Sinopse
Um adolescente surdo passa a freqüentar uma escola especial e, para se encaixar em algum grupo, se junta a uma violenta organização: The Tribe. No entanto, seu amor por uma garota vai levá-lo, ainda que contra sua vontade, a quebrar todas as regras da gangue.
Crítica
O filme, por si só, já é um feito. Afinal, trata-se de uma produção da Ucrânia – quando foi a última vez em que você ouviu falar de uma produção deste país? – que chama atenção primeiro pela forma, mas que, felizmente, se sustenta também pelo conteúdo. A surpresa começa pelo caminho escolhido pelo diretor e roteirista Miroslav Slaboshpitsky: o elenco inteiro de A Gangue é formado por atores surdos-mudos. Ou seja, não há um único diálogo durante toda a narrativa. E também não há legendas de qualquer espécie: o cineasta acredita que a linguagem que envolve os personagens é, antes de mais nada, universal, e, portanto, passível de ser compreendida – mas o que se percebe é que nem sempre é assim. É preciso um esforço além e atenção redobrada. Ou seja, devemos reaprender a assistir. E, assim, esta experiência só tende a crescer no espectador.
Outro fator curioso: como a trama se passa no leste europeu, a comunicação se dá por um tipo de diálogo de sinais muito típico da região, e não facilmente entendido por pessoas de outras nacionalidades. Isso significa que não adianta dominar libras para identificar cada frase proferida. Mais do que os gestos das mãos, o que importa é como elas se comportam e, por consequência, cada um dos atores – em sua total maioria jovens que estão pela primeira vez diante das câmeras. A Gangue acompanha um destes adolescentes que, ao chegar ao internato ao qual pessoas com o mesmo tipo de deficiência recorrem atrás de auxílio, logo é cooptado pelas diretrizes locais e internas. Os mais velhos o recrutam, e quando percebe já faz parte desse novo mundo à parte.
Mas quem são eles e o que fazem? Afinal, não há sons – ninguém fala! É preciso se desligar das antigas convenções às quais buscamos nossas referências e se imaginar no lugar deles, que vivem apenas para o si e para os próximos. A lei que pregam entre eles é absoluta, e nada é mais soberano do que a gangue. Pequenos roubos, negociatas com adultos supostamente responsáveis e agenciamento de prostituição feminina fazem parte das suas atividades diárias. E se para cada um que chega é preciso de ajustar ao sistema vigente, o que acontece quando um novato decide quebrar as regras, ainda mais em nome de algo tão arcaico quanto o amor?
Há elementos que conectam a trama a um contexto social maior, como a busca por uma fuga para a comunidade europeia – a Itália parece ser o destino mais atraente – ou os momentos em que interagem entre si sendo apenas o que são, não mais do que meninos que cresceram rápido demais (ou foram obrigados a isso). A Gangue exige de sua audiência a dedicação e a paciência necessária frente a uma forma de se expressar não tão comum. Evidentemente, não entenderemos cada interação e muito será perdido pelo caminho. Mas o ganho está no contexto maior, e é aí em que deve estar nosso foco.
Premiado na Semana da Crítica do Festival de Cannes e como Melhor Roteiro na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, A Gangue é um filme difícil, que incomoda na mesma medida em que surpreende e provoca. O sexo e a violência fazem parte das rotinas dos personagens, e a falta de pudor com que lidam com estes elementos reflete também o despojamento com que adentramos em suas realidades. Mais do que visto e compreendido, este é um filme que precisa ser sentido. De todas as formas possíveis.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Roberto Cunha | 10 |
Francisco Carbone | 8 |
Chico Fireman | 8 |
MÉDIA | 8.3 |
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