Crítica
Leitores
Sinopse
Bem-sucedido corretor de Wall Street, Sherman é um homem milionário que acaba perdendo a credibilidade pública ao atropelar uma pessoa enquanto transitava com sua amante. Dali para adiante, sua vida entra em derrocada.
Crítica
Em qualquer lista de filmes dirigidos por Brian De Palma, A Fogueira das Vaidades, invariavelmente, aparece na zona da rabeira, como um dos trabalhos menos memoráveis do cineasta. Adaptando o festejado romance de Tom Wolfe e com uma escolha de elenco, no mínimo, questionável, o diretor viu sua obra ser um fracasso de público e de crítica, sendo indicada a cinco Framboesas de Ouro, incluindo Pior Filme e Pior Diretor. O jocoso prêmio não era novidade para De Palma, que já havia sido indicado em vezes anteriores. A diferença é que a aposta neste filme foi muito maior por parte do estúdio, que esperava um sucesso em suas mãos, investindo em um elenco do calibre de Bruce Willis, Tom Hanks, Melanie Griffith e Morgan Freeman. Visto em perspectiva, o longa-metragem é apenas irregular, longe de ser tão horroroso quanto a lembrança dos espectadores e críticos da época poderiam atestar. Mas certamente aquém do talento dos envolvidos.
Na trama, Sherman McCoy (Hanks) é um yuppie de Wall Street que vê sua vida de cabeça para baixo quando ele e sua amante, Maria Ruskin (Griffith), atropelam acidentalmente um jovem negro no Bronx, depois de se perderem no caminho de volta para Manhattan. McCoy deseja ir às autoridades, Maria o persuade do contrário. Enquanto isso, o reverendo Bacon (John Hancock) começa a insuflar sua comunidade para o caso, ressaltando o fato do responsável pelo atropelamento daquele rapaz de sua congregação, agora em coma, ser rico e, provavelmente, branco. É aí que o jornalista alcoólatra e um tanto decadente Peter Fallow (Willis) entra. Ele é destacado pelo seu editor a cobrir o caso e fazer uma verdade panfletagem a favor de Bacon e companhia. Pintando um retrato tenebroso e inverídico da situação, Fallow complica a vida de McCoy, que é encontrado pela polícia através de seu carro, um Mercedes com a placa que bate com a descrição da vítima. Agora, o yuppie verá seu mundo ruir enquanto tentará salvar o restante da sua existência. Enquanto Fallow perceberá que seu sucesso pode estraçalhar sua alma.
Antes de qualquer coisa, um pouco de história. No apagar das luzes da década de 1980, quando A Fogueira das Vaidades foi rodado, Tom Hanks não era o astro oscarizado que viemos a conhecer a partir de Filadélfia (1993) e, principalmente, Forrest Gump (1994). Ele já havia sido indicado ao prêmio da Academia por sua interpretação em Quero ser Grande (1988), mas ainda precisava se provar um ator dramático. O trabalho com Brian De Palma parecia ser um caminho seguro para mudar este cenário. O problema é que Hanks foi pensado para o papel de Sherman McCoy para dar um pouco de simpatia ao personagem que, no livro, é arrogante e pouco carismático. O resultado ficou no meio do caminho. O ator vive um banana, um sujeito que parece não conseguir pensar por si mesmo e permite que forças externas decidam seu destino. Difícil imaginar que um homem como aquele se sentia o Mestre do Universo, com um cargo graúdo em Wall Street. Mal escalado, Hanks começa a convencer na segunda metade da história, quando se mostram necessárias as qualidades de homem comum do ator.
Ao lado de Hanks, ao menos no cartaz, visto que dividem apenas duas cenas juntos, temos Bruce Willis. Alçado a astro de ação depois de Duro de Matar (1988), ele se mostrou difícil nos sets de A Fogueira das Vaidades, como se o sucesso tivesse subido rapidamente à cabeça. Com salário cinco vezes maior que Tom Hanks, Willis, que recém havia saído de dois hits seguidos, foi uma das apostas do estúdio para tentar chamar público para os cinemas. O tiro saiu pela culatra. Ainda que o ator fosse um verdadeiro chamariz de bilheteria na época, no longa-metragem assinado por De Palma ele estava completamente fora do gênero que o notabilizou. Não à toa, ele enfileirou diversos flops logo em seguida, com o pior deles sendo Hudson Hawk: O Falcão está à Solta (1991). Como o jornalista Peter Fallow, o astro busca mostrar o cansaço de um fracassado. Isso é alcançado, ainda que o tom acabe ficando monocórdio.
Do restante do elenco, Melanie Griffith parece encarnar o espírito de Jean Hagen, coadjuvante inesquecível de Cantando na Chuva (1951), mas sem o mesmo alcance da endiabrada Lina Lamont. O paralelo se dá pela voz fina de Griffith e a forma como erra a pronúncia de palavras, sempre pensando ser mais inteligente do que é. Novamente utilizando a sensualidade em um filme de Brian De Palma, a atriz não consegue repetir a boa performance de Dublê de Corpo (1984), mas nem por isso merecia a indicação ao Framboesa de Ouro. Já Morgan Freeman tem pequeno papel, mas dá peso ao juiz Leonard White, ganhando até espaço ao final para um discurso que soa expositivo, ainda que relevante.
Brian De Palma tinha uma história ótima nas mãos, uma crítica arguta a respeito do cinismo da sociedade, da ambição cega e do racismo entranhado. Como não conseguiu acertar o ritmo do filme, o diretor viu sua trama perder muito a força. O que é uma lástima, dado o início do longa-metragem – um impressionante plano-sequência que dura quase cinco minutos, iniciando em uma limusine, passando por corredores amplos, entrando em um elevador e culminando em um evento de gala, com dezenas de fotógrafos. Parece que o diretor gasta todos seus cartuchos neste começo promissor, não sobrando muito para os 120 minutos restantes. Quem relevar o andamento titubeante e o elenco um tanto fora de esquadro pode encontrar um filme que, se não é uma obra inesquecível, ao menos entretém por boa parte de sua duração.
Últimos artigos deRodrigo de Oliveira (Ver Tudo)
- Made in Italy - 1 de fevereiro de 2019
- Medo Viral - 13 de agosto de 2018
- Nico 1988 - 1 de agosto de 2018
Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Rodrigo de Oliveira | 5 |
Ailton Monteiro | 7 |
Alysson Oliveira | 5 |
MÉDIA | 5.7 |
Deixe um comentário