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Crítica


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Sinopse

O golpista Roy Courtnay tenta enganar a recém-viúva Betty McLeish através de uma conversa online. Porém, à medida em que a mulher abre sua casa e sua vida para o vigarista, ele se surpreende quando começa a se importar com ela.

Crítica

Não é a primeira vez que Helen Mirren se vê metida em uma grande mentira. Afinal, é ela também a protagonista de A Grande Mentira (2010), drama de John Madden que não tem nada a vez com esse A Grande Mentira, thriller de Bill Condon. Em comum, apenas, o fato de nenhum dos dois filmes se chamar assim no original – o anterior era The Debt (ou A Dívida), enquanto que o de agora é The Good Liar (O Bom Mentiroso, ou Boa Mentirosa, dependendo do ponto de vista). Sim, é importante esse esclarecimento, pois dessa vez ela divide a cena com Ian McKellen – e se não fosse por todo o resto, apenas por esse embate entre dois titãs britânicos tal produção já seria digna de nota. É de se lamentar, no entanto, que o filme se contente em ser não muito mais do que isso: uma boa oportunidade para vislumbrar esse encontro de dois velhos amigos, aqui reunidos pela primeira vez na ficção. Pois de resto, tanto as soluções do cineasta quanto o argumento da novela de Nicholas Searle são bastante convencionais, passíveis de serem antecipados a quilômetros de distância pelos mais atentos.

Condon tem em McKellen um dos seus intérpretes favoritos. Este é o terceiro filme dos dois juntos, após Deuses e Monstros (1998) – que valeu ao protagonista sua primeira indicação ao Oscar, além do prêmio da Academia para o cineasta, pelo Roteiro Adaptado – e Sr. Sherlock Holmes (2015). Em A Grande Mentira, o veterano continua no centro da trama, mas dessa vez divide esse lugar sob os holofotes com Mirren – e ela não está ali para brincadeira. Aliás, sua escalação para esse papel é tanto um acerto quanto um terrível engano. Pois, se por um lado entrega mais uma interpretação não menos do que notável, por outro apenas a sua presença é mais do que suficiente para que se suspeite de sua personagem, apontando para uma complexidade que o enredo se esforça desde o começo para esconder, mesmo que não seja completamente feliz neste intento.

Ainda durante os créditos de abertura, os dois são apresentados à parte, porém ambos envolvidos com a mesma atividade: preencher um cadastro de namoro online para pessoas na terceira idade. De imediato percebemos que ele não está sendo sincero nas informações que opta por exibir na internet, e tal observação irá se confirmar em seguida: Roy não passa de um trambiqueiro, que leva a vida aplicando pequenos golpes. O que poucos irão notar, no entanto, é que ela também não está sendo muito honesta: no instante em que clica na opção em que afirma ‘não beber’, por exemplo, serve-se de mais um cálice de vinho. Ou seja, nenhum é, portanto, exatamente aquilo que está apresentando ao outro. Mas o roteiro de Jeffrey Hatcher (A Duquesa, 2008) se esforça para exibir apenas o ponto de vista dele, deixando-a completamente desamparada pela audiência. Tal decisão, dentre outras dúvidas, levanta uma mais imediata: o que uma atriz como Helen Mirren estaria fazendo com uma figura tão apática, não fosse ela também dona de um segredo?

Assim, suspeita-se de ambos em cena: o senhor de joelho fraco que anda de bengala e aceita o convite para morar com ela, e também da viúva solitária em busca de companhia. Ele quer se apossar do patrimônio dela – um montante de quase 3 milhões de libras, algo bem considerável. Mas o que ela busca? Seria tão inocente para cair livremente na conversa dele? Ou teria a sua própria agenda diante de uma armadilha tão visível e mal dissimulada? As participações do neto Stephen (Russell Tovey, mais preocupado com o próprio ativismo LGBT do que em construir um tipo crível) e do comparsa Vincent (Jim Carter, incapaz de se dissociar da fleuma de Downton Abbey, 2019) são mais distrações do que acréscimos válidos à trama, inseridos apenas como tentativas vãs de iludir a audiência, ao invés de colaborarem com o desenrolar dos eventos ligados ao casal principal. A questão, portanto, é menos quem irá passar a perna em quem, mas o que cada um irá ganhar – ou perder – quando o golpe final for anunciado.

É raro encontrar no mercado produções do primeiro time de Hollywood – este é o primeiro filme de Bill Condon após o megassucesso de A Bela e a Fera (2017) – estreladas por septuagenários (ou octogenários). Somente por isso, A Grande Mentira mais do que se justifica. Mas um filme é feito por mais do que dois bons – excelentes – atores. E é justamente nisso que o conjunto aqui apresentado revela suas falhas. Por demais extenso, com reviravoltas além da conta e um flashback cansativo e desnecessário, o que poderia ter se resolvido com muito menos acaba por se perder diante dos excessos reunidos. Com mais confiança em Mirren e McKellen e menos alarde para o entorno que os circunda, o resultado teria tudo para ser positivo. Do jeito que está, no entanto, aponta mais para uma balança um tanto irregular: muitos acertos de um lado, e alguns tropeços difíceis de serem ignorados do outro.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
5
Francisco Carbone
3
MÉDIA
4

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