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Sinopse

Isabel é uma feiticeira que decide viver no vale californiano de San Fernando e mudar de vida, renegando seus poderes. Enquanto isso, Jack Wyatt, um ator que busca resgatar a carreira, se dedica integralmente à nova versão da clássica série de televisão Bewitched, na qual interpretará o marido da protagonista. Por acaso ele conhece Isabel, por quem sente uma atração imediata. Convencido de que ela poderia interpretar a personagem-título na série, a convence a se tornar atriz.

Crítica

Cameron Diaz, Gwyneth Paltrow, Jennifer Aniston, Alicia Silverstone... essas foram apenas algumas das atrizes consideradas para o papel principal de A Feiticeira, adaptação cinematográfica do cultuado seriado televisivo dos anos 1960. Quem acabou sendo escolhida, no entanto, foi Nicole Kidman, que ao menos já tinha alguma experiência na área (interpretou também uma bruxa em Da Magia à Sedução, 1998). E, assim como aconteceu em sua experiência anterior pelo gênero, a oscarizada intérprete de As Horas (2002) deve estar arrependida: seu talento é muito maior em dramas do que em comédias, e quando desprovida de um conjunto de elementos que a auxiliem – como é aqui o caso – essas carências ficam evidentes. Isso sem mencionar as do resto da produção, que chamam ainda mais atenção.

A diretora e roteirista Nora Ephron chegou a ser considerada uma especialista em comédias românticas ao assinar alguns títulos bem-sucedidos, como Harry e Sally: Feitos um Para o Outro (roteiro, 1998) e Sintonia de Amor (roteiro e direção, 1993). Depois destes, no entanto, acabou perdendo essa habilidade, como visto nos fracos Linhas Cruzadas (roteiro, 2000) e Bilhete Premiado (direção e produção, 2000). Após passar cinco anos sem filmar, voltou neste A Feiticeira como se fosse um tiro certo: a atriz do momento, o comediante da hora, um tema em voga em Hollywood (remake de antigos seriados) e pronto, mais um sucesso garantido! Mas às vezes o feitiço vira contra o feiticeiro.

A ideia, ao menos, era interessante: não fazer uma simples adaptação do antigo programa, e, sim, propor uma nova história. Na trama, um ator em baixa (Will Ferrell, resvalando no exagero) aceita participar de um programa de televisão – a série A Feiticeira – para recuperar seu prestígio, afinal foi um show de muito destaque no passado e com muitos fãs. Ele aceita com a condição de ser a estrela absoluta, e, portanto, deve ser contratada uma desconhecida para o papel de ‘Samantha’, a feiticeira do título. Quando encontra, por acaso, Isabel (Kidman), se convence que ela é ideal para a personagem. Só há um probleminha com o qual ele não contava: ela, assim como no seriado, é uma feiticeira de verdade.

Em suma: o conceito é praticamente o mesmo, o que muda é uma reformulação para ficar mais ao gosto do ‘novo século’, com doses de ironia e auto-paródia. No entanto, se no papel parecia interessante, são justamente estas alterações que fazem com que a magia se perca, literalmente. Pra começar, o protagonista do filme não é ela. Ferrell é tão ‘espaçoso’, por assim dizer, que termina por conduzir a ação, deixando para Kidman apenas a função de ‘reagir’, ao invés de ‘agir’. Ela responde a ele, e não o contrário. Depois temos a mão pesada da diretora, que se revela incapaz de recriar situações a princípio inocentes, mas que aos poucos vão se revelando dinâmicas, como tantas vezes fez em outros projetos.

Tentando ser moderno – com voltas no tempo, discursos conciliatórios e o inevitável final feliz – o máximo que A Feiticeira consegue é provocar a decepção do espectador, que não só se frustra por não encontrar a nostalgia do passado, como também se encontra desprovido de um novo encantamento. Felizmente, após esse trabalho, Nicole Kidman acabou voltando aos dramas e conquistando novas indicações ao Oscar, como por Reencontrando a Felicidade (2010), por exemplo. Já Ephron teve um último acerto – o delicioso Julie & Julia (2009), com Meryl Streep e Amy Adams – antes de falecer em 2012, aos 71 anos. E enquanto isso, o único que parece seguir no mesmo tom é Will Ferrell, que continua fazendo as mesmas comédias bobas de sempre. Como se vê, certas coisas – e pessoas – não mudam nunca.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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