o mal deve sempre pagar por seus pecados, não importando quão alto seja este preço”. O grande momento do enredo são as apresentações das cinco crianças: Violet Beauregarde, uma garota extremamente competitiva; Augustus Gloop, o glutão; Mike Teavee, um jovem viciado em novidades tecnológicas; Veruca Salt, a filha pedante e mimada de um casal inglês, e Charlie, o mais humilde deles. Ou seja, cada uma delas – com exceção do protagonista – representa uma falha de educação, refletindo comportamentos que podem destruir suas percepções de mundo, estragando futuros adultos que teriam a responsabilidade de garantir um amanhã ainda melhor.

Mas não só os pequenos estão no centro da atenção. Dessa vez, apesar da mudança no título, o próprio Willy Wonka ganha um maior destaque. Seu drama familiar estará presente, quando somos convidados a conhecer momentos de sua criação através de pertinentes flashbacks que o colocam ao lado do severo pai (Christopher Lee). Este passado é melhor explorado através deste adendo familiar, que oferece uma luz ao dilema do personagem: com uma figura paterna rígida que, por infelicidade do destino, era um renomado dentista e, por isso mesmo, sempre fora contra os doces, como a criança poderia prever o que o futuro lhe reservava? Este conjunto de contradições compõe um painel relevante e necessário ao entendimento maior da trama.

Além de ensinar e servir como alerta, esta viagem encanta também pela detalhada direção de arte, por figurinos encantadores – indicados ao Oscar – e por uma trilha sonora envolvente, que oferece também um olhar diferenciado aos Oompa-loompas. A música desenvolvida por Danny Elfman é mais um ponto a favor dentre tantos, assim como as performances revolucionárias destes ajudantes, todos interpretados por Deep Roy, que realmente conferiu alma à sua participação, ao invés das aparições apagadas dos anões do filme antigo. As coreografias que desempenham e suas aparições inusitadas são motivos de espanto e surpresa, garantido uma fruição e um entretenimento ainda mais eficaz.

Um resultado como esse só poderia sair da imaginação de um diretor como Tim Burton. Apesar de ser um remake, está longe de se apresentar como uma obra comercial e despersonalizada como o único outro caso de mesma origem na filmografia do cineasta – o malsucedido Planeta dos Macacos (2001). Ainda que sua trama seja universal e facilmente reconhecida, são tantos os elementos próprios expostos durante o desenrolar da história que até o mais desavisado saberá se tratar de uma típica obra burtoniana. E isso, antes de ser um fator limitante, é um imenso elogio.

Temos uma obra colorida, movimentada e surpreendente. Johnny Depp – indicado ao Globo de Ouro – está fantástico, eclipsando com efeito a interpretação do também competente Gene Wilder, que abusava mais da melancolia e menos do comportamento histriônico do personagem. Freddie Highmore (que havia atuado ao lado de Depp no oscarizado Em Busca da Terra do Nunca, 2004) se ajusta perfeitamente em sua seriedade e encantamento como o menino que nunca deixou de sonhar. A Fantástica Fábrica de Chocolate é uma obra estranha, cruel no seu modo de ser e severa em suas lições, mas que oferece recompensas à altura dos méritos presentes. Muito mais uma experiência do que uma história sendo contada, traz consigo uma lição que deve ficar retida na memória, mas não como algo perdido na infância, e sim com um lema a ser sempre renovado.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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