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Sinopse

Max teve uma infância humilde e conturbada, criado pela mãe e pelo avô. Através do judô, o garoto se envolve com os princípios das artes marciais e assim, trilha um caminho de superação e aprendizado, em uma história emocionante em busca de um sonho: disputar as Olimpíadas.

Crítica

Com o fortalecimento do cinema nacional a partir de sucessos como Tropa de Elite 2 (2010) e Se Eu Fosse Você 2 (2009) – ambos com muito mais de 5 milhões de espectadores (o primeiro alcançou o dobro desse número), quantia difícil de ser igualada – criou-se uma febre na produção cinematográfica brasileira a partir destes dois gêneros: o thriller policial e a comédia romântica. Recentemente, títulos como Alemão (2014) e S.O.S.: Mulheres ao Mar (2014) comprovaram com exatidão esta tendência. Esquece-se, no entanto, uma antiga tradição local de investir em bem sucedidas histórias reais e adaptá-las para a tela grande, como se bastasse o fenômeno verídico para que o mesmo efeito fosse alcançado dramaturgicamente – o que, convenhamos, raramente acontece. Pois é este exatamente o caso de A Grande Vitória, drama esportivo inspirado na trajetória do judoca paulista Max Trombini.

Abandonado pelo pai, dono de um circo itinerante, e criado com muito esforço pela mãe solteira e pelos avós maternos, Max foi um garoto problemático desde pequeno, que vivia procurando encrenca na escola e não levava desaforo para casa. Prestes a ser expulso do colégio graças ao histórico conturbado, encontra uma válvula de escape em cima de um tatame, a partir do momento em que é matriculado em uma escolinha de judô. Aos poucos tudo começa a mudar para ele, ao mesmo tempo em que vai crescendo o sonho de se tornar um atleta olímpico. Obviamente, atingir tal realização não será fácil, e no seu caminho ainda estará um primeiro confronto, já adulto, com a figura paterna, desentendimentos com seu tutor, a mudança de academia para aprimorar seu treinamento e, era inevitável, uma paixão que poderá colocar a perder todos os seus esforços até aquele momento.

Filmes como A Grande Vitória, cujo percurso deve ser composto por dificuldades, quedas, desilusões e uma consequente volta por cima, exigem um clímax envolvente, protagonistas dedicados e um conflito que realmente faça o espectador torcer pelo futuro dos personagens. Elementos esses que, infelizmente, inexistem no longa de estreia de Stefano Capuzzi Lapietra. É de se questionar até mesmo quais os verdadeiros motivos por trás de uma realização como essa, que não apresenta absolutamente nada de novo e, se como história individual é merecedor de reconhecimento, enquanto destaque nacional está longe de alcançar tal dimensão. Fala-se aqui não de um Pelé, de um Ayrton Senna, ou de um Aurélio Miguel ou Rogério Sampaio – os únicos judocas brasileiros a conquistarem ouro nos Jogos Olímpicos. Temos, no lugar, um jovem sofrido que, felizmente, superou as dificuldades de sua vida através do esporte. É um bom exemplo. Mas quantos como ele não existem por aí? O que o diferencia a ponto de merecer ter sua história contada, portanto?

Pra começar, o desenrolar das ações é por demais linear, sem surpresas nem reviravoltas, e mesmo quando há uma frustração, esta é anunciada com tamanha antecedência que ninguém chega a se surpreender. Caio Castro e Sabrina Sato são celebridades, artistas que se renderam ao estrelato e ao brilhar dos holofotes, e justamente por isso não podem ser vistos como intérpretes de respeito. Ela, ao menos, possui uma simpatia natural, e passa tão pouco tempo em cena – toda sua participação no filme deve se reduzir a menos de 10 minutos (5 no começo, e outros 5 no final) – que não chega a ameaçar o resultado, ao contrário dele, que possui um único tom de atuação, o mesmo que exibe em novelas genéricas e em entrevistas de programas de fofocas. Por fim, nota-se a ausência de um verdadeiro conflito para o filme: todos os propostos – a falta de dinheiro, o pai negligente, uma gravidez inesperada – são tão episódicos e facilmente solucionados que nem mesmo permitem que o espectador chegue a se importar com eles.

No entanto, nem tudo são desilusões em A Grande Vitória (o título, é bom deixar claro, é uma referência ao contexto, e não a uma situação específica). Tem-se mais uma rara oportunidade de conferir o grande Moacyr Franco (após uma premiada e efêmera participação em O Palhaço, 2011) em cena, numa atuação novamente mínima, porém marcante. Domingos Montagner, Suzana Pires e Tato Gabus Mendes são outros bons coadjuvantes, que pontuam a trama de forma competente. E em relação aos aspectos técnicos, há pouco o que se comentar, tanto para o bem quanto para o mal. Se o visual é televisivo, com muitos closes, uma luz chapada e uma trilha sonora persistente e sem nuances, ao mesmo tempo está longe de ser amador ou feito às pressas. É uma opção clara o formato assumido, e gostando-se ou não é preciso respeitá-lo e entender seus motivos. O que não dá mesmo é para encontrar motivos de orgulho em um filme chapa branca, que oferece pouco e exige menos ainda.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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