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Sinopse

Pensando em tirar vantagem da confusão durante a ocorrência de um fenômeno natural e devastador, uma gangue de ladrões planeja um assalto mirabolante. Mas, eles têm problemas quando um policial decide evacuar os moradores do prédio durante um furacão.

Crítica

Toda a movimentação de A Força da Natureza é para dar ao policial Cardillo (Emile Hirsch) a possibilidade de se redimir de um erro do passado. Mas, não se preocupe, pois o cineasta Michael Polish é inclinado ao didático. Tão logo chega a hora da revelação supostamente importante, ele repete quase toda a sequência inicial da abordagem corriqueira que termina em tragédia, isso sem ao menos a justificativa de arrematar com um vislumbre novo. A única diferença é a voz em off acentuando o paternalismo da explicação pormenorizada. Ele parece não confiar que o espectador se lembre de algo mostrado há cerca de 40 minutos ou talvez intua que alguns corajosos que encararam seu filme sequer estão acordados até aquele momento “vale a pena ver de novo”. Então, quem se importa se ele “encher linguiça” ao fazer um flashback que não esclarece nada mais que as palavras ditas no presente? Além da displicência misturada com uma vocação pesada pelo meramente ilustrativo, o longa-metragem coleciona uma série de incongruências e não consegue atingir o propósito de construir uma atmosfera tensa enquanto bandidos ameaçam um prédio residencial durante um furacão.

Exilado em Porto Rico depois de ter errado, Cardillo aparece como o típico guardião da lei num processo de danação. O cinema está repleto desses portadores de distintivo que exibem áreas sombrias, geralmente evocadas por equívocos capazes de criar consideráveis espaços à culpa. O noir, com detetives assombrados e de comportamento moralmente ambíguo, são os modelos nesse sentido. Entretanto, em A Força da Natureza não há qualquer vontade manifestada de determinar o protagonista como alguém em processo de curar feridas e entender de que forma continuar vivendo com uma responsabilidade eterna em suas costas. O diretor está mais preocupado em sublinhar a capacidade heroica desse homem, por consequência deixando de lado a dimensão psicológica e emocional. Depois de demonstrar apatia e pragmatismo à empolgada nova parceira, Cardillo é levado a fazer o que inicialmente se recusara por força de uma coincidência. Incumbido de evacuar teimosos dos prédios prestes a serem açoitados violentamente pelo destrutivo fenômeno natural, é conduzido a exatamente fazer isso após atender outro chamado banal. Peso da responsabilidade como fardo do destino?

É grande a sensação de que o roteiro, a cargo de Cory M. Miller, foi remendado à medida que encruzilhadas se impuseram. Como mostrar Cardillo cedendo ao propósito? Desviando sua atenção da missão e colocando-o na rota da pequena transgressão capaz de gerar uma eventualidade bastante conveniente. De que modo situá-lo na mira dos bandidos inicialmente apresentados como cruéis ladrões de obras de artes? Ora, claro, apostando todas as fichas no acaso e torcendo para o espectador não se preocupar tanto com isso. O acúmulo ostensivo de casualidades conta ainda com a filha médica de um policial aposentado por doença, alguém criando um felino enorme (faminto) dentro de casa e tudo que essas particularidades e cargos trazem consigo dentro de uma perspectiva cômoda. Além disso, o filme carece de ritmo, não consegue aproveitar as oportunidades para tornar o desenvolvimento tenso ou minimamente angustiante. Isso se dá por conta da inabilidade dos responsáveis quanto à geração de expectativa. Desde os planos iniciais de Porto Rico, nação ensolarada e supostamente paradisíaca, a trilha sonora de tons graves martela que aquele cenário está prestes a mudar.

Sempre que algum repórter fala em segundo plano da aproximação do furação, a música austera busca se encarregar sozinha de instaurar a preocupação. Não há consistência no processo da delineação narrativa, pois ele é fundamentado na repetição e nas tentativas de compensação. O que a imagem não dá conta, o som procura suprir e vice-versa. Não há diálogo produtivo entre os elementos da linguagem, mas uma sobrecarga de potencialidades individuais. A Força da Natureza mostra um Mel Gibson que faz o possível com um personagem unidimensional. Aliás, o drama que poderia derivar da dinâmica com a filha vivida de maneira burocrática por Kate Bosworth não possui peso, esvanecendo diante da insistência do cineasta de mostrar Cardillo como um homem de valor/apaixonante. Com chuvas torrenciais lá fora, ventos brutais açoitando as janelas, bandidos armados até os dentes caçando que se colocar entre eles e seus objetivos, o filme permite uma parada estratégica para vermos o protagonista flertando com a médica. Se, ao menos, isso servisse para inserir dados à curva de redenção. Mas, até esse efeito colateral bem óbvio se perde em meio a tanta baboseira.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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