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Sinopse

Em fuga depois de um assalto, os irmãos Addison e Liza sofrem um acidente. Eles decidem seguir separadamente. Jay, recém-solto da cadeia, conhece Liza e logo se apaixona por essa mulher cujo passado de crimes ele desconhece.

Crítica

O cenário é alvo até o perder dos olhos. Neve imaculada, sugerindo uma pureza que não encontra ressonância no perfil dos protagonistas sentados nos bancos de couro de um belo carro que cruza a estrada coberta de branco. Eles estão ocupados contando o dinheiro fruto de um golpe bem aplicado em um cassino. A excitação é tanta que desperta atenção até do motorista, que desvia o olhar do trajeto por poucos instantes, o suficiente para acertar um veado que atravessava o caminho. Desgovernados, acabam voando para fora da pista num acidente que suja a neve ao redor com sangue, gasolina e fuligem. O saldo é a morte do condutor, e agora ele e ela, irmãos, terão que se virar sozinhos para fugir com a grana. Decidem se separarem, e apesar do frio intenso seguem em lados opostos, à pé, cada um com metade do furto. O que atravessar primeiro a fronteira com o Canadá que trate de esperar pelo outro – se este não morrer antes, é claro.

Assim começa, de modo auspicioso, o thriller A Fuga, primeiro longa dirigido em Hollywood pelo austríaco Stefan Ruzowitzky, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por Os Falsários (2007). Mas este é apenas o início, pois daí em diante tudo irá piorar, tanto para os personagens quanto para os espectadores. Afinal, quem se foca apenas na referência oscarizada terá a impressão de se tratar de um grande realizador, mas é importante ter em mente que estamos falando também do mesmo cineasta responsável pelo involuntariamente cômico Todos os Homens da Rainha (2001), que colocou Matt LeBlanc (o Joey de Friends, 1994) travestido como uma drag queen num pseudo épico sobre a Segunda Guerra Mundial. E é bem mais para esse lado, do exagero dos clichês e do descontrole da própria trama, que encontramos o diretor neste novo projeto.

Sim, pois A Fuga traz mais do que apenas o drama destes dois irmãos fora-da-lei – interpretados por um Eric Bana carente de uma direção mais firme e por uma Olivia Wilde insegura – envolvidos numa relação de amor e dependência que vai além dos laços familiares. Há ainda, correndo em paralelo, o dilema enfrentado pelo ex-medalhista olímpico de boxe (Charlie Hunnam) que, após sair da cadeia por ter enfrentado seu antigo treinador numa legítima roubada, precisa reencontrar a família no dia de Ação de Graças. E temos, por fim, a policial (Kate Mara, de O Segredo de Brokeback Mountain, 2005) que, ao tentar conquistar o respeito do pai chefe de polícia (Treat Williams, de 127 Horas, 2010), acaba se envolvendo na caça dos dois foragidos. No final teremos estas três linhas narrativas reunidas, com os personagens sentados à mesa de Kris Kristofferson e Sissy Spacek, pais do lutador. Mas o clima deste ambiente, ao invés de fraternal e caloroso, será de puro terror, com todos sob a mira de uma arma carregada.

Apesar dos grandes nomes presentes no elenco, A Fuga se perde principalmente em sua trama esburacada, oferecendo poucas oportunidades realmente válidas aos seus intérpretes. Bana passa a maior parte do tempo sozinho, e a única maneira que encontra para indicar a violência que busca conter em si é através de caretas exageradas. Hunnam, por outro lado, está mais à vontade, mas a situação que se cria entre ele e Olivia é tão inverossímil que qualquer esforço acaba sendo em vão. Acaba sobrando para os veteranos Kristofferson e Spacek, como de hábito competentes, porém ainda mais limitados em cena que os demais. Desse modo, temos um filme fraco e desinteressante, que exige demais da audiência, mas retorna muito pouco. Sem apresentar nada de original e com pouca criatividade envolvida, qualquer troca deste tipo irá resultar numa inevitável decepção.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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