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Crítica


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Sinopse

No começo dos nos 1920, em Copenhague, a ilustradora Gerda Wegener pediu ao marido Einar que, na ausência de uma modelo, posasse para uma de suas telas vestido de mulher. Depois de ajudar a esposa, ele acabou se afeiçoando a roupas femininas, usando-as de vez em quando para sair e a fim de que Gerda o desenhasse. No começo dos anos 1930, ele já se identificava como Lili Elbe e se submetia a cirurgias para troca de sexo, vindo a se tornar a primeira transexual da história.

Crítica

Tom Hooper é um cineasta que causa comoção a cada novo projeto. Para o bem e para o mal. Se O Discurso do Rei (2010) foi o grande vencedor do Oscar da época com vaias dos fãs de A Rede Social (2010) por ser um filme pequeno, ainda que bem dirigido, dois anos depois Os Miseráveis (2012) causou a mesma relação de ódio por apresentar um musical inteiramente cantado e com escolhas de planos e contra planos questionáveis (ainda que não me incomodem). Não estranhe se os mesmos argumentos forem usados para atacar ou inflar a fama de A Garota Dinamarquesa, seu novo filme com o ambiente que o cineasta conhece bem: uma história. Porém, apesar dos defeitos que a produção apresenta, ela se sustenta sob o pilar de seu casal de protagonistas, Eddie Redmayne e Alicia Vikander.

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O longa já estava sendo muito comentando bem antes da sua estreia, inclusive lá fora. Tudo porque é a adaptação do livro homônimo de David Ebershoff sobre Lili Elbe, que teria sido a primeira pessoa a se submeter a uma cirurgia de mudança de gênero. O cenário e a Copenhagen de 1920. Gerda (Vikander) e Einar Mogens Wegener (Redmayne) são um casal de artistas que vive para suas obras e para a própria relação. Ele pinta paisagens com relativo sucesso. Ela ainda busca reconhecimento com suas pinturas de pessoas. Um dia Gerda pede para que o marido use um vestido para ela terminar uma pintura, o que começa a despertar o desejo reprimido do marido em ser uma pessoa que não pertence àquele corpo.

Das brincadeiras iniciais com Einar vestido de mulher em uma festa (apresentado como prima de Gerda), um flerte que acaba quase mal com outro homem, os choques para tentar “reverter a doença” (afinal, assim a transsexualidade era tratada na época) até a aceitação e o desenvolvimento de uma nova relação do casal, Hooper trata o tema com sensibilidade com a ajuda de seus atores e um inquestionável belo trabalho da direção de arte, que reconstitui aquela época na cidade tornando-a quase um personagem da história. O que estraga um pouco este fascínio com a produção é justamente o uso excessivo da bela, porém repetitiva, trilha de Alexandre Desplat, e o roteiro de Lucinda Coxon, que se foca menos nas transformações na psique de Einar/Lili e foca muito mais no caso de amor entre a transexual com a esposa.

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Ainda bem que Redmayne e Vikander não dão apenas conta do recado, mas vão muito além. O Oscar ganho no ano passado pelo ator hoje pode até ser considerado precipitado (ainda que seu retrato de Stephen Hawking no fraco A Teoria de Tudo, 2014, seja excepcional). Aqui sua interpretação não apenas uma leve atuação. O ator realmente se transforma muito além do físico. As pequenas nuances de sua composição mostram que o ator estudou bem o assunto, não tornando Lili uma personagem caricata. Pelo contrário. O jeito delicado de Einar no início do filme não remete à feminilidade, algo que só começa a acontecer, de forma gradual e sem exageros, com a sua própria descoberta. Redmayne conduz todo este trajeto com segurança assustadora, mostrando o quanto seu talento ainda irá leva-lo a patamares ainda mais altos.

Vikander não fica para trás e confere à energética Gerda uma paixão desenfreada por tudo com seu gênio quente, impulsivo, ansioso. É de uma maturidade tamanha o modo que a atriz apresenta a dor de sua personagem, escondida entre seus pincéis enquanto busca apoiar de todo o modo o marido que ama tanto. Afinal, como lidar com alguém que ela sempre conheceu como homem e agora descobre que, no fundo, ele sempre quis ser do mesmo sexo? Neste ponto a história ganha novos ares por mostrar os dois lados da mesma moeda, já que a transformação de Einar para Lili envolve não apenas seu corpo, mas sua vida a dois.

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Assim, Hooper demonstra que, apesar de todas as críticas que possam ser dirigidas a ele, algo permanece sempre inalterado (ainda bem): a sua sensibilidade em contar histórias emotivas, tratando seus personagens como pessoas de carne e osso, nunca os deixando cair na futilidade ou no simples melodrama. Pode não ser o melhor filme do ano e, talvez, nem de sua filmografia, mas mostra que o cineasta é mais do que capaz de introduzir sentimentos reais em suas obras. Com uma dupla de atores como Redmayne e Vikander ao lado, então, a tarefa se torna ainda mais fácil.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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