Crítica
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Sinopse
A fim de utilizá-las como armas de guerra, um agente da CIA recruta e treina crianças com poderes paranormais. Peter, um ex-membro da agência norte-americana, começa a investigar isso quando seu filho é dado como morto.
Crítica
Após alcançar seu primeiro grande sucesso com Carrie: A Estranha (1976), De Palma decidiu seguir trabalhando a temática dos poderes telepáticos e psicocinéticos, ao realizar esta adaptação do livro homônimo de John Farris, também autor do roteiro. A história segue duas linhas narrativas paralelas. Na primeira somos apresentados a Peter Sandza (Kirk Douglas), um veterano agente do governo americano, cujo filho, Robin (Andrew Stevens), possui habilidades psíquicas. Durante uma viagem ao Oriente Médio, os dois são alvos de um suposto atentado terrorista, que na verdade faz parte de uma armação elaborada por Ben Childress (John Cassavetes), amigo de Peter e líder de uma organização secreta que realiza experimentos em pessoas como Robin. Peter consegue escapar da tentativa de assassinato, ferindo o braço de Ben, mas este completa parte de seu plano, levando Robin para um local desconhecido.
A segunda trama tem como personagem principal Gillian (Amy Irving), uma garota que também possui poderes telecinéticos e mediúnicos. Preocupada com o mal que suas habilidades podem causar aos outros, Gillian procura ajuda no Instituto Paragon, especializado no estudo de assuntos paranormais, onde faz amizade com a enfermeira Hester (Carrie Snodgress). Hester acaba sendo a ponte entre as tramas, pois em sua incessante procura por Robin, Peter toma conhecimento sobre o Instituto e busca o auxílio da enfermeira – que se torna sua informante e amante – para localizá-lo. E Gilliam, por possuir poderes similares aos de Robin, se transforma na única chance de Peter para descobrir o paradeiro do filho.
Além das semelhanças temáticas, a lembrança de Carrie se manifesta também na presença de Irving – a única sobrevivente do caótico final do filme anterior de De Palma – e em outros detalhes, como as metáforas sobre o ambiente escolar e a entrada na puberdade. Se Carrie sentia o início da manifestação de seus poderes após a primeira menstruação, símbolo máximo da passagem de fase na vida de uma garota, Gillian, já um pouco mais velha e menos inocente, os desenvolve de maneira mais intensa em retaliação às provocações de uma colega de classe. As mudanças físicas e psicológicas, bem como o sentimento de deslocamento dentro de um grupo social, fazem parte dos simbolismos trabalhados por De Palma, ainda que de forma superficial, para conectar os poderes fantásticos dos personagens aos dilemas reais vividos na adolescência. A continuidade deste assunto em A Fúria estava sendo utilizada pelo cineasta como estudo, ou treinamento, enquanto aguardava a oportunidade de realizar um sonho – infelizmente nunca concretizado - de adaptar para as telas o romance The Demolished Man, de Alfred Bester, sobre uma sociedade de telepatas.
Talvez por ter um pouco desta aura de “ensaio”, A Fúria pareça ser um trabalho menos bem resolvido do cineasta. A divisão inicial da trama enfraquece um pouco os dois lados e leva certo tempo para encontrar seu ritmo. O dia a dia de Gillian no Instituto possui seu interesse – remetendo até mesmo às histórias em quadrinhos dos mutantes de X-Men, sendo treinados na mansão do Professor Xavier – mas a ausência do carisma de Kirk Douglas é sentida. Já a parte da história que acompanha Peter possui menos do suspense característico de De Palma e mais de ação e humor, como na divertida cena em que o personagem foge dos capangas de Childress fazendo uma família de refém e se disfarçando de idoso. Se Douglas se destaca em empatia, Irving também apresenta um bom desempenho, assim como Snodgress e Cassavetes, que constrói um vilão com bastante classe. O único ponto destoante do elenco é Stevens, exagerando na caricatura como Robin.
Como em toda a filmografia de De Palma, uma dose de descompromisso com o realismo faz parte do charme, já que sua grande busca é pelo poder cinematográfico das imagens. E o cineasta se mostra sempre capaz de nos brindar com sequências visualmente brilhantes. Seja no uso da fusão de imagens, que coloca a personagem de Irving interagindo com duas realidades, seja na tensão da sequência do parque de diversões, e especialmente no uso magistral da câmera lenta na cena da fuga de Gillian do Instituto, coroada com a bela trilha sonora de John Williams, emulando Bernard Herrmann, em uma das já clássicas homenagens de De Palma a Hitchcock. As referências ao mestre estão presentes em outros pequenos momentos, como a queda do telhado, que cita Um Corpo Que Cai (1958) e Janela Indiscreta (1954) ao mesmo tempo.
Em seu último ato, o longa abraça um terror mais explícito – aos moldes de Lucio Fulci, Dario Argento e David Cronenberg – com belas sequências estilizadas de violência gráfica, como seu explosivo (literalmente) plano final. Uma conclusão até certo ponto corajosa, que foge dos padrões do final feliz hollywoodiano, ajudada pelos efeitos de maquiagem do genial Rick Baker, que mesmo hoje em dia ainda garantem o impacto das imagens derradeiras desta obra menor, mas nunca desprezível, de De Palma.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Leonardo Ribeiro | 7 |
Ailton Monteiro | 7 |
MÉDIA | 7 |
vi este filme quando era pequena e adorei.