Crítica
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Sinopse
Quando uma jovem freira que vive enclausurada em um convento na Romênia comete suicídio, um padre com um passado assombrado e uma noviça prestes a fazer seus votos finais são enviados ao Vaticano para investigar o caso. Juntos, eles desvendam o segredo profano da ordem. Arriscando não só suas vidas, mas também sua fé e suas almas, confrontam a força malévola que assume a forma de uma freira aterrorizante.
Crítica
Após ter aparecido em Invocação do Mal 2 (2016) e em Annabelle 2: A Criação do Mal (2017), chegou a vez da religiosa diabólica ganhar um filme inteiro para chamar de seu: A Freira, que também atende por Valak, como já sabíamos pelas citações nos episódios anteriores. A ação, no entanto, é situada no início dos anos 1950, resultando que este é, ao menos cronologicamente, o primeiro capítulo de toda a saga. Na verdade, o que James Wan – diretor de Invocação do Mal (2013), da sequência direta e produtor dos cinco filmes da série até aqui – está criando é um universo compartilhado, mais ou manos aos moldes do que temos acompanhado com os heróis da Marvel e da DC Comics. No entanto, ainda que o cineasta demonstre cuidado com a franquia principal, estes spin-offs tem se revelado não mais do que caça-níqueis feitos às pressas e entregue nas mãos de desconhecidos como Corin Hardy (A Maldição da Floresta, 2015), que deixa impressa na tela sua inaptidão para o gênero do início ao fim, sem sequer um respiro de originalidade que possa ser destacado.
“Os eventos a seguir ocorreram em 1952”, diz o letreiro logo no início do filme. Acreditar ou não nesta afirmação, no entanto, é uma responsabilidade do espectador, que de partida deixará claro qual o seu nível de ceticismo. Os mais impressionáveis poderão se deixar levar por outras frases de efeito que volta e meia surgem, como “Deus termina aqui”, mas bastará um leve esforço para reconhecer que os acontecimentos alinhados se desenvolvem em um nível tão superficial que o mais fácil seria se deixar levar pelo deboche, restando uma torcida discreta – ou nem tanto – para que Marlon Wayans ou Anna Faris aparecessem a qualquer momento, justificando o tom de paródia a que os desafortunados do lado de cá da tela são levados a se confrontar.
Muito pelo contrário, o que é entregue é uma série de tentativas vãs de impor seriedade a algo que é não mais do que risível. O prólogo mostra duas freiras prontas a enfrentar um mal inominável. A primeira se vai de imediato, enquanto que a segunda, pressupõe-se que para evitar que seja possuída, decide se suicidar jogando-se pela janela em frente à entrada do convento com uma corda no pescoço. Assim que toma conhecimento do ocorrido, o Vaticano envia ao lugar o padre Burke (Demián Bichir, pagando os boletos atrasados) e a noviça Irene (Taissa Farmiga, irmã mais nova – e quase um clone jovem – de Vera Farmiga, que interpreta a pesquisadora Lorraine Warren nos dois Invocação do Mal, promovendo uma aproximação por semelhança que apenas atrapalha, uma vez que é completamente desprezada pelo diretor). Os dois, uma vez dentro da abadia, pouco terão o que fazer além de lidar com espectros fantasmagóricos, ameaças vazias e um clímax que envolve desde cusparadas até o sacrilégio de recorrer a nada menos do que o sangue de Cristo.
Até poderia se provar um exercício interessante analisar A Freira sob a ótica de como a religião católica é propícia aos mais diversos tipos de manifestações malignas. O filme inteiro, afinal, se passa dentro de uma ‘casa santa’, e o objetivo da visita do pároco investigador é, segundo ele próprio, ‘determinar se o lugar ainda é abençoado ou não’. Bom, não demorará muito para que todos tirem suas próprias conclusões a respeito dessa dúvida. E isso porque, se há algo em falta no longa de Hardy, é sutileza e criatividade. Para se ter uma ideia, praticamente todos os sustos que tenta impor à sua narrativa se dão basicamente da mesma forma, pela movimentação inesperada de algum objeto compondo o fundo de cada quadro, seguido por efeitos sonoros escandalosos que apenas servem para apontar: “veja, este é o momento de pular na cadeira”. Talvez funcione na primeira, segunda, até mesmo na terceira vez. Mas após 90 minutos, tudo o que resta é cansaço pela repetição excessiva.
Se o aspecto religioso do filme se revela fraco – a origem do ‘mal’ é explicada em um flashback vergonhoso de tão rápido, ainda mais constrangedor por justificar o retorno da ameaça pelo surgimento de rachaduras provocadas pelos bombardeiros durante a Segunda Guerra Mundial (era tudo uma questão de engenharia?) – no mais a impressão é de que a personagem icônica só assim se apresenta pela força da provocação que representa, pois nada além disso é explorado pelo pífio argumento canhestramente defendido. E como resumo, o que se vê é um filme de terror que não assusta e que a todo custo tenta se filiar ao subgênero dos castelos mal-assombrados, mas nem aproveitar tal geografia com competência consegue, resumindo-se a corridas desajeitadas por corredores e a portas que abrem e fecham sem muitas explicações. A Freira até pode causar algum impacto imagético, mais pelo símbolo que emula do que pela cenografia que ostenta, mas não resiste a qualquer observação mais atenta, naufragando em qualquer uma das suas intenções, seja como passatempo aos mais aficionados ou como início de uma nova franquia – algo que, infelizmente, não podemos duvidar, pois o nível de imbecilidade atual tem alcançado níveis, esses, sim, aterrorizantes.
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