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Sinopse

Em Filha de Ninguém, ela está cansada da vida ou do amor? Haewon, uma estudante, se sente abandonada: sua mãe está prestes a se mudar para o Canadá e ela decidiu terminar seu caso com um de seus professores, um homem casado. Não só seus colegas descobriram o caso como seu amante se recusa a aceitar que o relacionamento acabou. Confusa, Haewon se volta para sua concha. Outros homens cruzam seu caminho, o que eventualmente a leva a uma antiga fortaleza nas montanhas acima de Seul. Romance.

Crítica

Haewon encontra sua mãe. Na sequência que se seguirá em Filha de Ninguém, almoçarão e caminharão aleatoriamente pela cidade. Em meio à trivialidade dos assuntos, descobrimos que os minutos são de despedida, pois a mãe está prestes a partir para o Canadá, onde mora o irmão da protagonista. A informação crucial, deixada sem alarde, moldará a tônica do novo filme do sul-coreano Hong Sang-soo.

Logo após ser deixada pela mãe, a jovem é tomada pela solidão. Sem intermediários, é a narração em off da própria personagem que encurta o caminho para nos transmitir diretamente sua sensação. Em seguida, para aplacar o que sente, a estudante de artes cênicas liga para um antigo professor com quem manteve um relacionamento “ainda interminado”.

Na superfície do seu conteúdo, Sang-soo nos traz a história de uma garota que enfrenta a solidão e a complexidade de tomar decisões. Nada mais comum. Contudo, o que se sobressai da simplicidade aparente é o vício do olhar. Acostumado a esperar do cinema oriental personagens míticos e especiais, donos de uma postura contemplativa, disciplinada e plena de discernimento, o que temos aqui não partilha de tal expectativa. Na relação que se seguirá entre Haewon e o professor, encontraremos lá as falhas daqui, menos adornadas com o lustroso papel dos filmes americanos ou do espalhafatoso filtro de um Michel Gondry (A Espuma dos Dias, 2013) e mais próximas do mundo desmistificado.

Se a relações afetivas estão em sincronia, exceto pelo fuso horário, o que faz o filme de Sango-soo dar um passo além reside na sua forma. Construído de maneira passiva, por vezes quase defensiva, Filha de Ninguém surge para o espectador sempre em retrospectiva. Isto porque as situações e movimentos extraídos do dia-a-dia dos personagens obedecem a uma ordem específica. O que vemos não está prontamente ali, como para Frances (Frances Ha, 2012) de Noah Baumbach, que articula uma realidade específica e objetiva. Aqui, pelo contrário, há a disputa da ação, que é essencialmente transitória e irrelevante, inscrevendo-se no campo do relevante e atuante.

O dilema do percurso da ação entre o querer-se negativo e o ver-se positivo, tal qual de maneira ainda mais impactante em Bande à part (1964), exerce pressão e se insere em um registro notadamente rohmeriano (Minha Noite com Ela, 1969, e O Raio Verde, 1986). O cotidiano abre mão da sua marginalidade e invade o núcleo narrativo, disputando o espaço da mise-em-scène, no caso de Jeong Eun-Chae em atuação bastante competente ao imprimir as marcas da instabilidade e dubiedade em Haewon.

Preterida pela mãe e com a figura paterna falsamente preenchida pela substituída na relação com o professor, Haewon sente-se a filha de ninguém. Mas é mais. É filha das circunstâncias, da potência da juventude e da impotência psicológica, embalada em um berço contemporâneo, tão divertido quanto árido.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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