Crítica
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Sinopse
Johnny Smith desperta depois de passar cinco anos em estado de coma. Enquanto tenta entender o mundo que o acolhe de volta depois de tanto tempo, ele ainda precisa aprender como lidar com seus novos poderes psíquicos.
Crítica
A obra de Stephen King serviu de base para diversas adaptações cinematográficas nos anos 1980, período em que o autor se estabelecia no cenário literário norte-americano, enquanto o cineasta David Cronenberg flertava pela primeira vez com o mainstream do cinema hollywoodiano. O encontro entre ambos resultou no suspense sobrenatural Na Hora da Zona Morta, que é eficiente ao ratificar a atmosfera enigmática das histórias de King, mas carece da inventividade e ousadia recorrentes nos primeiros trabalhos de Cronenberg. No filme, quando o professor de literatura Johnny Smith (Christopher Walken) acorda do coma causado por um acidente de carro, descobre que os anos perdidos lhe trouxeram uma habilidade psíquica singular: ao tocar em alguém, ele pode prever o futuro. Enquanto se vale das premonições para colaborar com a polícia, ele descobre as intenções perigosas de um político aspirante à presidência dos Estados Unidos (interpretado por Martin Sheen) e decide impedi-lo a qualquer custo.
Ainda que apresente uma direção segura a serviço de uma estética polida e competente, Na Hora da Zona Morta permanece como um dos projetos menos destacados na filmografia de Cronenberg, principalmente pelo enredo modesto e primário da história de King. Com a mesma construção episódica que assombra muita das adaptações dos livros do autor, o suspense parece comedido ao assumir algumas características de thriller psicológico; muitos conflitos e sequências são intrigantes como deveriam ser, porém pouco acrescentam ao filme como um todo.
Cronenberg dedica seu principal enfoque aos personagens e como suas vidas são afetadas pela condição psíquica de Johnny ante o fenômeno em si. No entanto, o roteiro de Jeffrey Boam, de Máquina Mortífera 2 (1989) e Indiana Jones e a Última Cruzada (1989), não demora a transparecer um patriotismo exacerbado: na primeira oportunidade, seu protagonista se sacrifica pelo bem comum da população de seu país, ameaçada por um político ambíguo e psicótico. Dado curioso: Cronenberg é canadense e a primeira vez que filmou nos Estados Unidos foi em Mapa Para as Estrelas (2014). Um mérito incontestável do suspense está no desempenho de seus atores, em especial Walken, que retrata realisticamente um homem comum confrontado por situações extraordinárias. Vencedor do Oscar como o assombrado Nick, de O Franco-Atirador (1978), o ator reitera aqui sua presença marcante e enigmática que serve bem para Johnnie, assim como uma sinceridade inerente que transparece mesmo nas mais pequenas nuances. Brooke Adams não compromete e revela uma ótima química com o ator nas cenas que eles compartilham, seja nos momentos românticos ou em outros mais truncados. Por fim, o Stillson de Martin Sheen parece beirar o exagero e a caricatura, mas o ator demonstra segurança para levar seu personagem sempre até o limite, mas sem nunca excedê-lo.
Quando realizou Na Hora da Zona Morta, David Cronenberg já possuía uma carreira estabelecida como um autor relevante dedicado ao cinema fantástico, mas sua presença na direção não é percebida em muitos sentidos satisfatórios – talvez por conta da temática particularmente distante do universo de suas obras anteriores. Mesmo assim, o realizador projetou humanidade e realismo a partir de seus personagens, características que retornariam ao seu cinema e deixariam o grotesco e surreal de seus próximos filmes muito mais palatáveis e instigantes.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Conrado Heoli | 5 |
Ailton Monteiro | 7 |
Bianca Zasso | 8 |
Chico Fireman | 7 |
Alex Gonçalves | 8 |
MÉDIA | 7 |
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