A História Pessoal de David Copperfield
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Armando Iannucci
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The Personal History of David Copperfield
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2019
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Reino Unido / EUA
Crítica
Leitores
Sinopse
Por conta de sua origem, David Copperfield precisa atravessar um mundo caótico para encontrar seu lugar. Em meio a essa trajetória árdua, ele descobre um imenso talento para contar histórias e se depara com o amor.
Crítica
Há certo charme na excentricidade com a qual o cineasta Armando Iannucci leva às telonas um dos livros mais importantes do escritor Charles Dickens. O protagonista é David Copperfield (Dev Patel), órfão de pai que vive desventuras na Inglaterra vitoriana. Obrigado a sair de casa após exibir incompatibilidade com o padrasto linha-dura, ele é levado a Londres, onde passa a morar com uma família acostumada a fugir de credores. A infância miserável, também presente em outros escritos de Dickens, tais como Oliver Twist, é aqui atenuada pelo tom levemente exagerado das tramas contadas pelo sujeito empenhado em entreter uma plateia. A História Pessoal de David Copperfield é uma comédia com toques burlescos, na qual os problemas sérios são edulcorados com ligeiros toques de fábula. Levando em consideração que estamos testemunhando o fruto de um relato subjetivo, logo dado a hipérboles, subtrações e outras operações comuns, é, no mínimo, surpreendente – embora o espanto seja mal explorado, apenas mostrado no fim –, que a realidade seja quase igual. O filme acumula situações despojadas de densidade, impondo-se como um conto de vigor moderado.
A História Pessoal de David Copperfield é repleto de figuras que poderiam render melhor, se conduzidas por alguém dotado de uma leitura poética diante das esquisitices. Por exemplo, Wes Anderson provavelmente extrairia muito mais dessa pegada extravagante, especialmente pela disposição por trabalhar aspectos formais em consonância com as singularidades do aspecto humano. Armando Iannucci, cineasta experiente na televisão – é um dos criadores do seriado Veep (2012-2019) – se contenta em mostrar a peculiaridade das pessoas, não criando um universo próprio à espessura dessas características. Voltando a David, ele adentra na vida adulta e se depara com problemas não tão diferentes dos enfrentados enquanto ainda era uma criança. Mas, não há a investigação de seu martírio. Nem mesmo nos instantes mais dramaticamente intensos o realizador coloca em risco a possibilidade de uma reviravolta. No frigir dos ovos, se trata, curiosamente, de uma produção em que o otimismo prevalece sobre qualquer obstáculo enfrentado. Assim sendo, perde-se em consistência dramática. É privilegiado o âmbito da invenção, daquilo que ultrapassa os limites da verdade.
Um dos grandes trunfos de A História Pessoal de David Copperfield é o elenco estelar. Dentre os nomes famosos, se destacam Tilda Swinton, como a tia dada a espantar os burros de sua propriedade; o primo avoado interpretado por Hugh Laurie; e o criado humilde com manias de grandeza encarnado por Ben Whishaw. Sempre que um deles está em cena, Dev Patel empalidece, principalmente por que Armando Iannucci o reduz ao papel daquele que observa e alinhava os outros. David Copperfield não tem suas características demarcadas tão fortemente como seus coadjuvantes, virando apenas um sujeito que lança mão de estratagemas para não sofrer mais. Seu envolvimento com a filha do benfeitor, algo verbalizado como profundo e intenso, não é convincente. Aliás, toda essa dinâmica do verdadeiro amor velado pelas conjunturas urgentes, ameaçado por um interesse colateral aparentemente arrebatador, é mal desenvolvido pelo realizador. No fim das contas, é como se o protagonista fosse espectador da própria história, pois esta vale o quanto pesam todos os demais. As cerca de 1300 páginas do romance (contando a última edição brasileira) são cobertas bastante às expressas.
Aproximando-se de outros exemplares de época que têm traços de contemporaneidade – tais como a série The Great (2020-) e o filme A Favorita (2018) – A História Pessoal de David Copperfield não busca a veracidade histórica, propondo um para-realismo. Tanto que apresenta um elenco multirracial, sem que a diversidade se torne debate. O fidalgo branco é filho de uma mãe negra e isso não causa qualquer estranheza. Benedict Wong, britânico de ascendência asiática, interpreta um endinheirado, pai de uma filha que não exibe o fenótipo oriental. Tampouco isso se transforma num ruído. Pelo contrário, pois faz parte da estilização delineada por Armando Iannucci, cujo maior equívoco parece ter sido querer condensar em 120 minutos o volume considerável de histórias contidas no calhamaço de origem. Isso se reflete no pouco tempo para as situações amadurecerem antes de dar vez às próximas (de teor similar), numa rapidez excessiva que faz grandes problemas se transformarem em pequenos obstáculos. Nessa tentativa de acentuar o humor e relegar a tragédia ao segundo plano, o cineasta repete desnecessariamente certas gags (como David batendo a cabeça na antiga casa para mostrar que ainda tem uma perspectiva infantil) e passa desembestado por quase tudo por ali.
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A crítica é por demais benevolente com esse filme chato até não mais poder. Acho que funcionaria bem num palco mas como filme deveras fragmentado e desconexo. Não é nem um pouco engraçado nem muito menos biográfico. Salvo o figurino que até então não segura o filme nem muito menos o esforço incomensurável de Dav Patel com a interpretação e não convence. Em nenhum momento se encontra o espírito do livro exceto alguns murmúrios desalentadores. A diversidade étnica também funcionaria no teatro novamente. Insisto nisso porque o modus operandi do teatro raramente funciona para cinema. Cortes impresicisos e tomadas que poderiam ser brilhantes se perdem na desatenção da direção de arte e fotografia. Tilda maravilhosa atriz parece que vai ficar marcada por caricaturas exóticas. Destaque positivo para o figurino e paleta de cores. E só.
A capa do filme, assim como o nome, é capciosa. Não há como não relacionar o nome David Copperfield ao mágico considerado o mágico dos séculos. Poderia ser qualquer outro nome, mas usar do nome David Copperfield foi uma conduta deplorável. Tenho certeza: 99% dos que procuraram assistir, relacionaram o filme ao Mágico, achando se tratar da história pessoal do mágico.