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Crítica


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Sinopse

A fim de ajudar um amigo que está doente em estado terminal, um grupo de idosos constrói uma maquina de auto-eutanásia. Quando a notícia da invenção começa a se espalhar, mais pessoas demonstram interesse por ela.

Crítica

Temos o direito de decidir o fim de nossas próprias vidas? Manter alguém vivo, mesmo sabendo do sofrimento diário causado por uma doença incurável, é um ato de amor ou de egoísmo? É a partir de questões complexas como estas que a dupla de cineastas israelenses Tal Granit e Sharon Maymon desenvolve a trama de A Festa de Despedida, seu primeiro longa em conjunto. A história se situa em um asilo de Jerusalém, onde vive o casal Yehezkel (Ze’ev Revach) e Levana (Levana Finkelstein). Ele, apesar da idade avançada, ainda apresenta um bom vigor, sempre trabalhando em invenções mirabolantes criadas na oficina do local, como um aparelho que serve para lembrar a esposa dos remédios que deve tomar em cada dia da semana. Ela, mais debilitada, começa a apresentar sinais avançados do Mal de Alzheimer.

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Quando Yana (Aliza Rosen), outra residente do asilo e amiga de juventude do casal, pede a ajuda dos dois para atender ao pedido de seu marido, Max (Shmuel Wolf), que anseia por dar fim ao seu sofrido tratamento e ter uma morte sem dor, Yehezkel decide criar uma máquina de eutanásia que pode ser acionada pelo próprio paciente. Com a ajuda de um ex-veterinário, Dr. Daniel (Ilan Dar), e de um policial aposentado, Raffi (Raffi Tavor), a ideia é colocada em prática, a contragosto de Levana, e o desejo final de Max é realizado. Mesmo tentando manter segredo sobre o assunto, a notícia logo se espalha e outros interessados em utilizar a máquina começam a procurar os serviços do grupo de amigos.

Desde a sua sequência inicial - quando Yehezkel, utilizando um modulador de voz, fala ao telefone com outra moradora da casa de repouso, fingindo ser Deus para tentar confortá-la – os diretores e roteiristas, Granit e Maymon, deixam clara como será a abordagem de seu longa, apostando em momentos de um humor mordaz e irônico para tentar equilibrar o conteúdo evidentemente pesado de seu tema central. Por vezes, o jogo de alternância entre drama e comédia faz com que essas forças se anulem e algumas cenas se percam no processo. Mas, felizmente, na maior parte do tempo a estratégia funciona, com o filme apresentando um timing cômico acertado que suaviza o desenvolvimento da narrativa.

A exemplo de outras produções recentes, que também tratam deste senso de comunidade criado por grupos de idosos ao enfrentarem a proximidade da morte, como o chinês O Ciclo da Vida (2012), a boa dinâmica entre o numeroso elenco é fundamental para seu sucesso. Apostando nisso, Granit e Maymon realizam um trabalho econômico, em que as escolhas estéticas e técnicas aparecem pouco, exceção feita a uma inusitada e divertida sequência musical. Os planos são elegantes, a fotografia luminosa é bem cuidada, mas os diretores não buscam a criação de imagens mais simbólicas, nem se apegam a detalhes que não sejam as expressões de seus atores. O foco fica todo no bom texto e nas excelentes atuações de um elenco coeso, em que todos ganham algum momento de destaque, trágico ou cômico. Os personagens são bem construídos e seus dramas particulares mantêm o interesse, como a relação amorosa secreta entre Daniel e Raffi. Neste mosaico de figuras cativantes, o casal Yehezkel e Levana assume o protagonismo por mais tempo, cabendo a seus intérpretes a missão de segurar boa parte dos momentos mais marcantes, algo que realizam de maneira sensível e sincera.

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A opção pela leveza distancia A Festa de Despedida da crueza de obras como Amor (2012), de Michael Haneke, um estudo mais aprofundado e intimista da mesma temática. Com isso, alguns detalhes transparecem certa ingenuidade – a própria criação de uma máquina de eutanásia – e esbarram no sentimentalismo. Ainda assim, Granit e Maymon conseguem expor os dilemas morais de seu discurso de forma bastante honesta. Os diretores escolhem abertamente um lado nesta discussão delicada, acreditando que já não existe vida quando não se pode mais desfrutá-la de alguma forma. É uma decisão arriscada, mas que condiz com a já citada honestidade de um longa que, ao tratar da morte, também fala da paixão pelo viver.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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