Crítica

Ganhador do Prêmio Especial do Júri no Festival do Rio 2013, esse documentário da dupla Roberto Berliner e Pedro Bronz (que antes haviam co-dirigido juntos o doc musical Herbert de Perto, 2009) começou a ser pensado no início dos anos 1980 e só agora, cerca de 30 anos depois, encontra o público. Cobrindo o período entre 1982 e 1986, são muitas as imagens de arquivo desse "movimento de negação e ação" que fez história, não só no Rio de Janeiro, e chega agora numa época de muitas manifestações Brasil afora.

Situado entre as apresentações do show de comemoração de um ano de Circo Voador (A Farra da Terra) na Lapa, com Barão Vermelho (novinhos!), Brylho da Cidade, Caetano Veloso e Asdrúbal Trouxe o Trombone, é por entre elas que o espectador (conhecedor ou não do Circo) entra em contato com a história através de inúmeros vídeos, fotos e recortes daquela época em que foi construído essa espécie de templo do desbunde. Esse formato da obra, inclusive, é totalmente coerente com o espírito libertário dos artistas envolvidos no projeto, que é parte do cenário cultural da cidade.

Emergindo você naquela atmosfera em que tudo (ou quase tudo) era possível, como mostra uma cena de striptease presenciada por uma criança (!), a porralouquice daqueles personagens criativos e contestadores se revela cativante. Seja por meio dos depoimentos de figuras como Chacrinha e Dercy Gonçalves, afirmativas "pra cima" de Perfeito Fortuna, figura folclórica (ainda na ativa) daquele grupo, ou através de um desabafo emocionante do poeta Chacal, outro baluarte daquela verdadeira usina de sonhos.

É inquestionável o valor de ver artistas como Luiz Fernando Guimarães e Regina Casé – ambos em começo de carreira – assim como Evandro Mesquita e sua Blitz (com Lobão na bateria) levando a (agora) clássica "Você Não Soube Me Amar". O mesmo vale para Paralamas cantando "Veraneio Vascaína" e falando de Renato (Russo) – ainda – Manfredini, além de outras lendas da casa, como Serguei e o guitarrista Celso Blues Boy, presença boa e garantida em quase todos os fins de semana da lona. Entre as muitas curiosidades, como anúncios de shows e merchandising sui generis, tem polêmica com a Coca-Cola e ainda Telê Santana, Branco e Alemão, todos da seleção de 1986, interagindo com a trupe. Assim, A Farra do Circo pode não ter na qualidade de suas imagens e som a sua melhor atração, mas vale o ingresso para entrar nesse insano picadeiro transformado em túnel do tempo! ;)

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é publicitário, crítico de cinema e editor-executivo da revista Preview. Membro da ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro, filiada a FIPRESCI - Federação Internacional da Crítica Internacional) e da ABRACCINE - Associação Brasileira dos Críticos de Cinema. Enviado especial do Papo de Cinema ao Festival Internacional de Cinema de Cannes, em 2014.
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